Capítulo 31

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Tinham vindo trocar sua comida três vezes, o que provavelmente significava que três dias haviam se passado desde que fora torturada e acordara em sua cela. Agora, ela ao menos conseguia se levantar sem que seu mundo girasse e seu corpo ameaçasse apagar de dor.

O vestido indecente que deram a ela estava manchado com o sangue que escorreu de suas costas, a abertura permitia que o frio a abraçasse e, se isso não bastasse, a roupa em si possuía fendas que também não ajudavam a protegê-la do clima. Se o frio não a matasse, então havia a probabilidade de uma infecção ou hipotermia. As possibilidades eram infinitas e se fosse contar suas chances de sair dali com vida, então já era uma fêmea morta.

Passos soaram ao longe, o que a fez despertar de seus devaneios febris e se encolher no canto mais distante possível da porta, como se isso pudesse evitar que chegassem até ela e lhe fizessem mais mal. Não evitou. Poucos segundos depois, Kaileen e Dinah entraram em sua cela, novamente com baldes e sacolas nas mãos.

Dinah deixou as coisas que trazia perto da porta, então se aproximou de Elain a passos largos. Ela se abaixou, sentando-se sobre os calcanhares e encarando os lindos olhos castanhos da Archeron.

— Vou tirar essas algemas e curar você — avisou suavemente, ou tão suavemente quanto conseguia ser. Geralmente, ela era dura como aço e não mostrava nada além de indiferença ou frieza.

Esperança brilhou furiosamente no coração de Elain, tanta que seus olhos lacrimejaram. Iriam finalmente libertá-la?

— Não se iluda, vadia — debochou Kaileen, se aproximando enquanto Dinah começava a desalgemar Elain. — Só estamos fazendo isso porque o mestre não gosta de se divertir com brinquedos quebrados.

A loira desembainhou uma adaga dourada, que reluzia mesmo na escuridão da cela, e ficou atrás de Elain, posicionando a arma no pescoço dela. O frio da lâmina causou arrepios por seu corpo igualmente gelado.

— Se tentar qualquer tipo de gracinha — sussurrou no ouvido dela —, não vou hesitar em cortar seu lindo pescoço — mordiscou a orelha da Archeron, como se fossem amantes em um jogo de sedução.

Elain suspirou, tentando conter o medo que fazia seu estômago embrulhar. Kaileen não estava brincando, sabia bem disso.

— Só tente não matá-la — resmungou Dinah, terminando de tirar as algemas de Elain. — Eu odiaria ter que explicar isso para o mestre.

Depois de tanto tempo sem qualquer sinal de sua magia, Elain havia se esquecido de como era. Aquilo havia sido o mais próximo que tinha estado de sua humanidade em tanto tempo, sem qualquer sinal de seus poderes e das habilidades sobre humanas que ser feérica lhe proporcionava. Mas agora... a magia a inundou e preencheu, uma onda tão avassaladora que ela teve de se firmar com as mãos para não cair.

Kaileen grunhiu para que ficasse parada, mas Elain mal conseguiu ouvir, como se estivesse submersa na magia que fluía em suas veias imortais, os ouvidos abafados e a cabeça zonza. Pelo canto de olho, conseguiu ver quanto Dinah se posicionou ao lado da loira e começou a trabalhar em suas feridas.

Calor se espalhou por suas costas, aliviando as dores que ainda sentia. Sem as habilidades feéricas de regeneração, seu processo de cura era tão lento quanto o de um humano. Ela não sabia que sentia tanta falta de ser feérica até finalmente se ver incapaz de acessar as habilidades que antes considerava uma maldição.

O laço estava ali, brilhando com alegria e calor em seu peito. Um fio preso à sua costela, era como se parecia, estava ali brilhando e saltitando dentro de si, feliz por enfim voltar. Uma ponte entre a sua alma e a de Lucien, uma que ela havia ignorado durante todo aquele tempo. Também havia sentido falta daquilo, da companhia silenciosa que aquele laço representava.

Inconscientemente, sem sequer pensar no que estava fazendo, ela puxou. Não tinha ideia de como havia feito aquilo, sequer sabia que tinha o conhecimento para fazer tal coisa, mas ela o fez. Puxando três vezes, Elain torceu para que Lucien pudesse sentir, mesmo com todo um oceano de distância.

Estou viva, estou viva, estou viva”, era o que esperava passar com aqueles puxões determinados.

Três minutos inteiros se passaram. Minutos tensos, enquanto Kaileen segurava uma adaga contra seu pescoço e Dinah curava suas costas, completamente ignorantes ao que ela fazia. Ignorantes ao fato de que, sem as algemas, ela conseguia contatar seu parceiro.

Elain estava quase desistindo quando a resposta veio. Um incômodo cresceu em sua costela, como se Lucien tivesse literalmente puxado aquele fio invisível preso a uma delas. A Archeron precisou morder a língua para se impedir de arfar ou se contorcer. Aquilo era estranho, mas não exatamente ruim, apenas diferente.

Onde você está? Onde você está? Onde você está?”, jurou que os três puxões de resposta queriam dizer.

Ela não sabia onde estava, tão pouco como poderia explicar através de puxões no laço a sua localização. Infelizmente, não teve tempo para elaborar um método de passar a resposta para seu parceiro.

Dinah se afastou, Kaileen ainda mantendo a adaga firme no pescoço dela.

— Acho que terminei. Mexa os ombros — ordenou a dona dos hipnotizantes olhos azuis.

Hesitando, temendo sentir aquela dor alucinante novamente, Elain obedeceu. Nada, como se nunca tivesse recebido chicotadas antes.

— Ótimo, agora podemos arrumá-la para o mestre — resmungou Kaileen, claramente entediada.

Dinah se aproximou para colocar as algemas no lugar, ao que Elain se encolheu involuntariamente. A loira grunhiu em aviso, enquanto pressionando com mais força a lâmina. A vidente cedeu, sabendo que era melhor não lutar. Ela lançou um último puxão pelo laço, forte e destemido.

Me encontre”, dizia de forma desesperada.

Poucos segundos antes de Dinah fechar a primeira algema em seu tornozelo, veio a resposta de Lucien. Um puxão tão forte quanto o dela, cheio de determinação e o que Elain jurou ser um lampejo de preocupação. Que tolice, como se o ruivo pudesse ter qualquer sentimento por ela, depois de tanto tempo o ignorando avidamente.

Vou te encontrar”, era o que o Príncipe do Outono prometia com aquele puxão final.

Foi aqui que pediram migalhas Elucien?
Desculpem pela demora, demorei um pouco pra conseguir colocar as coisas em ordem depois das provas. Consegui passar em todas as matérias, só falta o resultado de um relatório e então estarei oficialmente de férias!
Com isso, vou ter muito tempo livre pra escrever e, se tudo der certo, zero bloqueios criativos pela frente.
Obrigada pelo apoio e pela paciência!

- Anny Fireheart

Corte de Melodia e Luz Escarlate - ACOTARWhere stories live. Discover now