Capítulo 18

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Agachada no galho de uma árvore alta há duas horas e meia, Feyre considerava seriamente voltar para casa de mãos vazias. Suas pernas estavam rígidas como aço, sabia que iriam doer como o inferno assim que se mexesse. A aljava carregada em seu ombro era um peso familiar, reconfortante, ainda que trouxesse memórias de outra época, quando se arriscava na floresta humana por pura necessidade de ter algo para forrar os estômagos famintos de sua família e dela própria.

Lucien, ao seu lado, encarava fixamente a direção onde tinham montado a armadilha, há poucos metros dali. Ele havia escolhido uma espada de punho simples e uma adaga, pendurados em lados opostos do cinto dele. Não havia dito uma única palavra desde que chegaram, toda a sua concentração imortal em vigiar a floresta atrás da menor indicação da presença do Suriel, o olho mecânico girando como louco e produzindo um barulho mecânico um pouco irritante.

Uma mão gentil, coberta de sombras e estrelas, acariciou seu escudo mental. Ela abriu uma brecha para seu parceiro.

Algum sinal do Suriel?”, a voz de Rhys soou em sua mente, um pouco mais baixo que de costume devido à distância.

Não, a floresta está calma. Se não aparecer até o pôr-do-sol, vou convencer Lucien a voltar amanhã.

Demorou cerca de trinta segundos até que ele respondesse.

Bom, eu estava pronto para pedir isso a você. Já viu como essa floresta é a noite, é melhor voltar na segurança da luz do sol.”, havia um pouco de alívio em sua voz, mas também aquela preocupação familiar e instintiva, que não havia força no mundo capaz de abafar. “Como você está?

Uma parte de mim quer respostas, a outra... Não sei como vou reagir ao encontro com o Suriel, não depois do que aconteceu no Meio. Não sei se estou pronta.

Eu acho que você consegue, não conheço ninguém mais forte do que você.” Declarou com total confiança. “Nós te amamos, sabe?”, enviou uma imagem de Nyx sorrindo com os três dentinhos que já haviam nascido expostos, as bochechas e o cabelo completamente sujos de tinta, a mão de seu parceiro segurando um pincel no alto.

O que vocês estão aprontando?, perguntou desconfiada, sorrindo de ponta a ponta. Sentiu quando aquela luz interior se acendeu e precisou se controlar para não começar a brilhar como um vagalume.

Uma surpresa para a fêmea mais linda de Prythian, mas não conte a ela, respondeu travesso, então se retirou de sua mente com uma carícia de despedida.

Um barulho alto soou e Lucien enrijeceu ao seu lado, começando a descer a árvore com toda a sua agilidade feérica. Feyre o seguiu, armando o arco assim que alcançou o chão coberto de folhas. O ruivo liderou o caminho, os passos completamente silenciosos, a mão no punho da espada, sem desembainhá-la para não correr o risco do brilho da lâmina atrair a atenção do Suriel antes da hora, Feyre o acompanhou na retaguarda.

Lucien congelou à sua frente, desembainhando com graciosidade a espada. Ela deu um passo para o lado, o coração errando uma batida ao ver um galho grosso pendendo da armadilha que haviam montado mais cedo. Sentado em um tronco caído, um bule fumegante na mão cinzenta e com unhas amareladas, estava o Suriel.

Aquele Suriel era idêntico ao outro, o sonhador. Usava um manto velho e rasgado em vários pontos, tinha o rosto com a aparência de osso seco e desgastado, sem pele ou lábios, os dentes muito longos e presos em gengivas escuras, fendas finas no lugar de narinas e olhos de um branco leitoso. Os membros superiores eram cinzentos e magricelos, assim como a parte visível dos pés.

Corte de Melodia e Luz Escarlate - ACOTARDonde viven las historias. Descúbrelo ahora