Corte de Melodia e Luz Escarlate - ACOTAR

Capítulo 40

Sentado à mesa de desjejum, com uma taça de suco na mão, Helion encarava a bela vista proporcionada pela varanda mais próxima. Do lado de fora, o Labirinto de Zyro — que era o bisavô de seu bisavô — estava em plena atividade, com alguns de seus guardas mais habilidosos fazendo seu treinamento matinal. Helion gostava de ficar ali, observando seus homens treinar e ponderando sobre seus afazeres para o dia ou simplesmente divagando.

— Senhor? Mandou me chamar? — perguntou Jashin, entrando no recinto a passos largos e leves como uma pluma, interrompendo os devaneios de Helion.

Jashin Denos era um de seus muitos amantes, o mais antigo com quem ainda se deitava, e também era o Mestre Espião da Corte Diurna. Era esguio para um guerreiro exímio como ele — sem músculos exagerados como a maioria dos machos que serviam a Helion —, mas era dono de uma força surpreendente e de membros mais longos que o comum para Grão-Feéricos. Possuía maçãs do rosto proeminentes e olhos tão escuros que pareciam absorver a luz, apesar do sorriso amigável e dos lábios convidativos. Estava ao lado de Helion há tanto tempo que tinha se tornado sua pessoa de maior confiança, além de um conselheiro e amigo próximo.

— O que você sabe sobre Lucien Vanserra, Jashin? — indagou Helion, levando a taça de suco à boca.

Se estava intrigado com a pergunta, o espião não demonstrou. Era muito hábil em esconder o que pensava, o que era bastante útil tanto em seus afazeres cotidianos quanto em uma luta. O oponente nunca sabia qual seria seu próximo passo, até que já estivesse desarmado e com uma lâmina pressionada contra o pescoço. Ele gostaria de ver como o macho se sairia contra um illyriano, talvez convidasse o Encantador de Sombras para um treino apenas com o pretexto de ver aquele combate entre os dois espiões.

— Lucien é o sétimo filho de Beron Vanserra, Grão-Senhor da Corte Outonal — recitou, como se tivesse as informações decoradas em sua mente. Conhecendo Jashin, provavelmente era esse o caso — Ele foi exilado pelo pai e perdeu o direito aos seus títulos de nascimento, apesar do porquê ser desconhecido. Foi acolhido pelo Grão-Senhor Tamlin e...

— Eu sei de tudo isso — interrompeu Helion, gesticulando para que parasse com a torrente de informações.

Não havia novidade alguma nas palavras de Jashin, aquilo era sabido por toda Prythian ou, ao menos, pelas pessoas importantes dela.

— Quero saber o que os outros não sabem.

Jashin estava em pé na frente de Helion, os pés separados e os braços para trás das costas, as mãos fechadas em punho na altura da lombar. Era possível ver a curiosidade estampada em seus olhos escuros como a noite — uma ironia engraçada, já que servia ao Grão-Senhor do dia. Por isso, não foi surpresa alguma quando ele indagou:

— Posso saber o motivo para essa curiosidade súbita no caçula de Beron, senhor?

Se fosse qualquer outra pessoa, Helion se desviaria da pergunta com um gracejo ou usaria sua posição como Grão-Senhor para não precisar se explicar. Mas aquele era Jashin, uma das poucas pessoas em quem confiava sem hesitar, então ele resolveu não lhe deixar completamente no escuro.

— Lucien está hospedado em meu palácio e tudo que sei sobre ele é negativo, suspeito ou raso demais. Quero saber se posso ou não confiar nele em minha casa — deu de ombros, como se fosse algo rotineiro, o que não era. Ordenar que seu Mestre Espião investigasse um convidado em seu palácio era, no mínimo, fora do habitual. — Rhysand e Feyre confiam, mas será que eu devo fazer o mesmo?

Se Helion não confiava em uma pessoa, não a hospedaria em seu palácio, especialmente não tão perto de seu povo. Citur, a cidade em que estavam, era muito querida para ele e um grande e importante centro comercial, apesar de ter o Deserto de Ludo como vizinho. Além de toda a sua relevância para a Corte Diurna, ela era também a cidade natal de Helion, que havia se esforçado muito para fazer crescer durante todos os séculos em que foi Grão-Senhor, especialmente no período conturbado do governo de Amarantha.