PARTE II - CAPITULO 14

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~*~

Era como viver um pesadelo acordada. Caleb e Raquel sorrindo com cinismo enquanto rodeavam a cama em que estava deitada. A enfermeira sorriu para mim, tirando o acesso venoso do meu braço. Ela não fora capaz de perceber o desespero em meu olhar, infelizmente.

— Está de alta, querida! O doutor pediu para eu ajeitar tudo para você ir para casa!!!

Eu olhei confusa para ela. Não era aquilo que eu havia entendido na visita que o médico me fizera mais cedo.

— Mas o médico disse que ainda precisaria ficar... Imaginei que a alta seria em outro momento.

— Não é incomum os médicos se confundirem, menina. Mas não está feliz pela alta??? Quer ficar conosco? — Espantava-se ela. Não devia ser comum um paciente ficar incomodado por receber liberação.

Mas se permanecesse ali, talvez tivesse tempo para pensar em uma maneira de escapar do meu marido e nao voltar à mansão. Só Deus poderia dizer o que ele seria capaz de fazer comigo quando eu retornasse. Era uma questão de vida.

— Estamos muito felizes de ter encontrado você! — A encenação de Raquel fingindo ser minha amiga era ridícula — Pobrezinha, ainda não deve se lembrar de muita coisa... — Dizia ela a enfermeira enquanto afagava meu braço.

O medo foi dando um lugar a raiva e indignação. O que eles queriam de mim? Por que me pegaram naquele saguão de hotel? Raquel era mesmo quem dizia ser? Caleb?

Eu sabia que havia muito mais coisas para serem lembradas, mas o que?

Apesar do ódio, fui tomada por uma energia interior de calma que me era útil para controlar meus sentimentos e agradeci a enfermeira quando ela terminou de retirar o cateter.

— Prontinho , Samantha. Apenas segure um pouco o algodão bem apertado para não sangrar onde o cateter estava, ok?— Ela desprezou o material e a luva numa Cuba — Espero que fique bem e boa sorte! Até
Mais!

Próximo a porta via Caleb conversando com o médico. Ele me olhou e sorriu em satisfação a algo que ouvia o doutor contar. Provavelmente era a notícia da minha gravidez. Depois apertou a mão do médico em agradecimento e caminhou até mim.

— Vamos, meu amor? — Eu era capaz de decifrar cada nota de ironia em seu tom de voz. — E obrigada pela ajuda, Raquel.

— Estarei aqui para o que precisar! — Ao dizer isso, Raquel me olhou de maneira sombria.

Caleb nunca perdia um jogo. Ele não jogava sozinho.

~*~

Ficamos em silêncio por um tempo no carro. Retirei o algodão preso no local da punção e guardei no bolso da minha roupa — a mesma que usei na noite da fuga e que estava suja de terra.

Minha cabeça era tomada por um turbilhão de pensamentos, principalmente sobre como seria retornar a mansão. Era fato que Caleb ficaria pior com as punições e castigos — embora eu não soubesse como ele reagiria diante gravidez. Provavelmente me prenderia dentro de casa e eu ficaria ensandecida sem poder sair.

Era preciso uma medida drástica, ainda que isso pudesse custar a minha vida.

— O que passou pela sua cabeça achando que conseguiria fugir de mim, an? — Caleb mantinha as mãos firmemente presas ao volante — A sua tentativa de escapar foi a coisa mais tola que você poderia ter feito, Samantha!

Meu marido não lançou um olhar sequer e ainda assim era capaz de me amedrontar como se uma arma estivesse sendo apontada em minha direção.

— Eu conheço todos nessa cidade. Do melhor
Policial ao pior criminoso. Todos aqui me devem algum favor ou me respeitam. Achou mesmo que minha esposa desapareceria e ninguém iria me ajudar a encontrá-la?

Dessa vez ele me olhou rapidamente. Eu via uma chama de ódio arder nas pupilas do meu marido. Ele não gostou de ser passado para trás.

