CAPÍTULO DEZESSETE

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    - Sim, por favor!!! Por favor!!!!!!!
  - Por favor o que, Samantha ?- disse mamãe.
  Ao abrir os olhos a avistei parada perto da cama.
  - O que a senhora faz aqui? - Me assustei puxando o lençol para me cobrir. Que vergonha!
  - Esqueceu que tenho as chaves da porta da sala??? - Lembrou-me enquanto abria a janela e afastava as cortinas. O clarão do dia iluminou o quarto rapidamente.- agora se vista e vamos descer que eu quero te apresentar uma pessoa que será capaz de mudar a sua vida!
 

  Mamãe nunca fora uma pessoa exatamente equilibrada. Eu, por exemplo, fui fruto de uma noite quente entre ela e papai em uma boate. Mamãe já chegou a me esquecer na escola um dia. Então eu meio que não confiava muito nas ideias dela.
  - Samantha, dê oi ao Senhor Clovis. Militar da reserva, aposentado. - Mamãe sorria ao apresentar aquele senhor.
  Era um velho com muitos - e MUITOS - anos. A pele dele parecia que ia cair do rosto de tão enrugada. Ele também carregava um cilindro de oxigênio de onde saia uma cânula; a cânula terminava em formato de cateter dentro das narinas. Aquele senhor morreria se não fosse o oxigênio que carregava consigo.
  - Prazer, sou  Samantha! A filha da Joana!
  - O quê? - perguntou ele.
  - Samantha. Sa-man-tha - e só depois notei que ele usava um aparelho auditivo.
  Mamãe sem graça, tentou dar continuidade na conversa. Ela tramava algo, era capaz de pressentir.
  - Então, filha. Senhor Clovis é meu amigo de muitos anos e está procurando uma esposa, coitado! Vive sozinho - mamãe fingia solidariedade, era patético - Aí pensei que vocês dois juntos formariam um belo par!!! - sorria satisfeita.
  - O QUÊ? A senhora enlouqueceu? NÃO, mãe. Que ideia!
  - Não seja ingrata, filha. É para o seu bem. Você não vai sobreviver costurando! E além do mais, Senhor Clovis logo logo bate as botas...
  - O que disse, Joana? - o homem perguntou a mamãe inclinando o ouvido para escutar melhor.
  - Que o senhor gosta de Compota... Compota de mamão, não é? Sam sabe fazer uma deliciosa! - desconversou ela.
  Eu nem sabia o que era uma compota.
  - Senhor Clovis, só um minuto.
  Puxei mamãe para um canto.
  - Olha, eu não sei qual drog***a a senhora tá usando, mas sugiro que procure um psiquiatra urgente. Eu não vou me casar com esse velho, ele esta desintegrando...
  - Como é ingrata, Samantha! Por isso Roger foi embora...
  Quando percebi que ela ia falar sobre coisas que não sabia para mais uma vez defender Roger, eu rumei para o quarto. A deixaria sozinha junto daquele senhor que eu ainda queria saber se estava vivo ou morto.
 

  Seria revigorante correr um pouco aquela manhã. Há dias que não fazia isso.
  Aquele papo com a mamãe me deixou a flor da pele. Ela sempre me lembrava do quanto eu era insuficiente para Roger, que não o merecia ou que eu deveria agradecer por um homem como ele ter me dado uma chance.
  Com os fones sem fio na orelha,  saí pela porta dos fundos. Apenas tive tempo de observar mamãe acertando o cateter no nariz do senhor Clóvis.
 

  O tênis que vestia era confortável e o short larguinho me permitia correr agradavelmente, sentindo o vento acariciar o rosto.
  O sol da manhã entremeava a copa das árvores com seus raios, pássaros cantavam e a brisa gelada anunciava a chegada do outono.
  A rua estava vazia aquela manhã e a música Torn alta - da Nathalie Imbruglia - me fazia imaginar como se eu estivesse num clipe. De algum modo era relaxante e prazeroso.
  Por que mamãe era daquele jeito? Por que papai sempre agia feito um picareta querendo tirar proveito de tudo? E Roger? Será que ele não tinha nem um pingo de remorso pelo que me fizera? Em que momento eu falhei como mulher, esposa, filha?
  Depois dessas ideias veio ela - SIM, ela mesma- a paranoia.
  Pela visão periférica um carro vinha bem vagarosamente atrás de mim. É claro que poderia ser só coisa da minha cabeça, mas quando um dia antes metralham sua casa com milhares de tiros, talvez você devesse ficar mais esperta.
  Pelo sim ou pelo não, apertei meu passo.
  Conforme minha velocidade aumentava aquele automóvel me acompanhava mais rapidamente e fiquei sem coragem de olhar e encarar para descobrir quem era.
  - Está fugindo de mim?
  Parei a corrida e retirei o fone. Era ele, o vizinho. Óbvio que o sonho da noite anterior veio feito um furacão na minha lembrança.
  Caleb estava com a cabeça para fora da janela do carro, com as mãos presas ao volante e provavelmente pisando no freio para diminuir a velocidade do carro.
  E adivinhem qual a primeira coisa que eu reparei? Uhum, os lábios dele. Deus me perdoe!
  - Não, apenas correndo para espairecer. - disse sem graça, pois era como se ele estivesses escutando meus pensamentos.
  Caleb finalmente parou seu automóvel e desceu.
  - Entra no carro, Samantha - disse ele de modo imperativo, me ordenando.

NOTA: pega fogo cabaré!!!! Kkkkkk

APAIXONADA PELO MEU ASSASSINO?Where stories live. Discover now