Capítulo 17

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Ele estava permanentemente morando em Velaris, pelo menos até que sua parceira estivesse de volta para casa, sã e salva. Então, poderia voltar para sua vida de exilado ao lado de seus amigos. Estava contando cada maldito segundo desde que Elain havia sumido, enviando todo o seu terror e medo absolutos pelo laço, e depois de uma semana, três dias e quinze horas sem qualquer notícia dela, temia começar a subir nas paredes e rosnar para o nada, como um animal selvagem.

Ocupava um quarto na Casa do Rio, que Feyre disse ter sido feito especialmente para ele. Era um cômodo muito bonito e elegante, com paredes brancas e arabescos dourados, móveis de madeira escura, provavelmente nogueira, um tapete de pele de urso e uma cama espaçosa e cheia de travesseiros vermelhos e verdes. Possuía um banheiro anexo, com luzes feéricas e detalhes de um vibrante tom escarlate, a madeira mais clara que a do quarto e uma banheira grande o suficiente para caberem quatro pessoas.

Todo aquele luxo, no entanto, fazia pouco para distraí-lo. Não possuía interesse algum em explorar a alegre cidade de Feyre e Rhysand, principalmente quando sabia que algum membro do Círculo Íntimo deles o seguiria de perto. Era patético acharem que ele tinha algo a ver com o sumiço de sua parceira, principalmente quando ele sempre fez questão de respeitar a indiferença de Elain. Aquilo era praticamente um insulto, mas ele o toleraria alegremente, assim como havia tolerado coisas e pessoas piores, desde que aquela sensação de ameaça e desolação sumisse de seu peito.

A quem queria enganar? Aquilo nunca passaria. Havia começado assim que descobriu sobre a parceria e, nenhum dia sequer, o deixou. Principalmente não quando Elain mal olhava para ele ou se dava ao trabalho de reconhecer sua existência. Supunha que houvesse um lado positivo naquilo tudo. Ao menos ela estaria segura e protegida, de um modo que ele jamais pôde proteger Jesminda, que morreu por simplesmente amá-lo.

Lucien sacudiu a cabeça com força, tentando dissipar os pensamentos que se acumulavam em sua mente, um mais destrutivo que o outro. Aquilo não o levaria a absolutamente nada. Precisava se concentrar em achar um jeito de encontrar Elain ou, ao menos, obter respostas sobre o sequestro dela e seu captor. Mas onde encontraria alguém que soubesse como ajudá-lo?

Então, há feéricos que realmente respondem a qualquer pergunta se você os prender?”, ainda conseguia se lembrar da curiosidade perigosa na voz de Feyre ao fazer aquela pergunta. Na época, ela havia acabado de chegar na Primaveril e buscava um jeito de voltar para casa. Lucien não gostava dela, ressentido pela morte de Andras e, mais ainda, por saber que o destino de todos eles estava nas mãos daquela humana franzina que ele considerava burra. Ele havia chamado-a de burra, especialmente se cogitava ir atrás do Suriel. Ironicamente, era exatamente isso que ele agora considerava fazer. Ao que parece, o desespero realmente torna as pessoas tolas e insensatas.

Levantou-se da cama em um pulo. Se o Suriel era sua única alternativa, então não hesitaria em ir atrás dele, não se essa era a melhor chance de encontrar Elain. Ele foi até o banheiro para lavar o rosto e o pescoço, pois o dia estava surpreendentemente quente. Se não fosse pelo olho mecânico, mal se reconheceria na frente do espelho.

Seus olhos estavam fundos, bolsas roxas embaixo deles, a barba havia crescido um pouco, deixando-o com a aparência ainda mais desleixada, e os cabelos ruivos estavam uma confusão embaraçada. Pegando um elástico na pia, ele o prendeu no que, certa vez, ouviu Cassian chamar de “rabo de cavalo cem porcento de macho”. Para ele, era apenas um rabo de cavalo comum, mas não tinha vontade de discutir as características dos rabos de cavalo com o general de Rhysand.

Dando-se por satisfeito, Lucien caminhou para fora do banheiro e apanhou uma calça de couro que estava jogada no chão. Ele se vestiu rapidamente, não estando disposto a perder mais tempo do que o necessário. Saiu do quarto ainda abotoando os botões da camisa de linho que havia escolhido. Dirigiu-se para o escritório de Feyre, sabendo que ela gostaria de acompanhá-lo e que, se não avisasse de sua saída, Nestha certamente iniciaria em pessoa uma caçada contra ele.

Por sorte, não precisou fazer todo o trajeto até o escritório da amiga. Assim que virou o corredor, chocou-se com ela. Esticou a mão para agarrar a de Feyre, impedindo-a de cair de bunda no chão acarpetado.

— Estou indo atrás do Suriel — disparou antes que ela pudesse lhe perguntar aonde ia.

— O quê? — arregalou os olhos, as narinas de dilatando enquanto firmava o corpo de pé.

— O Suriel terá respostas sobre o desaparecimento de Elain, precisamos ir atrás dele — explicou, tentando não soar desesperado ou eufórico.

— Lucien, o Suriel está morto. Ele morreu nos meus braços durante a guerra — disse lentamente, como se explicasse para uma criança. A tristeza se acumulou em seus olhos, os ombros se curvando em pesar ao lembrar da morte do amigo.

— Há outros da espécie dele, do que você encontrou. Podemos tentar capturar um — tentou não ser insensível diante da perda de Feyre, mas a urgência em fazer alguma coisa, qualquer coisa, para ajudar a encontrar sua parceira tirava qualquer empatia que podia ter.

— Os outros podem não estar dispostos a ajudar. Só consegui entrar em contato com o Suriel porque ele quis — explicou ela, já começando a aceitar a ideia.

— Se não quiser vir, tudo bem. Posso fazer isso sozinho. Vou fazer isso sozinho, se precisar — disse decidido, cada célula em seu corpo queimando para entrar em movimento.

— Eu vou com você, é claro que vou — endireitou os ombros e ergueu o queixo, o olhar cheio de determinação. — Jamais o deixaria ir sozinho, você é meu amigo e Elain é minha irmã — acenou para que ele a seguisse. — Tenho algumas armas aqui, no meu escritório. Também tenho que avisar Rhys do seu plano.

Lucien a seguiu sem fazer objeções. Seria tolice sair sem armas, especialmente se planejavam ir atrás do Suriel. Não demorou mais que quinze minutos para que estivessem armados até os dentes e prontos para sair. Feyre pescou um manto de seu guarda-roupa, roxo e com detalhes em prata, e segurou na mão dele com firmeza.

— Vamos para a floresta na qual me encontrou, quando ainda estava me procurando para Tamlin — não havia emoção alguma em sua voz ao dizer o nome do ex-amante, como se fosse apenas uma pessoa comum e insignificante, um mero detalhe que não merecia muita explicação. — Fique perto de mim e não faça nada estúpido — ordenou, piscando para ele.

Eles atravessaram, se tornando névoa e fumaça. Enquanto seus corpos eram comprimidos para se transportar, tudo em que Lucien conseguia pensar era em sua parceira, no modo como o laço continuava mudo depois de tanto tempo desde seu sumiço. Como fazia todos os dias, em cada segundo desde que ela havia desaparecido, pediu para que a Mãe a protegesse e a guiasse de volta para casa.

Não esqueçam de curtir e comentar, beleza? Capítulo novo na terça!

Beijinhos,

- Anny Fireheart.

Corte de Melodia e Luz Escarlate - ACOTARWhere stories live. Discover now