Capítulo 6

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Desde que Briallyn — a rainha humana que entrou no Caldeirão — foi Desfeita, Elain Archeron não teve uma noite de paz.

Ela não entendia aquilo. Nestha havia devolvido o que tomou do Caldeirão, as Archeron deveriam ter sido deixadas em paz. Ela deveria ter sido deixada em paz.

Mas não, isso não aconteceu.

Agora, os pesadelos que ela demorou a aprender como controlar pioravam dia após dia, como se alguma força externa trabalhasse pessoalmente para tornar suas noites um inferno. Essa, no entanto, era a parte fácil de lidar: uma mistura de ervas calmantes poderosas costumava ser o suficiente para protegê-la de sonhos ruins e garantir uma noite de sono decente.

A pior parte eram as visões, que haviam voltado depois de tanto tempo de um silêncio reconfortante. Elain só sabia que havia tido uma visão ao acordar, pois conseguia lembrar de cada detalhe, como se ficassem queimados a ferro em sua mente imortal.

Com o tempo, ela notou um padrão. As visões eram marcadas pela presença de uma loba vestindo pele de corça, que era atacada por uma força sombria. Depois, ela via toda Prythian banhada em sangue, o som de aço encontrando aço, pessoas esbravejando de coragem e caindo para ferimentos mortais. Quando acordava, a Archeron era capaz de sentir um cheiro pútrido e odioso por todo o seu quarto.

Meses atrás, ela não teria hesitado em contar a Azriel sobre as visões. Ele sempre estava disposto a ouvir o que ela tinha a dizer, não importando o quão perturbador soasse. Desde o aniversário de Feyre, porém, tudo estava diferente: o encantador de sombras parecia evitá-la, ainda que lhe lançasse olhares contidos. Elain não entendia o motivo do afastamento e tentou falar com ele diversas vezes, chegando ao ponto de conversar com as sombras de seu quarto. O resultado era sempre o mesmo: nada, sem resposta, apenas silêncio e solidão inquietantes.

Sem tê-lo como opção, ela se fechou mais, como uma flor que murcha para uma doença desconhecida, que se recusa a abrir e receber a luz do sol.

Apesar de ter suas irmãs, sabia que elas não entenderiam. Sempre que sofria, as duas não reagiam bem, e então não seria sobre os pesadelos e visões dela, mas sobre o que eles significavam e o quanto a Archeron do meio poderia estar afetada e em perigo, sem contar os riscos para a Noturna. Logo, as irmãs se empenhariam tanto em ajudar e proteger que a deixariam sufocada; isso sem citar o Círculo Íntimo, que se veria na obrigação de colocá-la numa redoma, tudo para o bem-estar de Feyre e Nestha.

Então, havia ele. Seu parceiro renegado, Lucien. Ela não o via desde o Solstício, quando lhe presenteou com brincos de pérolas e pareceu desapontado pela falta de reação dela.

Elain o evitava desde o momento em que foi Feita, quando ele reconheceu instantaneamente o laço de parceria. Na época, ela estava profundamente apaixonada por Graysen, entregara sua pureza a ele e, durante a guerra, teve seu coração quebrado pelo desprezo que o ex-noivo fez questão de expressar tão vividamente.

Como sempre, sua irmã mais velha se encarregou de erguer uma muralha ao redor dela, tendo a ajuda de Feyre para isso. Elain não duvidava, mesmo por um segundo, que ambas se encarregaram de intimidar e reprimir cada tentativa de avanço de Lucien, assegurando que “a mais frágil das irmãs” permanecesse imperturbada em seu luto e tristeza infinitos.

Às vezes, gostaria de ser como elas: poderosas, corajosas e capazes de queimar o mundo até as cinzas pelo que acreditam e amam. Mas ela era apenas uma jardineira, criada para ser um rosto bonito, uma dama recatada e delicada.

Como sempre havia se curvado à vontade dos outros, convenceu-se que era melhor assim. Seu desejo de reconquistar Graysen — somado ao desgosto de Nestha pela vida feérica — fez com que ela demorasse a aceitar aquela nova realidade e a ideia de um parceiro, alguém cuja alma ela estava destinada a amar incondicionalmente.

Então havia Azriel, que foi atencioso e cauteloso e, acima de tudo, não a tratou como uma louca inválida. Ele entendia o que era ser diferente, ter um dom que assustava as pessoas, ouvir coisas que não deveria e saber além do que era esperado.

Todos esses pensamentos corriam livremente pela mente da jovem feérica, quando ela foi tirada de seus devaneios. Fungando, arregalou os olhos ao sentir o familiar cheiro pútrido, o odor de morte, sofrimento e escuridão, que seguia suas visões nos últimos meses.

Ela estava sozinha no jardim, a Casa do Rio milagrosamente silenciosa, pois as gêmeas haviam levado Nyx para um passeio nas praças da cidade.

Elain estremeceu, sentindo sua nuca queimar como se alguém a observasse em silêncio. Devagar, ela se virou para a fonte que ficava no centro do jardim, dois espectros d'água feitos de mármore decorando-a.

Pavor puro apoderou-se dela, diferente do que sentiu ao ser raptada de sua cama no meio da noite. Mais selvagem e aterrador do que quando foi atirada no Caldeirão e seus ossos e sangue foram Feitos.

— Olá, irmã — a voz era feminina e sussurrada, mas animalesca como um grunhido selvagem.

Parada diante dela, escuridão pura a encarava, diferente dos poderes sombrios de Rhysand e Feyre mas, de algum modo, semelhante. Pássaros alçaram voo, fugindo, e a coisa lançou uma onda de poder, que se espalhou na direção da cidade, como se quisesse anunciar para cada habitante da Noturna que estava ali. Por ela.

Elain Archeron gritou ao sentir o impacto, ouvindo várias vozes diferentes berrarem em sua cabeça. Ela usou todo o seu fôlego para isso e, quando ia tomar mais ar, a coisa avançou.

Então, tudo se calou.

Estão gostando da história? Comentem suas opiniões sobre o que vai acontecer e o que acharam do capítulo, agora é que vai começar a ação de verdade!

Deu pra perceber que a Elain não está nada bem, né? O próximo capítulo deve ser na perspectiva do Lucien e provavelmente vai ser lançado semana que vem (deveria ser sábado, mas como atrasei essa atualização, vou deixar a próxima pra semana que vem e aproveitar pra desenvolver direitinho a história).

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- Anny Fireheart

Corte de Melodia e Luz Escarlate - ACOTARWhere stories live. Discover now