Capítulo 38

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Sentado próximo à lareira, Azriel se perguntou porque havia aceitado o convite de Helion. Ele, é claro, sabia a resposta, mas começava a questionar quão bom era seu discernimento.

Era sua quinta taça de vinho, adocicado demais para ele, e agora conversavam sobre maneiras de se degolar um macho. Antes, haviam falado sobre qual seria o tamanho perfeito de uma espada — um flerte nada sutil de Helion, ainda que ineficaz — e o modo como as armas eram feitas atualmente — fogo mais agressivo, lâminas que precisavam ser polidas com mais frequência e que eram mais frágeis também.

Helion parecia ter todo um estoque de assuntos bélicos que conversar, o que certamente pensava ser o tópico perfeito para um illyriano. Se fosse Cassian ali, estaria se deleitando com a conversa. Mas com Az… o macho estava indo pelo caminho errado. Gostava daqueles assuntos, como todo macho illyriano gosta, mas depois de cinco rodadas de bebida, esperava algum assunto mais ameno e menos sangrento. Algo mais interessante, por assim dizer.

— Creio que preciso voltar à minha pesquisa — murmurou ele, tentando não soar rude.

Não era mentira, mas queria mesmo era escapar dali. Se Helion desse mais uma palavra sobre armas e golpes eficazes, o Mestre Espião se dissolveria em sombras na mesma hora.

— Se cansou da nossa conversa, Azriel? — o nome dele foi dito como uma carícia, de forma suave e demorada.

Se Az não fosse definitivamente atraído apenas por fêmeas, teria se arrepiado pelo modo como seu nome foi dito. Como não estava interessado em machos, a tentativa falhou miseravelmente.

— Apenas tenho muito o que ler ainda — respondeu de modo indiferente, ainda bebericando o vinho e sem fazer real menção de se levantar.

Não queria ofender o anfitrião, especialmente quando dependiam das bibliotecas dele para encontrar um modo de resgatar Elain. Precisavam desesperadamente decifrar aquelas runas, ou não teriam nada com o que barganhar ou combater Koschei. Nenhuma informação para usar em sua vantagem.

Koschei. Quando por fim descobriram —com a ajuda da Suriel — que Elain havia sido capturada por ele, Az se sentiu um tolo. Esse tempo todo, eles haviam pensado que o sequestro havia sido causado por algum inimigo desconhecido, de algum reino insatisfeito com o novo Tratado estabelecido após a queda da Muralha. Tolos cegos, todos eles. O inimigo estava bem ali, rindo diante de seus olhos pelo desespero que havia se instalado, e eles foram cegos demais para ver.

— Percebi uma certa... Animosidade, entre você e o Vanserra — comentou Helion, com certa indiferença na voz suave. Não queria que Azriel notasse o quanto se interessava pelo assunto.

— O quê, agora está interessado nele também? — arqueou uma sobrancelha.

Helion se engasgou com o vinho, batendo no peito com o punho fechado e tossindo para se recuperar.

— Não, de modo algum — resmungou, a voz ainda trêmula. Ele bebeu mais vinho para passar o mal estar, antes de prosseguir. — Não tenho interesse algum pela prole de Beron, qualquer um deles.

— É a melhor coisa que faz. São todos tão desprezíveis e ardilosos quanto o pai.

Helion semicerrou os olhos para Azriel, incerto sobre a precisão de sua declaração. O illyriano claramente não tinha a nobreza da Outonal em grande estima, dado os eventos da última reunião dos Grão-Senhores, mas será que estava certo em colocá-los todos no mesmo patamar?

O Grão-Senhor da Diurna já havia conhecido Eris e estado na presença dos outros irmãos, com exceção de Lucien. O mais velho parecia ser o mais decente deles, o que não era muita coisa dado o modo como os outros se comportavam. Eles pareciam ansiosos pela morte do herdeiro evidente da corte, o que Helion não conseguia achar normal ou aceitável. Eram irmãos, independente da competição pelo título, e deveriam ser mais unidos. Ele não pôde deixar de imaginar o que Aruna, a senhora da Outonal, achava daquela rivalidade entre os filhos.

