CAPÍTULO VINTE

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Eu sabia que o meu questionamento era super pertinente. Porém Caleb não vacilava.
-  Bem, então devido ao que aconteceu ontem na sua sala, vou consertar o que disse: você não atrai problemas. Você os procura. É a única explicação para você ter saído logo de manhã sozinha pelo bairro...
Nesses instante o atendente surgiu com o pedido que Caleb provavelmente fizera no próprio balcão.
- Esse é meu chá favorito! - exclamei muito surpresa.
O vizinho pegou seu capuccino e bebericou sem dar atenção a minha fala.
- Como sabia sobre isso também?
- Sobre o quê?- ele ainda olhava para fora, alerta.
- Que eu gosto desse chá -olhava confusa.
Caleb aprontou com os olhos para um pôster pendurado na parede. Era o mesmo chá que eu bebia.
- Não foi proposital. - complementou ele engolindo a bebida.
As suas respostas sempre eram convincentes e perfeitas. Porém eu sentia como se Caleb soubesse muito mais coisas sobre mim. Primeiro que ele estava nos dois momentos em que eu me encontrava em perigo. E depois pediu meu chá favorito na CoffeeBreath.
- Ainda bem que moro de frente para sua casa, você não é capaz de se cuidar sozinha.
- Não sei de onde tirou uma coisas dessas...
- Oras. Uma mulher bonita como você morando sozinha. Não ê bom... olha só os problemas.
"Uma mulher bonita como você" eu repetia na minha cabecinha. Parecia que uma injeção de ânimo havia sido dada em mim. Me ajeitei na cadeira e me esforçava para não sorrir eufórica. Aquele homem gato logo a minha frente me achava bonita?
Apesar de Caleb tecer esse elogio, sua expressão era monótona , mas não menos atraente.
- Nao precisa se preocupar comigo. - comecei falando após o silêncio.
Eu contornava a boca da xícara de acha com a polpa do dedo indicador.
- Que isso. Tem sido até divertido! Uma adrenalina danada! - Caleb finalmente sorriu olhando para o nada, quem sabe lembrando-se dos dois incidentes.
- Divertido? Algo ou alguém quer me ver morta e você acha divertido?
Ele riu e colocou seu olhar em mim. Caleb transparecia um predador Me olhando, e se fosse um felino certamente saltaria daquela cadeira em direção ao meu pescoço.
Segundos antes me sentia extremamente segura na companhia dele, porém após aquele olhar profundo um arrepio gelado subiu pela coluna espinhal e terminou na nuca. De novo: há coisas que não conseguimos eexplicar, porém sentimos. E Caleb era um homem que escondia coisas.
- Ok. Olhando assim você me assusta, Caleb!
Seu riso se perdeu aos poucos.
- Desculpa. É que... - ele apertava o copo entre os dedos - deixa, nada demais.
O que ele iria falar? Fiquei tão curiosa!
O atendente de antes voltou com um croissant. Dispôs o prato em minha frente desejando um bom apetite.
- É de quatro queijos. Espero ter acertado de novo. - Caleb estava mais descontraído.
- Eu gosto sim. Apesar de não estar com um pingo de fome.
- Mas se alimente, Samantha. Desse jeito vai adoecer. Precisa se alimentar melhor.
Sei que uma separação é algo complicado - ele mencionou meu divórcio com intimidade, como se tivesse acompanhado todo o processo de perto.
- Sim, não foi fácil. Mas tudo passa - me limitei a dizer partindo o croissant ao meio. O queijo derreteu pelo prato.
- Imbecil - murmurou ele para si mesmo.
- Quem?
- Seu ex-marido. Não vejo razões para um homem deixar uma mulher como você.
Corei muito rapidamente. O rosto ardia de vergonha.
- Talvez seja por que eu atraia problemas. - usei o argumento dele para justificar sua própria questão.
- Isso não o torna menos idiota. Bom, cada um faz suas próprias escolhas. Só acho que seu ex marido se equivocou e muito.
Com o tempo eu percebia que Caleb nunca estava cem por cento relaxado. Havia momentos de maior descontração, porém ele sempre estava com um olhar atento, checando alguns pontos ao redor. Aparentava ter sido treinado para tal coisa, como um soldado.
- O que você faz da vida? - Indaguei mordendo um pedaço do Croissant.
- Trabalho com investimentos. Bitcoins e coisas do tipo. E você?
- Bom, casei cedo. Meu ex-marido achou melhor eu não ir para a faculdade, pois queríamos ter filhos. E ele ganhava um salário excelente, então fizemos esse acordo e eu nunca trabalhei.
- E você aceitou? - Caleb empregava um tom de reprovação.
- Quando se tem dezoito anos acho que não há maturidade o suficiente para decidir coisas. Acabei aceitando. Havia muita coisa em jogo.
- E não tiveram filhos, não é?
- Não. Nunca conseguimos. Tentamos de tudo e nada deu certo. - tocar naquele assunto me desmotivava. O croissant na minha boca perdeu o sabor, mais parecendo papel amassado.
- Melhor assim, Samantha. Você ainda é jovem. Só que mais madura.
Engoli aquela massa seca em minha boca.
- Uhum- tomei um gole do chá pra ajudar a descer o bolo na garganta - e com certeza faria diferente.
- Tipo como???
- Ah, eu não teria me casado. Acho que iria para a universidade. Viajaria o mundo...
Caleb vibrou levemente ao notar uma empolgação no meu olhar.
- Qual sua idade, Samantha?
- Vinte e cinco. E a sua?
- Trinta e um. Você é muito jovem!- exclamou admirado.
- São apenas seis anos de diferença - retruquei revirando os olhos.
- faz muita diferença. Quando você tinha doze eu já estava com dezoito. Enquanto você brincava de boneca eu brincava de outras coisas... - riu de sua própria piada olhando para o seu copo de capuccino.

APAIXONADA PELO MEU ASSASSINO?Where stories live. Discover now