CAPÍTULO CINQUENTA E QUATRO

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Meu encontro com Caleb havia sido marcado para as dezesseis horas numa galpão abandonado na avenida Brasil, nas imediações de um bairro da Zona Oeste da cidade.

Tainha não parecia contente após ter aceitado me levar do morro até a pista para que eu pudesse pegar um Uber. Os motoristas de aplicativo não subiam ao topo da comunidade, onde eu estava.

Mierra se soubesse o que eu estava planejando, nunca que permitiria minha ida ao encontro de Caleb. Supliquei ao Tainha que não contasse nada a ela até eu retornar. E Tainha foi mais gentil ainda após providenciar um outro telefone pra mim, já que o meu teria um propósito bem interessante em algumas horas.
Apanhei o celular e abri o aplicativo EyeSpy Fiz questão de ter certeza que ele estava em pleno funcionamento durante todo meu trajeto.

Queria garantir que Roger saberia muito bem onde eu estava. Ou o meu celular, na verdade.
Chequei meu batom no retrovisor do motorista e estava impecável. Vermelho tinto como sangue que eu derramaria naquele fim de tarde.

A roupa preta justa e a bota de couro até quase o joelho faziam eu me sentir extremamente poderosa. E pensar que eu um dia imaginei que estar apaixonada era um dos melhores sentimentos. Nada disso! A sensação de poder era saber que eu tinha uma arma escondida na parte interna da  bota tal como Mierra fazia. Boas inspirações vem de amizades interessantes, não é? Toda mulher deveria ter o direito de se sentir perigosa. É surpreendente.

Mas claro, eu bem sabia que seria imaturo e pouco inteligente da minha parte medir força física com qualquer homem que fosse. Então, deveria usar minha inteligência E ME PRECAVER.

- Senhora, o Patrão vai me matar quando souber o que fiz. Ainda mais se a jararaca da ex-mulher dele for reclamar! - Tainha não parecia gostar muito de Mierra.

- Não sofra por antecedência, querido. Ninguém saberá do que fizemos. Quando eu voltar tudo ficará bem de novo.

- Assim espero, senhora. Minha vida já é difícil demais e eu odiaria perder a confiança que o patrão deposita em mim - Tainha diminuía a velocidade da moto assim que entramos na faixa com asfalto.

Devolvi o capacete ao Tainha ao descer e meus cabelos negros ondulados se esparramaram pelo ombro. Fui rápida ao ajeita-los balançando a cabeça levemente.

- Perdão da pergunta, senhora, mas vai aonde assim, toda bonita?

Havíamos parado ao lado de um carro e pelo vidro da janela pude ver por que Tainha perguntava aquilo. Acho que nunca havia me visto tão bonita e segura de mim mesma como naquele momento.

- Vou me divertir um pouco, Tainha. Toda mulher precisa disso, não?

- Mas senhora, estamos no Rio de Janeiro, no meio da Avenida Brasil. Não acha um pouco arriscado marcar um encontro por aqui?

Tirei os olhos do meu reflexo no vidro da janela do carro e encarei o garoto:

- Não se trata de um encontro comum. Fique tranquilo!

Não sei se foi pela maneira que respondi ou minha entonação um pouco misteriosa, mas Tainha desistiu de perguntar qualquer coisa a mais que fosse.

- E por falar nisso, você esperaria meu uber chegar, Tainha?

- Claro, senhora. Nunca que eu te deixaria sozinha no meio da Avenida Brasil. Os "marmanjo" iam ficar mexendo com a senhora.

Pelo celular eu chamei um uber flash, a opção do aplicativo que permitia o transporte de objetos. De dentro da bolsa retirei um saco plástico e coloquei meu outro celular dentro, aquele em que estava o EyeSpy, aplicativo que provavelmente Roger usava para me espionar. Meu ex-marido não queria me rastrear? Que tal eu manda-lo direto ao encontro de um perigoso assassino de aluguel? Roger estava no Rio de Janeiro, eu havia visto as ultimas movimentações bancarias dele na nossa conta conjunta.

- Está rindo de que, senhora? - Tainha coçou a cabeça.

- De nada, querido. De nada - Respondi fechando o saco plástico.

Em poucos minutos um homem de moto chegou para pegar o pacote em que estava meu celular. O destino seria exatamente o galpão abandonado na Avenida Brasil. O celular chegaria antes de mim ao encontro de Caleb e, consequentemente, de Roger também.

*Caleb*

Samantha poderia ter marcado num lugar menos esquisito. Antes de chegar no galpão precisei passar por duas comunidades diferentes. Sorte que nenhum bandido me parou. Ainda era credenciado pela X-Rent e se fosse pego andando pelas comunidades cariocas os bandidos certamente não iriam me deixar passar ileso.

O galpão era gigantesco e caindo aos pedaços. Abri a imensa porta de metal e parei próximo a uma pilastra enorme cuja base de madeira já estava tomada por cupins e destruída por umidade. Chequei o horário no relógio de pulso e faltava pouco para as dezesseis em ponto.

A ansiedade tomava conta de mim completamente, até parecia que eu estava indo a um primeiro encontro. Era a mesma emoção, com a diferença que eu havia sido contratado para matar Samantha. Trágico. Mas ao olhá-la nos olhos, eu tinha certeza que toda dúvida na cabeça dela diminuiria, iria explicar o funcionamento da X- Rent e sobre como desisti da ideia maluca de fazer qualquer mal que fosse. Até mesmo tinha alugado aquela casa cara bem de frente a dela apenas para ficar por perto, pois eu achava que a Mierra era uma assassina de aluguel. Aliás, a X-Rent poderia a qualquer momento mandar outro agente, era preciso ficar rondando Samantha todo o tempo e evitar que a capturassem.

Será que eu deveria mostrar os extratos do valor alto do aluguel que consumiam boa parte do meu salário?

Não! Seria tolo demais.

Ou talvez eu devesse explicar que coloquei câmeras na casa dela porque precisava monitorá-la vinte e quatro horas. Eu não era um maníaco. Não na minha cabeça pelo menos!

O ar quase faltou e o coração saltava dentro do peito quando ouvi a porta de metal se abrindo. Só podia ser Samantha. Finalmente.


NOTA DA AUTORA: Tu ja votou nessa bagaça? Já adicionou a sua bilbioteca? Faça, por favorzinho kkkk

APAIXONADA PELO MEU ASSASSINO?Where stories live. Discover now