Capítulo 46

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O cabelo dela chicoteava em suas costas devido ao vento veloz que fazia seus olhos arderem, mesmo que estivesse preso em uma trança, que fizera rapidamente enquanto recebia as instruções de Helion. As madeixas ruivas pareciam reluzir diante do sol e da felicidade pura que inundavam o coração da valquíria, parecendo-se com fogo acobreado ao serem banhadas pela luz da manhã.

— Não achei que voar fosse tão divertido assim! — disse em meio a uma gargalhada de pura alegria, quando um grupo de pássaros passou a poucos metros de onde estava.

Ah, como ela se sentia livre! Era como se todos os seus medos, traumas e inseguranças tivessem ficado para trás, em terra firme. Ali, no céu, Gwyn poderia ser outra pessoa se tão somente desejasse, tamanha era a sensação de leveza e bem-estar que preenchiam seu coração.

— Seria ainda mais divertido se você estivesse voando com suas próprias asas — retrucou Azriel, que voava paralelamente a Gwyn e Sirius. — O quê? É verdade! — exclamou diante das sobrancelhas arqueadas da fêmea.

— Eu não tenho asas! — apontou o óbvio, erguendo uma mão cheia de sardas para indicar as costas vazias com o polegar.

— Sei que não, só estou dizendo que se você tivesse, saberia que é ainda mais divertido ter asas do que voar em cima de um pégaso — deu de ombros da melhor forma que pôde, considerando que usava todos os músculos do seu corpo para manter-se no ar.

Sirius desviou rapidamente para o lado em que Azriel se encontrava, à direita, então voltou a alinhar o corpo enquanto bufava de indignação.

— Opa! — Gwyn tentou não cair da sela. Não havia nada que a segurasse no lugar, pois alguns dos pégasos de Helion, como era o caso de Sirius, não usavam rédeas e ela não usaria a crina dele como apoio, pois temia que isso pudesse machucar ou ofender o animal. — Ele não gostou desse comentário, Azriel.

Az grunhiu com indiferença, mas Gwyneth lhe lançou um olhar carregado de reprimenda, indicando o cavalo alado com as mãos. O garanhão parecia claramente irritado, pois batia as asas furiosamente e bufava de indignação ocasionalmente.

— Peço desculpas por ofender vossa magnanimidade, oh nobre Sirius — disse o illyriano, com o tom cheio de sarcasmo e o esboço de um sorriso se repuxando nos belos lábios.

Sirius bufou novamente, sinalizando que não tinha comprado as desculpas vazias do mestre espião. Se pudesse falar, ele provavelmente estaria discutindo com Azriel. Ou debochando dele, o que parecia ainda mais com algo que o pégaso faria.

— Idiota — retrucou Gwyn, semicerrando os olhos para o encantador de sombras.

— O quê? Eu não deveria me desculpar? — sorriu de modo travesso, de uma maneira que não se permitia fazer na frente de qualquer um. Aparentemente, a liberdade do céu também o deixava mais leve e feliz — Não quero que ele derrube você só porque ficou ofendido comigo.

— Ele não vai me derrubar! — disse alarmada. A sacerdotisa esticou-se para acariciar o pescoço do garanhão, apenas por via das dúvidas — Não é, Sirius? Você nunca me derrubaria, certo?

Como resposta, o pégaso se inclinou novamente na direção de Azriel, demorando ainda mais para recuar de volta à sua posição e alinhar o corpo.

— Está bem! Está bem! — gritou o mestre espião, se desviando como podia para não ser derrubado — Não precisa me fazer cair, eu já entendi!

A valquíria soltou uma gargalhada, mesmo enquanto apertava as coxas na sela com toda a força que possuía, numa tentativa de não cair. Talvez Sirius só tivesse confiança o suficiente de que não a derrubaria, ou talvez simplesmente não se importasse. Para o bem da própria sanidade, Gwyn escolheu acreditar na primeira opção.

Corte de Melodia e Luz Escarlate - ACOTAROnde histórias criam vida. Descubra agora