🔶CAPÍTULO QUATRO🔶

6.2K 484 42
                                    

~*~

Confesso que meu ânimo de sair com Mierra havia passado. Olhei para o relógio e conforme o horário que marcamos de ir a cafeteria se aproximava, maior era minha vontade de ligar e desmarcar.

Faltando dez minutos para as cinco, tomei coragem de mandar mensagem a ela dizendo que seria melhor agendarmos o café pra outra ocasião. Que eu estava mal da garganta.

Mas Mierra não se deu por vencida. "Já estou a caminho da sua casa, tarde demais para me dispensar, mocinha" respondeu com seu bom humor.

Duas buzinadas em frente a minha casa. Pela janela do quarto vi o carro dela parado rente ao meio fio. Ela me viu e acenou retirando seu óculos de sol. O carro: um conversível e isso era o máximo que eu podia explicar sobre automóveis. Mal sabia diferenciar um fusca de uma Brasília.

— Entre. — disse dando passagem.

— Com licença — Mierra pendurou o óculos na camisa — Mas que casa mais bonita!

Ela observou tudo ao redor num tom apreciativo.

— Obrigada.

— Você mora só aqui?

Engoli seco.

— Agora moro. Me separei há poucos dias — respondi sem graça.

Na verdade mal havia completado vinte e quatro horas desde que Roger me pedira o divórcio. Mas menti.

— Ah, ok. Não precisamos falar disso. Parece um tema sensível pra você.

Um alívio tomou conta de mim por Mierra ter sido perspicaz em perceber que o assunto me incomodava.

— Eu vou pegar um chá gelado pra você!

— Samantha, não. Vamos logo, antes que o por do sol se vá.

Ao menos se ela quisesse ficar em casa seria menos torturante. Fato era que eu me sentia feia, nada atraente. Era como se me apresentar em público reforçasse essa ideia de que eu não era bonita o suficiente para Roger. E não seria para os demais. Óbvio que eu me compararia com qualquer mulher que visse. E pior: eu poderia esbarrar com Roger nesse café. Todo mundo da cidade ia lá.

~*~

O café estava cheio. Uma atendente simpática nos guiou até uma mesa para duas pessoas.O sol já se inclinava para trás das montanhas e os raios laranjas e amarelados pintavam o céu azul. O crepúsculo estava lindo.

— Esse cheiro de canela é delicioso — Mierra inspirou profundamente — Acho que vou pedir esse capuccino.

— Ah, é ótimo — Afirmei — a espuminha deles é incomparável. Mas acho que vou de chá gelado.

A atendente anotou os pedidos e minutos depois já tomávamos nossas bebidas.

— Nossa, eu quero te agradecer pela companhia., Samantha.

— Que isso, Mierra. Eu que devo agradecer por me trazer aqui. Eu não ando muito bem. Ter feito uma amiga tem sido importante — O chá desceu deliciosamente pela minha garganta. O gosto de menta refrescou minha boca.

— Acho que os homens são a pior merda que existe na vida de uma mulher heterossexual.

— Também sofreu por alguém?

— Bom, sofrer não é a palavra certa. Eu terminei a relação mas o cara não superou bem. Esse foi um dos motivos que me trouxe aqui, ficar longe dele.

— Eu fui trocada mesmo. Bom, acho que fui. Ele me pediu o divórcio ontem — Queria esconder minha tristeza atrás daquele sorriso amarelo que lancei a Mierra. Não consegui encara-la.

— Poxa. Que bad. Eu sinto muito por você Samantha.

— Tá tudo bem, Mierra. Essas coisas acontecem.

Mierra me contou outras coisas sobre sua vida. Era jornalista, mas pedira demissão para se mudar para o interior. Era filha única e amava dirty dancing. A conversa estava realmente agradável e a companhia dela me fez esquecer do mundo por um tempo e não me preocupar se eu estava bonita ou vestida adequadamente.

A porta da cafeteira se abriu e o sino tocou. Voltei minha atenção para o homem alto de jaqueta de couro preta que parou no meio do saguão. Parecia procurar por algo.

Quando ele mirou em nossa mesa, dirigiu-se até nós. Eu não conhecia aquele cara.

— Mierra. Será que podemos conversar?

Mierra virou-se para observar aquele estranho. Delicadamente ela sorriu para mim.

— Samantha, esse é meu ex marido.

Eu fiquei em silêncio. Era o cara de quem ela estava "fugindo"?

— Prazer, Marcos. - ele me entendeu a mão e eu o cumprimentei.

Sem ser convidado, Marcos puxou uma cadeira de outra mesa e sentou-se conosco. Pela feição de Mierra eu percebi que ela estava desconfortável.

— Está há muito tempo aqui? — Mierra tragou seu capuccino num pequeno gole. O olhar desconfiado para Marcos.

— Cheguei ontem pela noite. Achei que seria mais fácil te encontrar. A cidade é pequena.

— Entendi. E o que aconteceu com aquele nosso trato sobre o tempo que você me daria? — disse Mierra sem meias palavras.

Eu notei que estava assistindo uma DR de camarote. Talvez fosse o momento de tomar um ar do lado de fora.

— Com licença. Eu vou fazer uma ligação. Já retorno — era a desculpa mais que Perfeita.

APAIXONADA PELO MEU ASSASSINO?Where stories live. Discover now