Capítulo 50

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Gatilhos: tortura e manipulação

Tremendo de frio, com apenas um lençol fino e esfarrapado para lhe proteger, Elain Archeron mal conseguia respirar. O ar gelado de sua cela fazia com que os pulmões doessem a cada tentativa de tomar fôlego e, se não fosse pela fome imensa que sentia, ela estaria encolhida em posição fetal ao invés de sentada com os joelhos colados ao peito, comendo o pão duro e bolorento que lhe fora servido.

Ela começou a se sentir sonolenta, de uma maneira particularmente estranha. Como não havia nada que a distraísse no calabouço de Koschei — nenhuma companheira de cela com quem conversar ou sequer guardas nos corredores, para fingir lhe fazer companhia —, a jovem estava habituada a dormir por horas a fio. No entanto, havia acabado de acordar de um cochilo particularmente longo, de modo que não deveria estar tão profundamente cansada.

Seus olhos começaram a ficar pesados e, quando tentou se levantar para caminhar até a cama de ferro que já considerava sua, percebeu que a sua cabeça dava voltas. Cambaleando, Elain precisou se apoiar na parede úmida e fria ao toque para conseguir chegar até seu objetivo. Por algum milagre, a Archeron conseguiu se deitar e levar os joelhos até o queixo antes de desmaiar em um sono sem sonhos.

Ela acordou com um arquejo doloroso, lutando para respirar enquanto notava que suas roupas, seu corpo, estavam encharcados. Quando tentou levar as mãos ao rosto, para tirar o excesso de água — ela torceu para que fosse água e não outra coisa — dos olhos, notou que os pulsos estavam presos firmemente por correntes — não do tipo que bloqueava magia, ainda que seu poder estivesse completamente emudecido — no alto e que às suas costas estava uma estrutura de pedra gelada. O sangue de Elain gelou ao entender onde estava presa, o que estava prestes a acontecer com ela e quem a encarava com olhos famintos.

Um arrepio, que não tinha relação alguma com o fato de estar ensopada da cabeça aos pés naquele lugar gélido, subiu por sua coluna e se espalhou pelo resto do corpo. A vidente ergueu a cabeça, forçando os dentes a pararem de bater para encarar o macho imortal que olhava para ela com fome nos olhos, sentado imponente em seu trono de ossos.

— Ora, ora, vejam só quem resolveu acordar — cantarolou, a voz cheia de excitação diante de qualquer que fosse o horror ao qual estava prestes a lhe submeter.

— Me solte — grunhiu Elain entredentes, forçando os pulsos contra as correntes.

— Ah, não faça isso — pediu Koschei, como se lamentasse a escolha dela. — Vai acabar machucando esses lindos e delicados pulsos que você tem.

Elain apenas puxou com mais força, lutando para se libertar. Ela sabia que era um esforço em vão, é claro, mas só de contrariar as vontades do senhor sombrio, já se sentia muitíssimo satisfeita. Trincando os dentes, sentiu quando os pulsos começaram a ficar arranhados devido à forte fricção que ela fazia.

— Eu. Mandei. PARAR! — rosnou Koschei, abandonando sua máscara de indiferente e calmo.

O ar foi roubado dos pulmões de Elain quando um golpe de magia a atingiu. Ela arqueou as costas, incapaz de gritar porque não havia oxigênio para alimentar sua voz. Debatendo-se violentamente, ela tentou novamente se libertar das correntes, ansiando por arranhar a garganta até que conseguisse respirar.

A decisão errada lhe custou, pois Koschei viu o gesto como um sinal de afronta e enviou outra onda de poder, que lhe partiu todos os dedos da mão esquerda em três partes diferentes, colocando-os em ângulos estranhos.

Elain arregalou os olhos, tudo a sua volta se tornando um borrão confuso conforme lágrimas grossas caíam pelo seu belo rosto. A dor era insuportável e, somada à falta de oxigênio, não demorou muito para que o corpo maltratado se revoltasse e a arrastasse para a inconsciência.

Corte de Melodia e Luz Escarlate - ACOTARWhere stories live. Discover now