Corte de Melodia e Luz Escarlate - ACOTAR

Capítulo 51

Exaustivos. Lucien e Azriel eram ambos exaustivos.

Gwyn tinha tentando apazigar cada maldita faísca que havia surgido entre os dois machos durante todo aquele tempo. Ela tinha feito tudo ao seu alcance para impedir os dois de se engalfinharem numa briga sem sentido, arriscando as próprias vidas e a boa vontade de Helion enquanto anfitrião.

Inútil. Todos os seus esforços tinham sido para nada. Eles tinham se socado e ferido desinibidamente, como se não tivessem coisa alguma a temer ou a perder, apenas para estarem quase se abraçando alguns minutos depois. Claro que a reconciliação deles —que ela sequer havia entendido como ocorreu — tinha sido justamente quando ela foi às pressas atrás de alguém para separar os dois, chamando a primeira pessoa que deu o azar de cruzar seu caminho. E é óbvio que, como a vida era mesmo uma grande piada de mau gosto, essa pessoa acabou sendo Helion. A Berdara tinha incomodado um Grão-Senhor a troco de nada e feito papel de fêmea desesperada e histérica.

Gwyn grunhiu, puxando a escova de cabelo com mais força do que o necessário, tentando descontar nos nós das madeixas ruivas a frustração que estava sentindo. Seu couro cabeludo reclamou pela brutalidade, mas ela trincou os dentes e continuou a tarefa que executava diariamente — não se passava um dia sem que escovasse os cabelos, não importa o que acontecesse —, sentindo vontade de socar tanto Azriel quanto Lucien por fazê-la de idiota na frente do Quebrador de Feitiços.

Se fosse em qualquer outro dia, ela teria agido muito antes. Não deixaria os dois machos trocarem mais que alguns golpes antes de intervir, por bem ou por mal. Muito provavelmente, teria lhes interrompido antes que sequer chegassem às vias de fato. Mas agora...

Seu parceiro. Azriel era seu parceiro.

E Gwyneth teve medo do que a sua intervenção poderia significar. A última coisa que ela queria era que o laço se encaixasse para ele também. Ela sentia como se estivesse pisando em ovos, prendendo a respiração a todo momento, com medo de que se fizesse um mínimo movimento errado tudo iria por água à baixo. Não que estivesse descontente com a revelação. Pela Mãe, ela não estava.

Quando o laço se encaixou para ela... A sensação foi como levar um soco diretamente no estômago, vindo de alguém com o tamanho e a força de Cassian, bem quando ela mais precisava de oxigênio para respirar. Se não estivesse em pleno ar, ela teria caído de joelhos, vomitado ou corrido para longe. Provavelmente os três, um seguido do outro. Isso definitivamente seria fazer papel de idiota, ainda mais na frente de seu parceiro.

No entanto, porque a Mãe era misericordiosa e benevolente, ela não estava em terra firme e não precisou passar por uma humilhação tão grande quanto aquilo. E porque o Destino era uma porcaria, Gwyn estava nos braços fortes e musculosos do seu parceiro, sem poder fazer nada a não ser engolir todas as suas emoções, colocar um sorriso no rosto e fingir estar aproveitando o voo.

Ela tinha ficado tão feliz, tão extasiada com o fato de que Azriel era seu parceiro. Porque ele era bondoso, leal, protetor e gentil e tantas outras coisas. Ele nunca a tinha tratado como uma pessoa cheia de traumas e cicatrizes, nunca tinha feito pouco caso dela ou a considerado inferior ou frágil. Possuía seus defeitos, sim, e ela duvidava que conhecesse sequer uma fração deles, mas Gwyn sabia que os amaria. Sabia que, assim que tivesse a oportunidade, amaria cada pedaço dele. Porque tinha certeza que não amá-lo era impossível, mesmo não o conhecendo com a profundidade que desejava.

E pela Mãe, como Gwyneth queria amar aquele macho orgulhoso como um pégaso e superprotetor como um lobo selvagem. Um pedaço dela já o amava, mesmo que soubesse tão pouco a seu respeito, devido ao modo como Azriel se agarrava firmemente ao mistério e à discrição. Ela sabia que uma fração daquilo se devia à natureza de seu trabalho, mas suspeitava que o illyriano também gostava de se manter nas sombras, não só pela natureza de seus poderes. Ainda havia, no entanto, uma outra parte dela, que estava com tanto medo daquele sentimento que ela acabava se forçando a reprimi-lo, porque...