Corte de Melodia e Luz Escarlate - ACOTAR

Capítulo 33

Em um momento, estavam cercados por sombras e escuridão, uma espécie de vento frio açoitando seus rostos. No instante seguinte, a luz do sol ofuscante machucava seus olhos. A primeira coisa que Gwyn notou foi o quão forte brilhava o sol da Diurna, o modo como ele parecia dar vida àquele lugar. Ela imaginou se na Corte Estival era igual, com um verão infinito para agraciar-lhes.

Apesar da força com a qual o sol brilhava, o calor estava ameno e agradável. Uma brisa suave passou por eles, carregando um cheiro refrescante e acolhedor de maçã e alecrim, que lhe lembrava a sua infância em Sangravah. Ela costumava passar os dias ensolarados embaixo de uma macieira, lendo e praticando suas orações ao lado da irmã, antes de começarem a se cutucar e rolar pela grama. A lembrança surpreendentemente não doeu, apenas deixou um agradável gosto de saudade em seu coração e um sorriso saudoso nos lábios.

Lucien soltou sua mão, mas Azriel continuou a segurar a outra. Eles estavam ao ar livre, de frente para as portas do glorioso palácio do Grão-Senhor Helion. A construção era feita de mármore, com altas e elegantes colunas, janelas enormes de vidro e portas de madeira maciça. Era um lindo palácio, com todo o luxo e esplendor que ouviu falar ser a marca registrada do governante daquela corte.

Com um sussurro suave, as portas se abriram. Azriel soltou sua mão, mas se aproximou de forma calma. Lucien assumiu o lugar à esquerda dela antes que fosse possível ver o interior do palácio. Assim que as portas terminaram de abrir, um macho alto e belo, com a pele de um marrom escuro e cabelo preto brilhante, apareceu. Ele se aproximou, suas vestes brancas esvoaçando conforme andava de forma elegante até eles, a coroa com picos dourados reluzindo ao ficar exposta ao sol forte da manhã.

— Sejam bem vindos à minha corte — exibiu um sorriso sensual, abrindo os braços musculosos. O bracelete no formato de serpente reluziu com o movimento, os pequenos olhos de rubi brilhando.

— Agradecemos por aceitar nosso pedido de forma rápida — disse Azriel, esboçando uma meia reverência.

— Ah, Azriel — deliciou-se com o nome. — Que milagre vê-lo sem aquela armadura illyriana. Consegue ficar ainda mais belo, mesmo que o couro lhe caia bem.

Os olhos âmbar se voltaram para Gwyn. Ela fingiu que o calor que subiu para suas bochechas era causado pelo sol forte e não pelo macho à sua frente.

— Você deve ser Gwyneth — acenou com a cabeça.

A pele dele parecia absorver a luz do sol e a refletir de volta, o que poderia muito bem ser apenas uma ilusão de vista. Ainda assim, parecia algo muito impressionante.

— É uma honra conhecê-lo, Grão-Senhor — curvou a cabeça.

— Eu diria que é um prazer conhecê-la — o calor no rosto dela aumentou. — No entanto, recebi uma carta particularmente incisiva de Nestha — disse o nome da sua amiga com sensualidade, tanta quanto a utilizada para dizer o de Azriel —, ordenando que eu fique de olho no modo como me comporto. Se não o fizer, terei meus olhos, mãos e outras partes essenciais arrancadas. Partes que as damas gostam bastante — lançou um olhar significativo para Azriel. — Os cavalheiros também gostam, se quiser saber, Encantador.

Az não disse nada diante da insinuação, apenas semicerrou os olhos para o Grão-Senhor. Helion desviou os olhos para Lucien, que permanecia calado e imóvel do outro lado de Gwyn.

— E você... cabelo ruivo, olho vermelho, vestes pomposas... — sorriu levantando apenas um canto dos lábios, cheio de arrogância — você deve ser um Vanserra.

Gwyn ergueu levemente as sobrancelhas diante do sorriso idêntico que Lucien deu para Helion, tão arrogante quanto aquele que o Grão-Senhor exibia. A sacerdotisa parou para analisar silenciosamente os dois, notando mais semelhanças do que deveriam ter. Os narizes idênticos, as vozes deles se pareciam e a cor da pele... Nestha havia descrito todos os Vanserra como pálidos e sem vida, até mesmo a Senhora da Outonal, mas Lucien... a pele dele era de um marrom claro, mais próxima da cor escura de Helion do que de uma pele branca ao ponto de ser considerada sem vida.