125

1.4K 263 252
                                    

No quinto mês começou a batalha, comecei a químio com muito acompanhamento do meu medico da gravidez. Eu entrei com confiança, mas o medo dentro de mim não cessava ainda mais com o passar dos dias.

Nas primeiras semanas eu comecei a sentir muita náusea e vômito, além do que eu já sentia por conta da gravidez. Depois veio uma diarreia braba. Era quase impossível trabalhar, então tive que sair do meu emprego. E também era quase impossível cuidar da minha filha, então também precisei de muita ajuda.

Foi um mês muito difícil, até pra mim que estava lidando melhor com tudo isso. Ás vezes eu chorava no canto com medo e ás vezes o sentimento era de apenas confiar em Deus de que ia dar certo.

Matheus me ligava dia e noite e ele com Duda e Jade com Phelipe me ajudavam muito com Tina, mas Sarah era fenomenal, passou dias em claro comigo cuidando de Tina enquanto Patrick descansava, porque coitado...

Patrick se esforçava de uma maneira que nunca o vi antes. Ele acordava cedo, trazia café quentinho pra me agradar, cuidava de Tina em todos os aspectos cansativos, saia pra trabalhar, voltava antes pra fazer o jantar e passava a noite com nossa filha quando ela não cooperava.

Além disso tudo, não soltava a minha mão um segundo sequer quando era pra receber alguma notícia, seja ela boa ou ruim, em todas as consultas ele fazia questão de estar presente, tanto da gravidez quanto sobre o câncer. E quando não dava pra ele ir, ele se culpava tanto, nem eu sabia como o confortar.

No sexto mês as coisas melhoraram. Graças a Deus era o tempo de descanso da químio. Eu consegui ter mais força pra ficar com minha filha, acompanhá-la em suas primeiras novidades e pelo menos visitar as aulas de dança com as novas professoras de dança.

Dizia Patrick que partia seu coração me ver apenas observar e não estar à dançar, mas eu assistia tão feliz e com tanto amor que nem me importava de não estar como tutora. As meninas também me amavam e todo aquele carinho me fazia bem demais, eu adorava ir pra lá com Tina.

Nós também adiantamos a festinha de aniversário pra Tina porque nós sabíamos que os próximos meses seriam os mais difíceis. A barriga, mais químio e ainda viria o parto.

Ficou tudo lindo demais e eu amava rever as fotos do dia. Eu era muito apaixonada na minha família que eu conquistei do nada, num piscar de olhos. Antes eu tinha medo de fugir do meu controle e não ser do jeito que eu imaginava, mas aconteceu da melhor forma. Na nossa casa não tinha nada a não ser amor, carinho, felicidade e esperança.

Apesar de ter sido um mês bom, era só eu me trancar no banheiro sozinha e me olhar no espelho que eu enxergava os efeitos da quimioterapia. Hematomas pelo corpo, feridas na boca, minhas unhas estavam deterioradas e meu cabelo ia caindo cada vez mais, mas eu seguia com fé.

No sétimo mês voltamos pra luta. Voltei pra quimioterapia e com ela, dessa vez, me veio o cansaço. Eu me sentia cada vez mais incapaz de fazer as coisas, a barriga que crescia pesava dez vezes mais e meu cabelo... bom, meu cabelo não se sustentava mais.

Eu ainda tinha o sorriso no rosto, mas alguns dos meus amigos não tinham mais. Matheus evitou de me encontrar, todas as vezes que Eduarda conversava comigo eu via lágrimas em seus olhos, Jade queria morar na minha casa pra me ajudar em absolutamente em tudo e Phelipe todo dia me aparecia com um tipo de pesquisa diferente sobre tratamentos.

Sarah e Patrick se tornaram minha base, além da minha filha, é claro. Eles me ajudavam, mas também faziam eu me sentir capaz e tinha esperança, planejavam o futuro, planejavam viagens, acreditando na minha vitória.

E o cansaço era o meu pior inimigo. Patrick decidiu vender a academia pra ficar mais comigo, é claro que eu fui contra, mas quem consegue o contestar quando já estava decidido? Daniel não fez questão nem de um centavo e com isso nós compramos uma casa em São Paulo.

Foi uma despedida e tanto aqui no Rio de Janeiro, fizeram um grande festão que foi gratificante demais, mas que eu não aguentei ficar nem por duas horas.

Por vezes eu me sentia culpada por essa vida que o Patrick estava levando com poucos anos de idade, mas ele me proibiu de pensar qualquer coisa parecida e estava certo.

No oitavo mês estávamos estabelecidos na nossa nova casa. Era incrível, confortável e a cara daquelas casas tradicionais do EUA. O quartinho da nossa Scarlet estava pronto e Tina estava encantada com o quarto feito especialmente pra ela. Além disso, por ser tão grande, ainda tinha um quartinho pra Sophia.

Seria só mais uma semana de quimioterapia antes da grande pausa pro final da gravidez, mas meu cabelo não aguentou. Eu já não tinha mais meus lindos cabelos, ás vezes tinha vergonha, mas depois meu namorido me lembrava do tamanho da minha beleza, por dentro e por fora, e eu voltava à ativa.

Não posso mentir, as forças eram quase nula, mas eu aguentaria. Marcamos um final de semana com nossos amigos pra eles conhecerem a nossa casa e passar um tempo com a gente e eu estava animada pra isso. Isso me fazia reerguer.

Não que as pessoas por São Paulo não estivessem me apoiando, até porque estavam. Minha mãe era sensacional e eu só pude ver o quão foda ela era como enfermeira depois de ser sua paciente. Além dela, tinha Daniel e Laura que também eram essenciais.

Eu só sabia de uma coisa, eu até podia ser forte, ser corajosa, ser feliz e positiva, mas sem toda essa equipe de suporte que Deus me deu eu não seria tudo isso com tanta potência.

Era uma vez, AliOnde as histórias ganham vida. Descobre agora