Capítulo 30

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Azriel definitivamente precisava ter uma conversa com Cassian sobre o significado da palavra “exagero”. Aparentemente, o gosto por extravagância de Nestha havia servido como combustível para a inclinação de seu irmão ao excesso.

Na noite anterior, o general havia arrastado todo o Círculo Íntimo para o Rita's, prometendo uma despedida digna para Azriel e Mor. O Mestre Espião argumentou que chamar de despedida era um mau agouro, ao que Cass respondeu com um gesto nada educado e uma ordem para “deixar de ser um bundão mal humorado pelo menos uma vez na vida”.

Para deixar o babaca feliz, Azriel tentou. Ele bebeu até esquecer o próprio nome e dançou com a família até que os pés estivessem latejando e usar sapatos estivesse fora de questão. No final da noite, os idiotas alados que ele chamava de irmãos tiveram a brilhante ideia de apostar uma corrida aérea, como as crianças que eram. O problema é que nenhum deles estava minimamente sóbrio para voar, o que só piorava com o instinto competitivo ridículo dos três e com a estúpida ideia de Cassian de ter como ponto de chegada uma ponte do Sidra.

O resultado não poderia ter sido outro: os três tomaram um banho gelado o suficiente para espantar o torpor do álcool de seus cérebros nada prudentes. Feyre, Mor e Amren haviam gargalhado para as estrelas brilhantes no céu, tão alto que alguém na vizinhança berrou, com toda a razão, para que fizessem silêncio e arrastassem a porra das suas bundas bêbadas para casa.

Azriel abriu um sorriso mínimo ao imaginar o que aquela pessoa faria se soubesse para quem estava gritando. Se fosse qualquer outro Grão-Senhor, teria encontrado o cidadão irritado e feito picadinho dele. Rhys e Feyre, no entanto, apenas deram risadinhas bêbadas e voltaram para casa aos tropeços.

Então ali estava Az agora, com uma merda de ressaca e precisando lidar com a perspectiva de viajar com Lucien Vanserra. Se isso não era o suficiente para pagar por todos os seus pecados, incluindo aqueles que ainda não tinha cometido, então o illyriano não tinha ideia do que poderia ser. Se conseguisse sair daquela missão sem matar o macho, poderia muito bem ser considerado um santo. Ou tão perto de um santo quanto alguém como ele conseguiria ser.

— Dor de cabeça? — A voz de Gwyn cortou o silêncio e o fez se sobressaltar.

Ele girou sobre os calcanhares, encontrando a ruiva parada na entrada da sala de música da Casa do Rio. Az ainda não sabia bem porque Feyre havia feito uma sala de música, já que os únicos com algum talento musical eram Rhys, que tocava piano, e Mor, que tocava violino. Ele não sabia tocar, não tivera a oportunidade para aprender quando era menor e, de qualquer modo, os únicos músicos entre os illyrianos eram aqueles que tocavam nas tavernas. Apesar disso, sua mãe sempre cantava quando tinham permissão para se ver.

Az havia aprendido a amar as canções e entoá-las com habilidade e afinação ímpares, sempre fazendo questão de ter certeza que ninguém estava por perto para ouvir. Não queria ninguém zumbindo em seu ouvido por causa daquilo, criticando as músicas que cantava ou o simples fato de fazê-lo. Rhys e Mor sabiam tocar porque eram nobres, aquele era um talento esperado para pessoas de sangue real. Não era apropriado para alguém como ele ficar cantarolando por aí, não deveria haver música para guerreiros selvagens e sanguinários. Não fora feito para a beleza das melodias. Ainda assim, não conseguia se impedir de ama-las profundamente.

— Azriel? — A ruiva chamou, franzindo as sobrancelhas e tirando-o da corrente de pensamentos — A dor de cabeça deve estar horrível, se não consegue formular uma frase sequer.

Ah, certo. Gwyn havia lhe feito uma pergunta.

— É o preço por ter um idiota como irmão — repuxou os cantos da boca no esboço de um sorriso — O que você e as meninas fizeram a noite toda?

Corte de Melodia e Luz Escarlate - ACOTARWhere stories live. Discover now