PARTE II - CAPÍTULO 12

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~*~

Talvez não houvesse trocadilho melhor que este para ilustrar a situação que me encontrava  : " comendo o pão que o diabo amassou".

Há mais de uma dia que toda minha alimentação era baseada em pão. No começo a fome ajudava a mastigar, engolir e me sentir saciada. Porém, só de sentir o cheiro de fermento biológico vindo da massa, o estômago borbulhava em náuseas.

— Talvez um chá de boldo lhe faça bem, senhora. Posso ir à horta colher algumas folhas . — Disse Cassandra retirando a bandeja da minha cama.

— Não, Cassandra. Obrigada. Logo vai passar.

Me estiquei na cama, suspirando com o mal estar e ajeitei a cabeça no travesseiro.

— Raquel ligou? — Mantinha os olhos fechados para me concentrar em coisas positivas e esperar as náuseas sumirem de vez.

— Ligou sim, senhora. Disse que virá após o almoço. Quer que eu prepare algo diferente?

Com os olhos abertos e cheios de ironia ergui o pescoço para dizer:

— Você sabe que não, Cassandra! — Tombei minha cabeça no travesseiro novamente.

— Claro, claro. Mais alguma coisa?

— Não. Pode ir. E obrigada!

— Devo ir visitar uma parente. Hoje é meu dia de folga.

Sim, eu sabia e estava contente por isso.

— Sem problemas. Divirta-se.

~*~

— Esses seguranças sempre estão atrás de você? — Raquel e eu estávamos de braços dados saindo pelo jardim.

— Na maior parte do tempo sim. Caleb acha perigoso que eu saia sozinha pela propriedade.

Raquel revirou os olhos.

— Quem a atacaria nesse lugar isolado? Vocês moram no alto de uma colina! — Acrescentava.

O dia era de sol e um vento agradável soprava sobre nós.

Ainda estávamos há alguns metros da mansão. Raquel deixara sua bolsa sobre a mesa de centro para que fôssemos caminhar. E eu não parava de pensar que está talvez fosse a melhor hora para iniciar o que havia planejado.

— Se importa se eu voltar para tomar um pouco de água, Raquel?

— Não, querida. Quer que eu vá com você?

— Fique tranquila e me espere aqui. Serei rápida e já retorno!

Como caminhava para a mansão, nenhum segurança me acompanhou, afinal, as ordens do meu marido se restringiam a escolta apenas quando eu saísse pelo jardim. Não mencionavam o interior da casa.

Tão logo entrei pela sala fiquei ao lado da janela observando Raquel ao lado dos seguranças de terno preto. Ela vestia-se sempre muito bem. Parecia inquieta com o celular apontado para cima, procurando rede de 4g provavelmente.

Segura de que não seria pega, aproximei-me da mesa de centro. A bolsa de Raquel exalava um cheiro agradável de perfume feminino, de tom levemente doce e floral. Havia muitas coisas dentro da bolsa, entre maquiagens, cremes, chicletes e um pequeno frasco de perfume.

No bolso lateral finalmente encontrei algumas cartelas. No verso li "diazepam 10
Mg". Hesitei por alguns segundos antes de furtar o remédio. Raquel daria falta e poderia chegar a conclusão óbvia de que a ladra fora eu. Porém, se eu fugisse antes, essa questão perderia relevância.

APAIXONADA PELO MEU ASSASSINO?Where stories live. Discover now