— Agora não consegue falar, não é, Samantha?— Ele ria — Vai me dizer que pensou que eu deixaria Raquel ser sua amiga gratuitamente? — Outra pausa — Mas devo admitir que você é esperta. Colocar sedativo na comida dos seguranças... Astuta, você! Pena que foi pega!

Que raiva eu sentia. Era um ódi*incapaz de descrever.

As perguntas que ele me fazia em sua maioria eram retóricas. Apenas me mantinha submersa naquela angústia sem saber o que me aconteceria de fato. Eu não responderia a nada do que me fosse indagado.

O carro tomava a estrada deserta pela qual percorri durante a fuga e íamos subindo em círculos a colina.

Começava a escutar o som das ondas arrebentando nas pedras e o barulho das gaivotas sobrevoando o mar. A cada quilômetro que o carro andava ficávamos numa altitude maior. O ar rarefeito somado ao meu desespero me provocou uma taquipneia discreta.

Ou talvez fosse ansiedade. Ansiedade pelo que eu estava prestes a fazer naquele Instante. Durante a minha fuga, enquanto Caleb me perseguia mata adentro, prometia a mim mesma que jamais voltaria para aquela casa. Mesmo que isso custasse a minha vida.

E era chegado esse momento. Eu olhei o painel do carro e estávamos a quase 100 km por hora, apesar da subida. Não haveria tempo de Caleb frear. Ele não me teria como um de seus brinquedos.

Respirei profundamente, fechando os olhos. O que faria naquele momento me custaria a vida. Mas não haveria outra maneira. Eu só voltaria para a mansão morta.

E subitamente eu puxei o antebraço de Caleb — Com muita for — fazendo com que sua mão girasse o volante todo para a direita, para a beira do precipício.

— O que está fazendo??! Vai nos matar!!!! — Caleb cerrou os dentes lutando para controlar o carro. Parecia fazer um força imensa para tomar a direção do veículo.

Porém, devido a alta velocidade, o carro ficou desgovernado e bateu na cerca que separava a pista do precipício, onde a queda nos levaria as pedras na praia.

Ouvi o barulho do pára-choque se arrebentando com o impacto e nossos corpos se sacudirem dentro daquela lataria toda. Eu queria gritar, Porém eu mesma provocara aquilo.

Não permitiria ser subjugada pelo meu marido outra vez, ser manipulada pelas angústias de não me recordar de coisas do meu passado. De gerar um filho daquele monstro. A morte seria um consolo que naqueles meses todos eu não tive.

Acho que tudo acontece muito rápido em uma situação de acidente dessas. Mas para mim as coisa no interior do automóvel despencando daquela altura, Corriam de maneira lenta.

Eu via tudo girando, o sangue subindo para cabeça, minha testa batendo no teto do carro. Era o som do fim, O barulho da morte.

E então o carro finalmente se chocou com
As pedras que beiravam o mar na praia. O impacto foi muito intenso e perdi os sentidos completamente.

~*~

Um tosse salgada saiu pela garganta e sentia meus pulmões se re-expandirem. Uma dor intensa no meu tornozelo me fez imaginar que o havia fraturado. A tosse salgada se revelava ser sangue.

Milagrosamente o carro ceou de pé. Ao meu lado Caleb estava desacordado — ou morto — com um ferimento Na cabeça.

Tentei tirar o meu cinto de segurança mas emperrou durante o acidente. O cheiro de gasolina era forte e o veículo poderia explodir a qualquer momento com aquele vazamento de combustível. Teria de sair dali o mais depressa.

Desesperada eu usava toda a força que conseguia para deixar o carro, mas sem muito sucesso. E então, tomada pela distração na minha luta pela sobrevivência, gritei assim que na janela ao meu lado, uma pessoa estranha encapuzada apareceu, como em um filme de terror.

APAIXONADA PELO MEU ASSASSINO?Where stories live. Discover now