Capítulo 37

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Ela dançava alegremente, os pés se movendo tão rápido que aqueles que viam de fora tinham a impressão de que estava flutuando. Nunca havia dançado daquela maneira, tão selvagemente e de maneira desinibida. Todos sorriam ao olhar para ela: a mais bela de todas, a mais formosa.

Um homem se aproximou, com um sorriso largo nos lábios. Graysen. Ela reconheceria aqueles olhos azuis em qualquer lugar. Ali, ele estava mais velho. Não mais um jovem rapaz, ainda na flor da idade, mas um homem formado.

"Ele não sabe que sou feérica", pensou Elain quando a tomou pela mão e começou a guiá-la numa dança lenta demais, sorrindo o tempo todo.

Eles giraram devagar pelo salão, com todos os olhares voltados para os dois. Alguns casais dançavam também, mas toda a concentração dela estava em Graysen, de modo que não se deu ao trabalho de reconhecer quem os cercava.

Quando chegou a hora dos casais se separarem para uma volta pelo salão, no meio da dança, ele beijou sua bochecha antes de ir. Mas não foi Graysen que voltou quando a música se virou para uma batida levemente mais agitada.

Com um sorriso discreto nos lábios, Azriel segurou sua mão com delicadeza ímpar, as asas enormes dando a eles mais espaço no salão lotado.

A música começou a acelerar, mas nem de perto tão selvagem quanto no começo, quando ela dançava sozinha. O illyriano usava um colete de couro, mas as calças eram de um tecido fino e elegante, sem armas a vista, nem mesmo sua preciosa Reveladora da Verdade. Ele a guiava com menos rigidez que seu parceiro anterior, mas era mais delicado nos movimentos, como se ela pudesse se partir caso fossem rápido demais. Era mais minucioso também, dançava com o mesmo cuidado com o qual ela cozinhava: seguindo os passos com rigor, com medo de errar alguma medida e estragar a receita. Não a conduzia de maneira impositiva, pelo que ela era grata, mas tão pouco lhe concedia a liberdade que ela ansiava.

Elain sentia falta de girar e sapatear conforme a música crescia, como fazia no início. Ainda assim, apreciava a companhia de Azriel. Ele era mais gentil que Graysen, sorria de modo acolhedor e mantinha suas mãos respeitosas mesmo nos momentos mais ousados da dança. Além disso, o sorriso caloroso, que ela raramente o via empunhar, a deixava confortável.

De novo, os casais se separaram. E de novo, seu acompanhante não retornou. Daquela vez, foi seu parceiro quem veio ao seu encontro.

E pela primeira vez, para a sua própria surpresa, Elain não estremeceu ou buscou alguma saída diante da aproximação do ruivo.

Ao invés disso, ela se permitiu observa-lo caminhar até ela. Graysen era bonito de uma forma mundana, o que agora ela sabia ser pouco diante da beleza feérica com a qual ela se acostumou. Azriel tinha uma beleza clássica e feições elegantes, diferente dos illyrianos que ela havia visto de relance durante a guerra, incluindo a beleza rústica e selvagem de Cassian. Mas Lucien... Ele era belo de uma maneira completamente diferente. Suas feições eram afiadas, mas não tornavam seu rosto deselegante, e ele possuía aquela beleza etérea apesar das cicatrizes que marcavam seu rosto.

E quando ele se aproximou dela, foi impossível ignorar o modo como seu coração saltou e seu estômago deu cambalhotas. Se percebeu algo, ele educadamente ignorou. Lucien beijou sua mão de maneira polida, então lhe deu um sorriso travesso que só podia significar encrenca.

— Vamos nos divertir, lírio de fogo — cantarolou.

Ele nunca a havia chamado assim, mas pareceu certo assim que atingiu os ouvidos de Elain.

Então, a música aumentou o ritmo. Finalmente, ela atingiu o ápice da agitação, tornando-se propícia para a movimentação pela qual Elain ansiava. Pelo canto de olho, ela notou casais feéricos dançando animadamente. Eles dois não ficaram para trás, rodopiando e batendo palmas conforme a melodia tocada por músicos que ela não via.

Corte de Melodia e Luz Escarlate - ACOTARWhere stories live. Discover now