Capítulo 22

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Os últimos três dias treinando com Azriel à noite haviam sido ótimos. Durante o dia ela procurava qualquer informação que pudesse encontrar sobre as runas que ele havia achado, ainda sem sucesso algum. Já começava a pensar que falharia naquilo, o que a irritava profundamente e a incentivava a ficar horas e horas pesquisando.

Era o primeiro dia em que eles não tinham ido treinar durante a madrugada. Na verdade, Gwyn tinha mandado um bilhete a Azriel por Deirdre, que arregalou os olhos ao encontrar a ruiva, pedindo que ele a encontrasse no ringue uma hora antes do treino das valquírias, quando o sol ainda estava nascendo.

Agora que de fato estavam ali, ela se sentia prestes a desmaiar de tanta ansiedade. Pela Mãe, aquilo não podia ser uma boa ideia. Ela havia decidido repassar o que havia aprendido durante os treinos noturnos com Azriel e, quando o treino das valquírias começasse, tentaria ficar para participar com elas. No entanto, agora aquilo parecia uma péssima ideia. Não estava pronta para aquilo, de jeito nenhum.

Conseguia sentir as palmas das mãos suando, suas pernas pareciam gelatina de tão bambas e ela tinha certeza que era possível escutar seu coração acelerado a um quilômetro de distância. Pela Mãe, ela nem sequer conseguia se concentrar na explicação cuidadosa de Azriel, o que ele com certeza havia percebido. Milagrosamente, o Mestre Espião não fez comentários sobre a falta de atenção dela.

Enquanto Azriel lhe mostrava novamente como usar o arco — não um illyriano, pois eles eram muito difíceis de serem usados, até mesmo para machos crescidos. Ainda não tinha ideia de como Nestha fora capaz de usar um no Rito —, passos soaram ao longe, seguidos pela risada de Cassian. Gwyn se obrigou a permanecer focada na lição, utilizando cada aprendizado de Silenciamento Mental para isso, e agradeceu à Mãe quando o Encantador de Sombras fez o mesmo, ignorando a aproximação do casal.

Ela ouviu quando os passos de Nestha estagnaram no lugar, depois o impacto que certamente havia sido Cassian indo de encontro com as costas da Archeron. Mas Gwyneth fingiu que não havia percebido nada, até que sua amiga soltou um gritinho agudo e então se chocou contra a lateral do corpo da ruiva, derrubando-a com tudo no chão. Quando ela tinha ficado tão rápida?

Nunca mais suma desse jeito, entendeu Gwyneth Berdara? — a voz de Nestha estava embargada, mas a amiga a segurava com força de ferro, impedindo a ruiva de retribuir ao abraço apropriadamente.

— Desculpe — murmurou, sentindo as lágrimas subirem para seus olhos azuis. Procurou por algum sinal dos machos illyrianos, notando que haviam lhes dado privacidade e ido para dentro. Azriel provavelmente estava buscando Emerie naquele momento. — Eu... pelo Caldeirão, depois do puxão de orelha de Azriel, não consigo me explicar sem deixar de soar ridícula e estúpida.

— Então foi ele que te convenceu a voltar, uhm? — Nestha se afastou, cutucando a barriga dela com um sorriso implicante no rosto.

Ah, ela não a deixaria em paz com isso. Às vezes, Nestha conseguia agir igualzinho a uma adolescente implicante. Principalmente quando se juntava a Emerie.

Gwyn sentiu o calor subir para seu rosto, mas se obrigou a manter a voz neutra ao retrucar:

— Ele fez uma visita — franziu o nariz cheio de sardas.

Então, lembrando o motivo da visita de Azriel, olhou para Nestha com preocupação ao analisá-la meticulosamente. Ela estava um pouco mais magra e com olheiras, mas não parecia tão ruim quanto na época em que se conheceram na biblioteca. Naquele tempo, sua amiga se parecia mais com um cadáver ambulante do que com uma Grã-Feérica, muito menos com a irmã de uma Grã-Senhora.

— Eu ouvi sobre o que aconteceu com sua irmã. Como você está?

Os olhos da Archeron escureceram, deixando de resplandecer a felicidade por encontrar a amiga, agora anuviados com a preocupação para com sua irmã mais nova.

— Tentando não surtar — levantou com um pulo, então estendeu a mão para Gwyn, que dispensou a ajuda e se ergueu sozinha. — Cassian diz que não é minha culpa, mas não é fácil me convencer de que ele está certo.

— Isso eu consigo entender — disse com a voz carregada de tristeza e pesar, os próprios olhos ficando anuviados ao lembrar de Catrin, do modo como se sentiu ao deixar a irmã correr na direção do perigo enquanto ela ia salvar as crianças.

Nestha assentiu em compreensão. Se havia alguém capaz de entender o que ela estava sentindo, esse alguém era Gwyn, que ainda estava de luto pela perda de sua irmã gêmea.

— Gwyneth Berdara! — a voz de Emerie quebrou o clima mórbido que havia se instalado. A illyriana desceu os degraus de dois em dois então, quando estava quase chegando na base, deu um salto para pular os três últimos. — Não acredito que finalmente está aqui.

— Oi, Emerie — Gwyn arfou quando a amiga a envolveu em um abraço esmagador de costelas, puxando Nestha para se juntar a elas.

— Senti tanto a sua falta! — choramingou quando se afastaram, Gwyn massageando as costelas com uma careta — Graças à Mãe você voltou, pois Nestha está insuportável desde que você sumiu. Sério, ela só sabia falar sobre isso.

— Emerie! — reclamou Nestha, as bochechas assumindo um tom violento de vermelho. Ela não tinha vergonha de sentir falta da amiga que era como uma irmã, mas isso não queria dizer que poderia se impedir de sentir como uma criança grudenta.

As vozes de Cassian e Azriel interromperam a conversa delas, eles falavam alto e arrastavam os pés, de modo que elas soubessem da aproximação deles e pudessem escolher deixar a conversa constrangedora para depois. Os illyrianos desceram lentamente para o ringue de treino.

— Espero que esteja preparada para ter sua bunda chutada, Gwynnie — implicou Cassian assim que se aproximou, estendendo a mão para bagunçar o cabelo perfeitamente trançado dela.

Ela enxotou a mão dele, lançando um olhar cúmplice para o Encantador de Sombras. Nestha notou a direção do olhar dela, arqueando uma sobrancelha em confusão. Que merda eles estavam tramando?

Infelizmente, as sacerdotisas começaram a descer as escadas junto das illyrianas que moravam provisoriamente na Casa do Vento, impedindo a Archeron de perguntar o que diabos significava aquela troca de olhares conspiratórios. Então, depois de todas as apresentações e olhares de admiração lançados para o trio de Valquírias, o treino começou.

Oioioi!

Como prometido, aqui está o capítulo que fiquei devendo para vocês! Espero que eu não esteja apressando muito as coisas kkkk

É isso, não tenho muita coisa para dizer hoje. Próximo capítulo na quarta que vem!

Até lá e beijinhos!

- Anny Fireheart

Corte de Melodia e Luz Escarlate - ACOTARWhere stories live. Discover now