último capítulo

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ALICIA

Morrer não foi difícil, difícil foi deixar todas as pessoas que amo pra trás. Ver Scarlet com dias de vida ser balançada no colo da minha mãe triste e Tina brincando com Patrick quando ele nem tinha forças pra brincar era doloroso.

Até que encontrei com meu pai. Sim, com meu querido pai. E ele me apresentou um universo mais bonito do que aquele que deixei. As coisas eram coloridas, vívidas, só de andar você escutava risadas serenas soando no seu ouvido assim como os pássaros comemorando a liberdade.

Apesar de ter escutado quase todos os dias da minha vida comentários sobre meu sorriso, acho que nunca sorri tão bonito na vida até pra mim quando enxerguei a beleza daquele lugar.

Meu pai me mostrou o inacreditável, o perfeito e pra muitos o irreal, que era mais surreal do que qualquer outro imaginaria. E não foi só meu pai que me acompanhou nessa jornada, a mãe de Matheus também.

Eu andei pelos bosques e vales desejando sentir o cheiro daquelas flores pro resto da minha vida espiritual, mas lá também tinha trabalho a se fazer. Eu estudei, li livros, aprendi a volitar e principalmente aprendi a escutar as vozes elogiosas daqueles que foram minha família.

O meu pai que me ensinou em palavras o valor da vida e me ensinou a acreditar em Deus, depois me mostrou de maneira física o que realmente importava e existia. E aquilo preencheu meu coração todinho de amor.

Lá não existiam choros, tristezas ou dores e se por algum motivo você sentisse isso, logo era concertado. A primeira vez que senti foi quando ouvi Tina chorando bem baixinho sussurrando o meu nome e dizendo algumas palavras.

Eu nunca tinha escutado tão bem antes e nesse dia eu quis voltar a viver e aquilo me causou dor. Eu não esperava que ela fosse sentir tanto por não ter me conhecido direito, mas depois entendi que foi em um dia que meu amor contou da nossa história.

Eu chorei subconscientemente e logo em seguida senti a mão do meu pai descansando em meu ombro e sua voz calma e serena acalmou minha dor e nesse dia, eu aprendi a visitar minha família.

Naquele dia, em pé observando quando ninguém me via, vi todos que amava sentados em uma mesa de jantar rindo e comemorando. Eu queria gritar de felicidade e dizer "eu estou muito orgulhosa de vocês" mas não conseguia.

No primeiro minuto me desesperei, mas aquele toque em meu ombro fez eu me acalmar novamente e escutar o que eles diziam.

Descobri que o meu grande amor estava namorando e senti alívio em meu coração. Quis gritar "eu te agradeço, Sarah, sejam felizes!" mas não consegui e me bateu aflição, mas me mantive intacta observando os momentos.

Eles resolveram sentar no tapete como eu fazia com as meninas pra beber e nossa... aquilo mudou minha jornada desencarnada. Escutei tantas coisas boas, tantas lembranças e o melhor de tudo, escutei a risada das minhas queridas filhas. E eles estavam felizes. Foi como me acalmar permanentemente.

Depois todos foram embora, minhas filhas deitaram juntinhas como melhores amigas no sofá pra assistirem desenho e como eu queria fazer carinho nas duas... foi quando escutei:

— Você sabia que temos uma mãe incrível? — Tina cutucou Scarlet pausando o desenho.

— Você conheceu ela? — perguntou com aquela vozinha esperançosa.

— Mais ou menos. — ela disse tristonha. — Mas eu a sinto.

— Eu não. — Scarlet negou. — Mas sabe de uma coisa? Ela aparece nos meus sonhos. Acho que é por causa do áudio que papai coloca com a voz dela pra gente dormir.

— Como? — Tina franziu a sobrancelha.

— Ah, em forma de flor, ás vezes de sol e ás vezes como borboleta. — ela contou sorrindo. — Eu sei que é ela porque eu sempre escuto um "te amo".

— Que legal! — Tina riu. — Dá próxima vez você diz que eu amo ela?

— Diz você! — ela falou. Tina emburrou cruzando os braços e Scarlet sorriu na minha direção.

Eu arquei a sobrancelha e me aproximei dela. Ela continuava sorrindo e meu coração disparou, ela estava me vendo?

Em segundos ela piscou pra mim, soltou uma risadinha alta e voltou a prestar atenção no desenho que a irmã tinha colocado de volta.

Senti meu corpo queimar e se arrepiar, era oficial e eu tinha certeza, ela tinha me visto. Aquela mão tocou no meu ombro de novo e acalmou minha ansiedade.

Me recompus e andei até a porta da sala de estar, Patrick se despedia de Sarah. Ele acenou pra ela de longe e entrou fechando a porta.

Eu caminhei pra perto dele, toquei em seu ombro, mas não sentia nada. Ele paralisou pensativo e eu quis dizer "ei, eu tô aqui!" mas sussurrei um "eu te amo" sem esperança de uma resposta até vê-lo sorrir.

— Precisamos voltar! — a voz do meu pai ecoou no meu ouvido.

Eu assenti deslumbrada com tudo isso que tinha acontecido e peguei na mão dele. Quando abri os olhos me encontrei naquele lugar de paz, dessa vez com o meu coração confortável e aceito.

Eu tinha cumprido minha missão de vida, espalhei amores e afetos por aí e vivi o bastante pra amar e ser amada também. Eu estava bem.

E no final entendi como aquelas sensações tinham acontecido... eles me mantinham viva em seus corações e no meu eles sempre me sentiriam. Estávamos juntos pra sempre e enfim, felizes.

Era uma vez, AliOnde as histórias ganham vida. Descobre agora