Capítulo 14

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As fêmeas a arrastaram por três lances de escadas. Quanto mais subiam, mais úmido ficava o ambiente, era possível até mesmo enxergar as gotículas de água que revestiam as paredes de pedra daquele lugar tenebroso.

Elain não ousou fazer mais perguntas, pois Dourada lhe lançava um olhar assustador sempre que fazia o menor ruído. A corrente de seu tornozelo esquerdo, que ficava presa à cama, havia sido substituída por uma que prendesse ambas as pernas da Archeron, limitando ainda mais seus movimentos. Como se houvesse a menor chance de escapar, com aquelas duas fêmeas musculosas e claramente treinadas em seu encalço.

Por fim, chegaram a uma pesada porta de freixo, o que era inusitado considerando a periculosidade daquela madeira para os feéricos. Perguntou-se se ela representava algum risco para Koschei. Provavelmente não, pois ele era imortal. Um verdadeiro imortal, pelo que Feyre havia lhe contado, o que dificultava ainda mais derrotá-lo. Nestha, no entanto, havia Feito uma espada capaz de matar imortais, além de ter matado alguém chamado Lanthys para proteger Cassian, haviam contado para Elain.

A porta se abriu com um rangido. Havia um trono de ossos impressionantemente conservados, brilhando como se fossem polidos todos os dias, as extremidades feita de costelas afiadas até parecerem lâminas de verdade. Sentado nele, estava Koschei. Por algum motivo, esperava que ele fosse feio. Sempre imaginou homens maus como sendo horrorosos, era mais fácil odiá-los assim. Mas aquele macho não era feio, de modo algum.

Os cabelos eram brancos e reluzentes, como a face da lua cheia. Os olhos eram dourados como ouro líquido, a pele tão pálida quanto mármore, as maçãs do rosto proeminentes e o queixo fino. Estava sentado, a postura relaxada no trono de ossos, uma perna jogada sobre a outra e a mão em punho apoiando a cabeça, claramente entediado. Ele não aparentava ser musculoso como os machos que conhecera em Prithian, o corpo mais esguio e até mesmo franzino, mas claramente era alto, apesar da postura desajeitada. Mesmo com a compleição franzina, ele era belíssimo.

De maneira nada gentil, as fêmeas a arrastaram até a base do trono, tirando-a do torpor em que havia entrado para admirar aquele macho. Três degraus separavam a base do trono do restante do salão, de modo que ela precisava olhar para cima a fim de encará-lo. Elas a fizeram se ajoelhar, o chão frio machucando seus joelhos, mas continuaram segurando seus braços com firmeza, as unhas afiadas machucando sua pele delicada.

— Elain Archeron — disse lentamente, deleitando-se com cada sílaba, como se experimentasse o sabor e a sensação de dizer o nome dela —, você é ainda mais bonita do que o vento e a rocha sussurraram para mim — mudou o modo como a mão apoiava o queixo pontudo, os dedos indicador e médio agora tocando as maçãs do rosto. — Conheci seu pai, ele veio até aqui para negociar e falou uma ou outra coisa interessante sobre as filhas que tentava desesperadamente proteger.

— O que você quer comigo? — engoliu em seco, tentando manter a voz fria como a de Nestha ao falar com alguém que desprezava. Sabia que mal passava de uma imitação patética do tom seco e indiferente da irmã mais velha, porém aquilo teria que servir.

— Seu pai jurou, com a própria vida, que devolveria Vassa tão logo não tivesse mais uso para ela, quando a guerra terminasse — tamborilou os dedos da mão livre no braço do trono. — Bem, a guerra acabou, mas não vejo sinal algum de minha adorada rainha.

— Meu pai está morto, o rei de Hybern o matou — informou com cautela.

— E você, por mais incrível que pareça, matou o rei de Hybern — riu com escárnio.

Dourada olhou para ela, os olhos arregalados em choque.

— Está dizendo que essa coisa magrela e fraca matou o rei de Hybern? — perguntou incrédula.

Corte de Melodia e Luz Escarlate - ACOTARWhere stories live. Discover now