PARTE II - CAPÍTULO 6

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~*~

Apesar do incidente na noite anterior, havia conseguido dormir muito bem, sem pesadelos sinistros ou ficar acordando de hora em hora.

Foi a primeira vez que pude reparar o quão confortável a cama era, com aqueles lençóis brancos de linho e os travesseiros de pena de ganso.

Percorri com o olhar pelo teto elevado e talhado em madeira maciça — e que devia ter muitos anos de existência — e ao me erguer fiz um giro de 360 graus pelo ambiente, me admirando da riqueza de detalhes da mobília, das cortinas que balançavam. Tudo muito suntuoso.

Olhei para o meu celular a direita da cama e estava desconectado da tomada. Tentei ligá-lo mas nada. Bateria zero.

Agachei perto da tomada e o conectei a energia. Depois fiquei pensando na inutilidade daquele aparelho, pois eu ligaria para quem? E quem me ligaria? Acho que só havia Caleb por mim na terra, afinal,  se existisse outro parente, certamente iria me procurar.

Ou não! E se eu fosse uma chata de galocha? Dessas que ascende socialmente e esquece dos próprios parentes? Será?

Após uns dez minutos o Celular ligou aparecendo uma maçã mordida reluzente na tela. Mas estava fora de área e o Wi-Fi vivia instável. Caleb já havia ligado na companhia telefônica e eles vieram verificar o porquê do sinal de má qualidade. Acho que nada foi encontrado e culparam nossa localização no alto daquela colina.

Caleb foi gentil baixando algumas séries e novelas no escritório dele, onde o sinal de internet era mil vezes melhor. Ele deixou tudo em um HD externo junto do notebook para que eu usasse.

Se assisti a dois episódios foi muito. A única que havia me interessado de fato fora Unbreakeble kimmy Schmidt da Netflix. E outro dia fiquei vendo um filme que me deu muito medo —  no Brasil se chamava "Dormindo com o inimigo " — com a Júlia Roberts. Era de 1991. Todavia, fiquei me vendo pela personagem principal e parei de assistir na metade.

— Senhora, já está pronta? Senhor Caleb a espera para o café! — Cassandra estava parada na porta, chegando sem fazer um barulho sequer.

Eu ainda média no celular e ao ouvi-la levantei assustada. Tudo naquela casa me deixava a flor da pele.

— Ah sim — Falei me recompondo e tentando disfarçar o susto — Avise que vou descer. Só o tempo de me vestir.

— Tudo bem, senhora. Quer que eu a ajude?

— Não, Cassandra. Obrigada.

Sem que pedisse, a empregada foi até a cadeira e pegou o vestido do dia anterior para mandar a lavanderia. A olhei caminhando com sua saia longa e preta e parecia levitar e não andar. Como se fosse um fantasma. Além disso Cassandra era pálida, o que somente adubava minha mente fértil e esquecida.

~*~

Caleb lia o jornal. Ergueu apenas os olhos em minha direção para acompanhar meus gestos , sem mover a cabeça. Sentei-me e Cassandra encheu um copo com suco de laranja.

— Já está melhor? — A voz dele ecoou pelo cômodo gigante.

— Sim. Meu sono foi tranquilo. O primeiro desde que me lembro — Apanhava uma torrada.

— Talvez sejam os remédios! — E ao dizer isso o olhar desconfiado dele deixou as letras do jornal e me encarou de vez.

— Sim — Engoli o pedaço de torradas que mastigava após um farto gole do suco — Provavelmente — Mentia.

— Tem certeza, querida? Se não quiser mais tomá-los não vejo problema.

Parecia que a massa espessa da torrada havia arranhado minha garganta. Ou era a ansiedade devido a maneira  obscura que os olhos pretos de Caleb me encaravam. Ele parecia saber de algo.

APAIXONADA PELO MEU ASSASSINO?Where stories live. Discover now