Capítulo 21

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Encolhida em sua cama, Elain tentava afugentar as memórias de seu último encontro com Koschei enquanto tremia devido ao frio assolador de sua cela úmida. Não sabia em que período do dia estavam, sua noção de tempo estava pior a cada segundo que se passava naquela masmorra úmida e fedida. Ainda conseguia ouvir a voz dele em sua mente, a promessa de diversão e depois a dispensa, que ele certamente concedeu apenas para deixá-la ainda mais ansiosa. Temia descobrir qual seria o tipo de diversão a que ele se referia.

Depois daquilo, as fêmeas a arrastaram de volta para sua cela, mas não fizeram qualquer menção de lhe dar roupas mais quentes ou retirar as correntes geladas de seus pés. Pelo modo como Kaileen lhe olhava, ela preferiu não pedir, temerosa de que a loira resolvesse começar a própria diversão naquele momento.

Agora, tudo que ela podia fazer era torcer para que suas irmãs e o Círculo Íntimo tivessem algum plano em mente para resgatá-la. A ideia de uma troca de reféns a incomodava profundamente, mesmo que Vassa não fosse exatamente uma refém da Corte Noturna. Elain não queria que o seu livramento significasse o fim da liberdade de outra pessoa, especialmente não de alguém que havia ajudado tanto durante a guerra.

Mal conseguia lembrar daquela época sem tremer e sentir o estômago revirar várias vezes. Não sabia de onde exatamente havia tirado forças para atacar o rei de Hybern. O fato de Kaileen ter debochado daquele feito não ajudava em nada, mas ela entendia o porquê da fêmea ter reagido daquela maneira. Se alguém lhe dissesse, um dia antes da batalha final, que ela seria responsável pelo golpe que incapacitaria o maior inimigo deles, Elain riria e pediria que a pessoa fosse ter uma consulta com Madja para checar suas faculdades mentais. Ainda parecia improvável, mesmo agora, que ela tivesse enfiado a Reveladora da Verdade, a espada de Azriel, na garganta do rei.

Pensar nele, no macho illyriano lindo além da conta, fez com que seu corpo se aquecesse, mas não exatamente de desejo. A bem da verdade, ela não sabia mais o que sentia pelo Encantador de Sombras. Meses atrás, as coisas estavam perigosamente próximas de mudar entre eles. Pela Mãe, Elain quase havia beijado ele no meio da sala de estar da irmã.

Depois de Graysen, do modo como ele partiu seu coração em um milhão de pedaços, achou que jamais seria capaz de desejar alguém novamente. Às vezes, ainda sonhava que estava nos braços dele, acariciando seu cabelo castanho e admirando a intensidade de seus olhos azuis. Completamente humano, como ela um dia fora, como uma parte de si ainda desejava ser, mesmo que houvesse se passado meses desde que fora Feita. Havia jurado que não faria aquilo novamente, se permitir querer alguém, prometeu ao seu coração e alma que os protegeria de novas decepções. E havia feito exatamente isso, garantindo que seu parceiro ficasse longe e soubesse que definitivamente não queria nada com ele.

O problema é que ela, sem perceber, acabou abrindo espaço para Azriel em seu coração e mente, tamanho o seu esforço para calar os intintos do laço de parceria. Ele era completamente diferente de Graysen e Lucien. Era quieto, infinitamente paciente e poderoso. Não perdia a calma ou se deixava sucumbir aos instintos animalescos que ela tanto ouvira falar sobre os feéricos. Era um bom amigo e ouvinte, o único que verdadeiramente a enxergou quando foi Feita, que não pensou que ela havia simplesmente enlouquecido. Foi o Encantador de Sombras quem conseguiu por fim desvendar seus dons, descobrindo sua clarividência.

Mas então, ele se afastou. Como se ela não fosse nada, como se eles fossem um erro, Azriel deu as costas e nunca mais lhe olhou nos olhos. Na verdade, ele havia passado a evitá-la por completo. Não realizava mais as periódicas visitas ao seu jardim para tomar chá com ela ou simplesmente fazer companhia enquanto Elain regava as plantas; não havia feito uma visita sequer durante seu aniversário, no mês passado, ou ao menos deixado um bilhete. Ela não dava a mínima para o presente, abriria mão sem hesitar, desde que ele tivesse aparecido para dizer “oi”.

Corte de Melodia e Luz Escarlate - ACOTARWhere stories live. Discover now