Capítulo 43

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As últimas estrelas brilhavam fraco no céu azul, o firmamento apresentava aquele tom de cerúleo que precede o alvorescer. Sem dúvidas, o nascer do sol era uma das coisas mais lindas do mundo, que ele fazia esforço para poder presenciar todos os dias. Fazia-o se sentir grato e revigorado, pois significava um recomeço contínuo, uma nova chance de ser melhor. A luz do sol não iluminava apenas o mundo ao seu redor, mas também os cantos sombrios de sua alma quebrada.

Aquele amanhecer, particularmente, marcava o início do treinamento em magia de fogo de Gwyneth Berdara.

Conforme o céu se tornava mais e mais claro, a impaciencia de Lucien crescia. Já estava terminando de amanhecer e sua aluna ainda não havia chegado. Ele achava que tinha sido bem claro quanto ao horário, mas aparentemente estava enganado.

Usando trajes de treino — uma calça de material mais grosso, não exatamente couro, e uma camisa branca folgada, longe dos couros illyrianos de treinamento —, ele permanecia sentado de pernas cruzadas no centro do ringue. Era uma postura de relaxamento, que ajudava a sentir sua chama interior e meditar. Seu primeiro professor de magia, Venyr, havia lhe ensinado sobre a importância de manter a mente calma para lidar com o fogo; portanto, todos os dias, Lucien dedicava meia hora de seu tempo àquilo. Já tinha tentado passar uma quantidade maior de tempo naquela contemplação calma, mas ele começava a ficar agitado e perdia a concentração todas as vezes, como agora.

Passos apressados soaram no corredor que dava para o ringue e, alguns segundos depois, as portas rangeram indicando que alguém havia entrado. Lucien não precisou abrir os olhos para saber que era Gwyn e Azriel que haviam chegado, pois podia sentir seus cheiros flutuando na direção dele.

— Está atrasada — disse ele, ainda com os olhos fechados, fazendo sua última respiração sem pressa alguma e falando com uma calma que não era totalmente sua.

— Perdão — respondeu de forma ofegante a fêmea, tentando colocar ar nos pulmões —, alguém — uma pausa acusatória — não estava pronto no horário e me fez esperar.

Lucien abriu os olhos e suspirou pesadamente, como se estivesse exausto já àquela hora do dia. Ele deveria ter imaginado que Azriel estava envolvido na demora deles, pois Gwyn não parecia o tipo de pessoa que se atrasava. O ruivo mordeu a língua para se impedir de fazer um comentário provocativo, pois não queria estragar o primeiro treino da sacerdotisa com as intrigas entre ele e o illyriano.

— Já que o atraso foi sua culpa, mestre espião — levantou-se em um salto de dois tempos, primeiro ficando de cócoras e depois erguendo-se por completo —, vou tomar tempo do seu treino para compensar.

— Não lembro de ter concordado com isso — disse com o rosto franzido, emburrado como uma criança insatisfeita com a punição por sua teimosia, os braços definidos cruzados na altura do peito igualmente musculoso.

Gwyn olhou de um para o outro, incerta sobre como proceder. Ela não queria outra briga entre eles, principalmente no horário de treino dela. O tom deles não tinha sido afiado e provocativo, mas ela não iria ficar sentada esperando que as coisas esquentassem.

— É justo, Azriel — manifestou-se, olhando para ele de maneira apaziguadora. — Você me atrasou, então temos que compensar Lucien.

O mestre espião resmungou algo que ninguém entendeu, mas não pareceu inclinado a protestar novamente. Não iria treina-la a força, como os instrutores illyrianos faziam com as crianças rebeldes, e Gwyn o odiaria se interrompesse o treino pela metade. Além do mais, eles tinham se atrasado por culpa dele, que não estava pronto quando a sacerdotisa bateu na porta de seus aposentos.

A bem da verdade, Azriel tinha feito de propósito, apenas para que Lucien precisasse esperar por eles. Era mesquinho e infantil e ele sabia disso, mas não pôde se impedir de demorar alguns minutos a mais para sair da cama e começar a se vestir. Mesmo quando Gwyn começou a esmurrar sua porta e gritar para que se apressasse.

Corte de Melodia e Luz Escarlate - ACOTARWhere stories live. Discover now