Corte de Melodia e Luz Escarlate - ACOTAR

Capítulo 35

Lucien não precisou de muito esforço para alcançar o grupo. Helion os guiava a passos lentos, dedicando-se a falar sobre detalhes a respeito de sua corte e palácio. Ele apresentava uma ou outra pessoa que passava por eles, dando breves instruções aos transeuntes sobre coisas às quais o ruivo escutou apenas parcialmente. Alguma sala que deveria ser arejada, cartas a serem enviadas ou o vinho que ele queria para o almoço. Aparentemente, ele realmente se envolvia na administração da residência, ao invés de delegar a algum mordomo.

De qualquer modo, a mente do ruivo estava a quilômetros dali. Ele mal podia acreditar no que havia acabado de acontecer. Tinha conversado com Elain pelo laço pela primeira vez. Bem, não foi exatamente uma conversa, mas eles tinham se comunicado à sua maneira. Qualquer coisa com Elain já era grandiosa, dada ao fato de que ela o evitava como se ele tivesse alguma doença contagiosa.

Se estivesse sozinho, deixaria suas chamas dançarem pelo local e até mesmo pularia de alegria. O poder dele cantava em seu interior, implorando para comemorar aquele pequeno avanço, mas ele o conteve com vigor. A última coisa que precisava era incendiar o palácio do Grão-Senhor da Corte Diurna, que também era seu progenitor.

Não era hora de entrar em combustão espontânea e agir como um tolo esperançoso. Ainda tinha que encontrar Elain, mas se permitiria, mesmo que por apenas alguns segundos, saborear aquele pequeno passo. Sabia que ainda havia muitas questões mal resolvidas entre eles e duvidava que sua parceira estivesse minimamente interessada em lhe dar uma chance, mesmo que ínfima, de conquistá-la. Ainda mais depois de ser sequestrada por Koschei. E mesmo que ela estivesse disposta a dar qualquer espaço para Lucien, ele não achava que conseguiria se permitir amar novamente. Não depois do que aconteceu com Jesminda. Não depois de ver o destino que teria qualquer fêmea que lhe entregasse o coração.

— E aqui é o salão de refeições — anunciou o Grão-Senhor, gesticulando para as portas fechadas e forçando a atenção de Lucien a se voltar para o presente.

Assim que ele disse isso, as portas se abriram sem produzir um único som, devido às dobradiças muito bem lubrificadas. O palácio era claramente bem cuidado, prova disso era o constante fluxo de empregados, Grão-Feéricos e feéricos inferiores.

O grupo adentrou o salão, que era tão deslumbrante quanto o resto do palácio. O piso era amadeirado e as paredes possuíam um lindo tom de creme, com quadros claramente importantes as enfeitando. Não haviam janelas, mas três varandas espaçosas com muradas elegantes e decoradas com balaustradas. Do lado de fora, era possível observar um labirinto verde, que Helion explicou ser utilizado para treinamentos específicos de sua guarda pessoal e também para bailes ao ar livre, dependendo da ocasião. Havia uma longa mesa no centro do salão, abarrotada de toda a sorte de alimentos. O cheiro era divino, o que quase fez Lucien avançar para se servir. Ele precisou se lembrar que não era uma besta selvagem, mas um Grão-Feérico, para conseguir controlar sua fome e esperar pela deixa do anfitrião.

Helion puxou uma cadeira à esquerda da cabeceira.

— Senhorita — apontou com o queixo para o assento. Gwyn corou, mas não recusou o ato de gentileza e logo se sentou.

Azriel semicerrou os olhos para o Grão-Senhor, que deu de ombros e se sentou na cabeceira da mesa. O illyriano resmungou algo incompreensível sobre flertes descarados, claramente desconfiado, mas se apressou para sentar ao lado de Gwyn, deixando a Lucien a opção de se sentar ao lado dele ou à direita de Helion. O ruivo franziu o cenho, desgostoso de suas opções, mas decidiu sentar ao lado do Grão-Senhor. Ao menos Helion não tentaria furar seu olho restante com o garfo de sobremesa.

— Sirvam-se, por favor — gesticulou para a comida, abrindo um sorriso que reluzia de tão branco.

Lucien estava prestes a se esticar para os pães quando algo que ele não esperava aconteceu. Antes que ele pudesse alcançar a comida, os pratos começaram a girar na mesa lentamente, de modo que todas as opções passassem por eles e ninguém precisasse se levantar para pegar uma comida distante. Gwyn deu um pulo, assustada, e Lucien notou que Azriel levou a mão até a cintura em busca de alguma lâmina escondida.