Corte de Melodia e Luz Escarlate - ACOTAR

Capítulo 16

Havia cerca de três horas que ela estava escondida entre as estantes do nível sete, as costas pressionadas contra a estrutura de madeira enquanto ela abraçava as próprias pernas. As lágrimas já haviam cessado, mas ela ainda conseguia ouvir claramente as palavras do comandante de Hybern em seu último pesadelo, como se a escuridão fizesse questão de sussurrá-las em seu ouvido.

As sacerdotisas evitavam ir até aquele nível justamente por causa da escuridão que espreitava e murmurava seus piores pesadelos. Mesmo Nestha não costumava se aventurar tão profundamente na biblioteca, preferindo ficar nos níveis onde havia claridade. Aquilo pelo menos a confortava, saber que ninguém apareceria para vê-la encolhida e tremendo como uma ratinha assustada.

Passos arrastados soaram no começo do corredor e ela identificou quem caminhava até ali de imediato, reconheceu os passos daquele que sabia como ser absolutamente silencioso. Enxugando o rosto ainda úmido pelas lágrimas, Gwyn levantou- se com um pulo, as pernas protestando devido à dormência de horas parada na mesma posição. Ela se virou para a estante em que estava apoiada, fingindo procurar um livro com a lamparina que havia levado para afugentar um pouco da escuridão pulsante.

A primeira coisa que viu pelo canto de olho foi o azul cobalto do sifão de Azriel iluminando o caminho, tão parecido com as pedras que as sacerdotisas levavam na testa, a pedra que ela não merecia. Ele vestia a típica armadura illyriana, sempre pronto para o combate, as escamas perfeitamente ajustadas ao corpo alto e musculoso. Lindo, como ninguém deveria ter o direito de ser.

Da última vez que se viram, na cerimônia de parceria de Cassian e Nestha, o Encantador de Sombras não falou com ela, mas pareceu evitá-la com todas as forças. Ele sentou com o restante do Círculo Íntimo, na primeira fileira de bancos da cerimônia, ao lado de Emerie, que passou todo o evento segurando com força a mão trêmula e suada de Gwyn. Nestha havia insistido para que ela celebrasse a cerimônia, mas a ruiva mal conseguia se manter de pé, de tão fracas que estavam as suas pernas, o medo irradiando por todo o seu corpo por estar cercada de tantas pessoas, tantos machos. No final da noite, ela conseguiu dançar com as amigas, ainda que estivesse pálida como a morte. Azriel voou com ela de volta para a biblioteca — pois o casal da noite ainda estava ocupado como o restante dos convidados, e Rhys ainda queria dançar mais algumas músicas com Feyre — ainda sem dizer uma única palavra, e se despediu com um aceno contido antes de alçar voo de volta para a festa pulsante no centro de Velaris.

Ela afugentou aqueles pensamentos, como se fossem um mosquito desagradável zumbindo em seu ouvido.

— Olá, Gwyn — os cabelos negros caíram sobre os olhos ao acenar em cumprimento, ela ignorou o arrepio que percorreu sua coluna diante da voz aveludada.

— Mestre Espião — sussurrou, testando a firmeza da própria voz. Satisfeita com o modo como soou, perguntou: — Procurando algum livro?

— Por que tem faltado aos treinos? — rebateu, ignorando completamente a pergunta da ruiva.

Gwyn mordeu o lábio inferior, odiando que ele tivesse tocado no assunto. Ela não só evitava os treinos, mas também qualquer um envolvido com eles. Desde que os pesadelos haviam começado, ela se via incapaz de subir até o ringue no horário dos treinamentos, de encarar Nestha ou Emerie, ou de sequer ir até a fêmea que se dispunha a conversar com as sacerdotisas sempre que precisavam. Agora, ela esperava as altas horas da noite para ir treinar, levando o corpo até a exaustão para conseguir dormir sem ser perturbada pelos pesadelos horrendos.

Percebendo o silêncio dela, Azriel acrescentou gentilmente:

— Elas sentem sua falta. Todos nós sentimos — ele se recostou contra a estante, cruzando os braços fortes — Temos novas recrutas. Emerie já trouxe várias illyrianas e novas sacerdotisas também se juntaram a nós. Todas estão ansiosas para conhecer você, uma das fêmeas que conseguiu participar do Rito de Sangue e vencer, além de ser uma das únicas pessoas não-illyrianas que já esteve em Ramiel.