Capítulo 12

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Ela estava à beira da insanidade. Tinha certeza que, se ninguém aparecesse para tirá-la daquela cela em breve, sucumbiria à loucura. Não sabia quanto tempo havia se passado desde que fora sequestrada. Tentava contar a frequência das refeições, mas não havia qualquer regularidade quanto a isso, como se esquecessem de alimentá-la ou simplesmente não dessem importância para aquilo. Sentia tanta falta da luz do sol, da grama sob seus pés, do cheiro de suas flores e da brisa do vento, daria qualquer coisa por meia hora ao ar livre.

A escuridão daquela cela a sufocava. A umidade sobre sua pele era agonizante e ela se sentia imunda, pois obviamente ninguém havia se dado ao trabalho de levar água para que pudesse se lavar. Supunha que deveria se sentir grata por, ao menos, terem disponibilizado um balde para fazer suas necessidades, poupando-a de ter que sujar ainda mais aquela cela.

Evitava pensar no porquê de estar ali. Sempre que sua mente a levava para aquela questão, um calafrio percorria sua espinha e suas pernas começavam a tremer como gelatina. Sabia que Koschei era um macho cruel, para dizer apenas o mínimo.

Durante a guerra contra Hybern, ela havia tido uma visão sobre ele. Bem, a visão era sobre Vassa, mas envolvia Koschei. Elain havia visto um lago, onde ele supostamente guardava outras mulheres, parecidas com a rainha humana, mas diferentes. Se perguntava onde estavam aquelas fêmeas com penas brancas como a neve.

A fêmea que havia trago comida no primeiro dia... se ela possuía penas, se podia assumir a forma de um pássaro, como em suas visões, então não planejava mostrar aquilo para Elain. Olhos Azuis — como a tinha apelidado — não respondia a nenhuma das suas perguntas, apenas entrava, pegava a bandeja da refeição anterior e deixava uma nova com pão e água, talvez alguma sopa insossa. Às vezes, Elain dormia e, quando acordava, a bandeja de comida já estava trocada por uma nova.

Não havia como se distrair, a não ser que começasse a contar os próprios fios de cabelo ou quantas vezes piscava os olhos até que a comida chegasse. Ainda não havia pensado nisso, mas agora parecia uma opção tentadora ao tédio que ameaçava lhe consumir viva. Definitivamente estava enlouquecendo, se considerava mesmo começar a fazer aquilo.

Passos soaram no corredor. Elain se sobressaltou ao ouvi-los, sentando imediatamente na cama. A porta de sua cela abriu com um rangido, dando passagem para a fêmea de sempre e outra, de cabelos dourados reluzentes e pele tão pálida quanto a lua cheia. Cada uma trazia um balde transbordando de água e uma sacola.

— De pé — rosnou a loira.

Elain levantou com um salto, decidindo, pelo olhar feroz daquela fêmea, que não queria incitar sua fúria. Elas deixaram os baldes próximo à cama e, antes que a Archeron pudesse processar o que estava acontecendo, as fêmeas já haviam avançado para tirar seu vestido. Tentou lutar, as mãos nada gentis arranhando sua pele, mas não possuía nenhuma habilidade de combate e elas estavam em maior número.

Nua e tremendo de frio, ela observou quando Olhos Azuis despejou uma loção com cheiro de lírios em uma esponja. A fêmea mergulhou a esponja no balde e Elain soltou um grito agudo quando sentiu a água fria se chocando contra sua pele sensível e quente. Elas a esfregaram inteira, duas vezes, antes de se darem por satisfeitas, deixando a Archeron com a pele vermelha e ardendo. Então Dourada, como ela havia decidido chamar a outra, tirou de sua sacola um vestido verde claro e o estendeu para que Elain usasse. Sabendo que não possuía escolha alguma e preferindo fazer isso ela mesma, vestiu-o. Elas a perfumaram com mais lírios, prenderam metade de seu cabelo com pentes dourados e passaram um batom suave em seus lábios, além de colocar um pó rosado em suas bochechas, provavelmente para fazê-la parecer mais saudável.

Em seguida, agarraram os braços de Elain e começaram a puxá-la para fora de sua cela.

— Para onde estão me levando? O que está acontecendo? — perguntou, usando toda a força que possuía para tentar se libertar.

Dourada apertou seu braço com ainda mais força, as unhas se enterrando na carne macia, e empurrou-a para que suas costas se chocassem contra a parede fria do lado de fora da cela.

Pare de tentar lutar, sua vaca — grunhiu, o nariz encostando no da Archeron, o antebraço fazendo pressão contra o pescoço dela, roubando-lhe o ar. — Se continuar dificultando minha vida, vou quebrar cada osso de suas mãozinhas delicadas, então vou curá-los e quebrá-los de novo. Entendeu?

— S-sim — conseguiu gaguejar assim que Dourada afrouxou o aperto em seu pescoço.

Olhos Azuis interviu, separando as duas e olhando carrancuda para a companheira.

— Vamos logo, não temos tempo para perder com as suas ameaças — resmungou com a voz carregada de tédio, voltando a arrastar Elain.

Ela permitiu, escolhendo não arriscar aborrecer a única que parecia disposta a não a esfolar viva. Tudo que podia fazer conforme arrastavam-na era rezar, então Elain rezou para os deuses esquecidos dos humanos, cujos nomes ninguém lembrava, e também para a Mãe e o Caldeirão dos feéricos, torcendo para que qualquer um escutasse suas preces e a resgatasse de seu tormento.

Olá, como vai?

Eu queria ter lançado ontem esse capítulo, mas ando num grande mar de procrastinação e só hoje consegui escrever. Digam o que estão achando, por favor, isso me motiva muito a continuar, saber que alguém está lendo.

Vou tentar postar outro até segunda-feira, cruzem os dedos!

- Anny Fireheart

Corte de Melodia e Luz Escarlate - ACOTARWhere stories live. Discover now