Capítulo 42

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Tudo doía. Das pontas de seus dedos dos pés até seu couro cabeludo. Tudo. Cada maldito pedaço de seu corpo pulsava de dor avassaladora.

O simples ato de respirar causava pontadas dolorosas em seu tórax e barriga, onde ela havia sido golpeada diversas vezes pelos punhos cheios de anéis de Kaileen. A fêmea dourada não tinha poupado esforços para punir Elain por tê-la torturado, a mando de Koschei. Ela a tinha socado, cortado com uma faca menor que sua mão aberta e golpeado com uma vara pouco mais grossa que seu polegar, fazendo com que Elain desmaiasse de novo e de novo e então a acordando para começar tudo mais uma vez. A Archeron tinha hematomas e cortes cicatrizando pelo corpo todo, como resultado da crueldade da outra fêmea. Seu rosto também não tinha sido poupado, pois a Dourada tinha quebrado o seu nariz e a sua boca logo nos primeiros golpes, além de ter deixado um hematoma gigantesco na sua bochecha esquerda.

Daquela vez, ninguém tinha vindo para sarar seus machucados, como se Koschei não se importasse de deixar os ferimentos se curarem devagar. Como se quisesse que Elain sentisse cada maldita pontada de dor e se desesperasse com aquilo, perdendo a sanidade pouco a pouco. Porque ele sabia que tinham lhe torturado, disso ela tinha certeza. Era impossível que não soubesse das ações de Kaileen, quando mantinha todas as suas fêmeas a rédeas curtas.

Eu mereço”, pensou amargamente, enquanto lutava para respirar em meio à dor lancinante que ameaçava lhe arrancar a consciência. “Comecei a me deliciar com a crueldade de palavras afiadas, achei que pudesse ser como Nestha e Feyre, e quando Koschei pediu que punisse Kaileen... Gostei que ela fosse punida, achei que ela merecia. Uma parte de mim hesitou e sentiu pena, mas um pedaço ainda maior meu ficou satisfeito.”

Lágrimas grossas caíram pelo seu rosto, não chegando até a metade das bochechas antes de cair na direção das orelhas pontudas, pois ela estava deitada havia horas tentando reunir coragem para se erguer. Aquilo doeria como o inferno, mas ela sabia que seria merecido.

Que tipo de pessoa se sente bem em inflingir sofrimento a outra?”, indagou-se, apertando as unhas no lençol fino que cobria parte de seu corpo.

Um monstro”, uma vozinha baixa sussurrou em sua mente. Uma voz que não tinha nada a ver com os poderes suprimidos dela e que ela reconheceu como sendo sua consciência. “É isso que você se tornou, doce Elain. Um monstro cruel e que se alegra com o sofrimento daqueles que considera merecedores. Você é um monstro, assim como Koschei e Kaileen”.

Rangendo os dentes, Elain tomou impulso de uma só vez, sentando-se. Dor irradiou de seus braços finos para o resto do corpo, sua visão escureceu brevemente, pois ela usara os membros frágeis para conseguir a maior parte do impulso necessário. A Archeron sufocou um grito de dor, não suportava ouvir sua própria voz quebrada e esganiçada.

— Eu mereço. Eu mereço. Eu mereço — murmurava com a voz chorosa, tentando não soluçar. Se o fizesse, tinha certeza que os solavancos do corpo a fariam desmaiar.

Na última noite, Koschei a tinha feito ir a outra de suas festas selvagens, mesmo estando ferida e debilitada.  Daquela vez, ninguém tinha sido punida, pelo que ela foi profundamente grata. Ainda conseguia sentir o sangue de Kaileen impregnando suas mãos e manchando sua alma, achava que os pesadelos sobre aquele dia jamais cessariam. Não importava que a tivessem banhado e esfregado até a pele ficar vermelha e sensível — ignorando completamente a existência de seus ferimentos, como se fossem apenas sinais e marcas de nascença —, Elain achava que jamais deixaria de sentir o sangue da Dourada em suas mãos.

Tinha passados horas em pé ao lado esquerdo do Senhor Sombrio, observando as fêmeas dele dançarem e flertarem umas com as outras. Pela primeira vez, teve a oportunidade de realmente analisar o modo como se comportavam.

Corte de Melodia e Luz Escarlate - ACOTARTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon