Capítulo 47

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No dia seguinte, Lucien se dirigiu novamente para o ringue de treino, carregando no ombro uma mochila com o que ele pretendia levar para as terras mortais. Não tinha colocado muita coisa dentro da bolsa, pois pretendia voltar no alvorecer seguinte, se tudo ocorresse conforme planejava.

Quando chegou à área designada para os treinos, o céu ainda escuro pois não tinha amanhecido, ficou surpreso ao encontrar Gwyn e Azriel já o esperando. Pelo visto, o encantador de sombras tinha aprendido com o erro do dia anterior e garantido que não afetariam o tempo do seu treino de novo. Talvez a ruiva tivesse dado uma bronca nele, o que Lucien daria tudo para ter visto. De um jeito ou de outro, o importante é que estavam ali no horário combinado.

— Bom dia, senhorita Berdara — cumprimentou, inclinando o queixo para baixo no esboço de uma reverência respeitosa. — Encantador de sombras.

Gwyn retribuiu o cumprimento, ao passo que Azriel fez pouco mais do que dirigir o olhar para o ruivo, antes de caminhar na direção da lateral do ringue, onde se sentou da mesma forma que fez no dia anterior. A sacerdotisa já estava descalça e pronta para o treino do dia, parecendo até mesmo ansiosa com a perspectiva de uma nova lição.

— Como foi o passeio com os pégasos? — indagou ele, vasculhando a bolsa atrás de uma vela.

Se pudesse, Lucien teria ido com eles. No entanto, ele evitava até mesmo a menor aproximação com Helion, pois temia que se olhasse por tempo demais, o Grão-Senhor acabaria descobrindo o parentesco entre eles. O ruivo ainda não tinha decidido o que faria com aquela informação tão chocante, se sequer tomaria alguma atitude de fato. Por isso, tinha se contentado em repetir o que tinha feito toda a sua vida, desde o momento em que o coração de Jesminda parou de bater: ele deu as costas para o assunto e fugiu.

— Foi... Muito bom — murmurou Gwyn, sem parecer inclinada a dar maiores explicações.

Lucien arqueou uma sobrancelha, não acreditando completamente no que ela dizia. A ruiva tinha parecido muito ansiosa para o passeio, pelo que ele se lembrava, então aquela indiferença era bastante intrigante e incomum. Além disso, Gwyneth costumava ser uma fêmea falante e expressiva, bem diferente do que demonstrava naquele momento.

— Os pégasos não foram amigáveis? — questionou Lucien, tentando descobrir o que havia acontecido.

— Eles foram, sim — cedeu ela, esboçando um sorriso pequeno ao lembrar do dia anterior. — Consegui montar um, inclusive. Sirius, um pégaso muito bonito, espirituoso e inteligente.

Apesar do esboço de sorriso, Gwyn ainda estava longe de sua usual animação radiante. Ela costumava ser bem mais alegre, sempre animada e cheia de vida. Aquela à frente dele era uma triste sombra da original, ainda que a sacerdotisa parecesse se esforçar para disfarçar o seu humor.

— Ah, sim — murmurou Lucien, indo para perto dela no ringue e colocando a vela no bolso. Ele tirou as botas sem se abaixar, usando os pés para puxá-las a partir dos calcanhares. — Ouvi dizer que são criaturas muito espertas. — O ruivo esfregou as mãos, parecendo animado para o treino. — Então, está pronta para começar?

Ele pegou de seu bolso a vela que havia buscado, oferecendo-a para Gwyneth.

— Sim — respondeu em prontidão, pegando a vela da mão estendida do ruivo, idêntica àquela do dia anterior.

— Quantas dessas você tem?

— Muitas — disse com um sorriso divertido nos lábios. — Praticou sua respiração? — ela assentiu em afirmativa, a boca cerrada em uma linha fina. Pura concentração em suas feições delicadas — Ótimo. Mostre para mim.

Gwyn fechou os olhos e levou a mão livre ao abdômen, respirando fundo e devagar, deixando os pulmões se preencherem completamente de ar e a mão se elevar onde repousava. Então ela expirou no mesmo ritmo desacelerado, sentindo a mão descer conforme cada pingo de oxigênio adquirido saía de seu corpo. Os pulmões dela gritaram com o esforço, ainda desacostumados com aquilo, mas a Valquíria se forçou a repetir os movimentos mais duas vezes antes de abrir os olhos.

Corte de Melodia e Luz Escarlate - ACOTAROnde histórias criam vida. Descubra agora