— Se Lucien Vanserra é tão desprezível quanto você diz, por que Rhysand e Feyre o mantém por perto? — questionou ele com desconfiança, a mente tentando se focar na conversa, e não na antiga amante.

— Provavelmente porque precisam dele, já que trabalha como emissário da corte nas terras humanas. Jurian e Vassa, por qualquer que seja o motivo, simpatizam com ele — disse a contragosto.

— Certamente, outra pessoa poderia fazer o trabalho — girou a taça na mão, fazendo o vinho dar voltas no recipiente. — Você ou a bela Morrigan. Até mesmo uma das cunhadas de Rhys.

— Sim, qualquer um poderia fazer isso — deu de ombros. — Se quer minha opinião, acho que Rhys gosta de como as coisas estão.

— Por que pensa isso?

Helion se inclinou levemente na cadeira, interessado.

A bebida já começava a fazer efeito na mente de Azriel, de modo que falar se tornava mais fácil e medir suas palavras era um esforço que não queria fazer. Traiçoeiro, aquele vinho da Diurna era bastante traiçoeiro.

— Não acho que ele aprecie a presença de Lucien, mas Feyre ainda nutre amizade por ele e meu irmão não gosta de aborrecer a parceira. Então, Rhys o tolera nos feriados e o mantém longe durante o resto do ano, dando-lhe um trabalho que exige distância como a desculpa perfeita.

O illyriano encheu novamente a própria taça, o doce do vinho deixando de incomodá-lo. A bem da verdade, ele precisava mesmo de uma boa bebida. Aturar Lucien, ainda mais colocando Gwyn na equação, estava sendo um martírio. Mal havia se passado 24 horas e já haviam se desentendido na frente dela.

— Mas ele fez algo que instigasse todo esse desgosto por sua pessoa?

— Não exatamente — deu de ombros. — Ele não foi um bom amigo para Feyre, colocou Tamlin e a Primaveril na frente do bem estar dela. Não a defendeu quando mais importou.

— Entendo — murmurou o Grão-Senhor.

Azriel não sabia, mas Helion entendia melhor do que ninguém. Séculos antes, ele próprio havia cometido o mesmo erro, colocando a segurança de sua Corte na frente de uma fêmea. Não qualquer fêmea, mas aquela que poderia, muito bem, ter sido sua parceira. Ele foi um tolo covarde, fraco demais para lutar por ela.

— Enfim, não tenho qualquer tipo de simpatia por um macho covarde como ele. Feyre e os outros parecem tê-lo perdoado, mas eu não.

— Pelo que aconteceu na Primaveril?

— Não só por isso. Ele foi responsável pelo que aconteceu em Hybern também.

— Você quer dizer que ele foi responsável pelas irmãs de Feyre serem Feitas? — franziu o cenho. — Achei que a decisão havia partido de Tamlin.

— E quem era o braço direito dele? O macho que o defendia com unhas e dentes e se fazia de cego diante dos abusos de Tamlin?

Helion encarou o fogo que crepitava alegremente na lareira. Fogo, tão vívido quanto os cabelos de sua amada e alegre como um dia ela havia sido. Será que aquele macho, Lucien Vanserra, era diferente do pai odioso? Será que poderia ter herdado a bondade e o calor gentil de sua mãe, ao invés da chama furiosa e violenta do pai?

Olá, como vai? Adivinhem quem está de férias?!

Vou tentar postar mais capítulos agora e também dar uma revisada na fanfic, ver o que está com erros e etc.

Notaram que mudei a numeração dos capítulos? Os números romanos estavam começando a ficar extensos demais e isso estava me incomodando. Espero que não se importem.

Até a próxima atualização, beijinhos!

- Anny Fireheart

Corte de Melodia e Luz Escarlate - ACOTARWhere stories live. Discover now