Capítulo 26

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Gatilhos: tortura, violência física e psicológica, morte e pensamentos suicidas.

Por favor, NÃO LEIA caso se sinta desconfortável ou esteja mentalmente instável. Se quiser, me mande uma mensagem ou comente aqui e tentarei resumir o capítulo para você.

Rhysand estava esperando na varanda, como havia prometido. Ele não pareceu nem um pouco contente ao levá-lo até ali, mas Lucien não tinha opção a não ser aceitar a carona, pois não podia voar e certamente não possuía a habilidade de Morrigan para atravessar no meio do ar e aterrissar com todos os ossos do corpo inteiros.

O Grão-Senhor não disse nada para ele, no entanto. Não expressou nenhuma reclamação por Lucien ter deixado Feyre sozinha no meio da floresta, o que ele sabia que tinha sido um grande ato de canalhice, ou feito nenhum comentário sobre a ameaça que o ruivo fez.

No entanto, aquela era apenas a ponta do iceberg. Pela Mãe, Lucien realmente tinha ameaçado Feyre? Entre todas as pessoas? Quão merda ele podia ser? Porque aquele definitivamente era um nível completamente novo para ele. Sabia muito bem que o Grão-Senhor poderia matá-lo por aquela simples ameaça, não só para a sua parceira, mas para todo o seu povo. Lucien ainda esperava que ele o soltasse no meio do ar com um sorriso satisfeito no belo rosto, apenas para assistir o ruivo se estatelar contra as ruas em paralelepípedo de Velaris. Não só isso, mas ele tinha colocado a parceria de Rhysand em perigo, algo que dava ao mestiço illyriano o direito de exigir uma vingança de sangue. Aquilo não o bastardo de Helion, no entanto. Estava mais preocupado com o fato de ter ferido os sentimentos de Feyre.

Rhysand não disse nada com a chegada apressada de Lucien, mas Cassian ao seu lado pareceu curioso sobre o hematoma que já crescia na bochecha do ruivo. O general inclinou o queixo em cumprimento e o príncipe do outono imitou o gesto. O Grão-Senhor estava com as sobrancelhas arqueadas em questionamento, mas seguiu calado conforme pegou o macho nos braços — aquilo era tão constrangedor e desconfortável, que Lucien considerou seriamente a alternativa de descer os dez mil degraus — e alçou voo rumo à Casa do Rio.

Merda, ele se odiava por tudo aquilo. Por ter dito aquelas coisas odiosas para Feyre, sim, mas também por se sentir tão culpado por dizê-las. Ele havia acabado de descobrir toda aquela confusão, de ter sua confiança traída por alguém que considerava sua amiga e de literalmente ter sua vida e existência viradas do avesso. Não tinha o direito de ficar puto da vida, de se permitir perder o controle? Só uma vez? Mas ele sabia a resposta para aquela pergunta: não, ele não podia se dar esse luxo.

Não importava o sangue que corria em suas veias, ainda havia sido criado como um Vanserra. O temperamento e crueldade de Beron estavam estampados nele, em sua alma e corpo, por todos os séculos que passou sendo um de seus filhos. Em algumas noites, conseguia sentir o chicote do pai estalando contra suas costas nuas, as chamas dele queimando-o onde as pessoas não iriam ver, as palavras de desprezo a cada mínimo erro cometido. Na maioria das vezes, porém, era a morte de Jesminda que o impedia de descansar.

Lucien se permitiu fechar os olhos apenas por um momento. Se permitiu viajar de volta para aquele dia, quando seu coração tinha se partido em milhões de pedaços e toda a sua vontade de existir fora extinta.

Ele não tinha ideia do porquê da sua convocação. O pai costumava ignorar completamente sua existência ou, no pior dos casos, fazer questão de lembrá-lo que ainda era seu senhor e segurava a coleira dele. Ele jamais deixava os filhos esquecerem disso, ainda que desse um pouco mais de liberdade ao caçula. Era uma das pouca vantagens de estar tão longe da linha de sucessão, ainda que a magia fosse a verdadeira encarregada de passar o poder de Grão-Senhor adiante.

Corte de Melodia e Luz Escarlate - ACOTAROnde histórias criam vida. Descubra agora