Capítulo 43.5

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No dia anterior...

— Isso é inadmissível! — berrou um dos conselheiros ranzizas, o mais jovem entre eles, com apenas cento e dez anos de vida.

Helion estava tentado a expulsar o jovem pela sua insolência. No entanto, ele se obrigou a se controlar, recordando que o pai do rapaz havia morrido lutando na última guerra, sendo leal ao seu Grão-Senhor e liderando um pelotão de cento e cinquenta machos contra Hybern. Infelizmente, o lorde havia estado exatamente na direção do ataque fatal do Caldeirão, não tendo a menor chance de sobreviver.

Os lordes da Corte Diurna tinham convocado aquela reunião emergencial, exigindo que fosse realizada no dia seguinte ao envio da carta. Quando a recebeu, Helion temeu que estivessem sendo invadidos ou recebendo alguma ameaça do tipo, tamanha a urgência das palavras. Emergencial uma ova, era isso que o Quebrador de Feitiços pensava agora que estava ali.

— Por mais de seiscentos anos você nos governou — Blast, o mais velho entre os lordes, mais velho que Helion, finalmente se pronunciou. Quando ele falava, todos sempre paravam para ouvir. — Seiscentos anos em que se portou como um jovem libertino, fazendo suas orgias e falhando com seu povo.

O Grão-Senhor precisou trincar os dentes para se impedir de grunhir uma resposta grosseira. Ele era um dos Grão-Senhores mais velhos de Prythian, ao lado do maldito Beron Vanserra. Sempre tinha se esforçado para cuidar de seu povo, fazer com que prosperassem e fossem felizes. Tinha feito tudo ao seu alcance para assegurar o bem estar deles, inclusive nos períodos de guerra e durante o governo sombrio de Amarantha. Ele foi justo, misericordioso e empenhado durante todos os seiscentos e quarenta e três anos desde que assumiu a coroa da Corte Diurna. E agora os lordes conselheiros tinham a audácia de dizer que ele havia falhado?

— Sugiro — exibiu os dentes brancos e afiados, soltando um pouco a amarra de seus poderes. Apenas o suficiente para que se lembrassem de quem ele era — que abaixem o tom de voz — o mais jovem entre os lordes engoliu em seco, enquanto os outros mantiveram suas poses arrogantes — e me expliquem sobre o que é essa reunião tão urgente para a qual me convocaram às pressas, ao invés de me ofender sem deixar claro o motivo por trás disso.

— Não é óbvio? — Shell, uma das poucas ladies presente, riu com escárnio. Ela era uma bela fêmea de cabelos castanhos e pele e olhos marrom claro — Nós queremos um herdeiro, Grão-Senhor.

O sangue de Helion gelou nas veias diante das palavras dela.

Fazia vários meses desde que haviam tido aquela conversa pela última vez, antes que a gravidez de Feyre fosse anunciada formalmente. Antes disso, o assunto tinha sido postergado por setenta anos. Com a chegada de Amarantha, as cobranças tinham sido habilmente adiadas, pois era inconcebível ter um filho naquelas condições. Aparentemente, os lordes conselheiros ainda se lembravam daquela questão e não estavam tão dispostos assim a evitar a conversa novamente.

— É desse modo que falhou conosco — Duster prosseguiu com a fala de Shell, não dando a Helion a chance de pensar em uma réplica. Com seu cabelo e pele cinzentos, não admirava que seu nome remetesse a poeira, que era exatamente o que Helion estava inclinado a lhe transformar. — Nos governa há seis séculos e, ainda assim, nunca se casou. Nunca deu à sua corte, ao seu povo, um herdeiro.

— Sabe o que vai acontecer se morrer sem um herdeiro, menino? — Blast indagou, olhando para Helion como se ele fosse uma criança.

Com novecentos anos nas costas, não havia como se livrar daquele olhar cheio de experiência e julgamento. Blast tinha servido ao pai de Helion durante duzentos anos de seu governo, sendo um de seus amigos e conselheiros mais próximos. Eles haviam crescido juntos e, se os boatos fossem verdade, tinham até mesmo disputado o favor da mesma fêmea uma vez. Por isso, o velho conselheiro sempre se achava no direito de tratar seu Grão-Senhor como um moleque imprudente. E Helion nunca o punia, porque não conseguia se livrar das memórias de Blast lhe passando doces por baixo da mesa de refeição ou lhe oferecendo uma lição de esgrima quando o pai estava ocupado demais para isso.

Corte de Melodia e Luz Escarlate - ACOTAROnde histórias criam vida. Descubra agora