CAPÍTULO TRINTA E TRÊS

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Eu estava adorando brincar de "mulher poderosa" com aquela arma na mão. Mal havia passado do segundo tiro ou aprendido a puxar um gatilho e já personificava a Charlize Theron em seus filmes de ação. Acho que muitas garotas sonharam em ser femme fatale.

- É divertido, não é, Sam?

- O quê? - Indaguei com a arma apontada para ele.

- Esse poder que está sentindo agora. Você manda na situação. - Outro passo, a brincadeira estava ficando interessante - Já matou alguém? - Apesar de seu riso debochado, Caleb não parecia estar brincando.

Me lembrei de Mierra firme e ereta apontando a arma para Marcos naquele pátio do shopping. Ela pareia tão poderosa. Era daquele jeito que se sentia? Magnifica? Empoderada?

- Nunca matei ninguém! E você?- devolvi a pergunta.

- O que você acha? - Ele já estava muito perto de mim, me encarando. O cano do revolver encostava em seu peito.

- Eu não sei dizer, Caleb. Não sei quase nada sobre sua vida. Fica difícil opinar, não acha?

Caleb olhou pra arma e depois para mim. Era só um joguinho qualquer, mas ele me observava com seriedade. E num momento de distração, Caleb puxou meu punho e retirou arma de mim, ao mesmo tempo que num golpe rápido me mantinha presa frente ao seu corpo, evolvendo minha cervical com o braço esquerdo. Com a mão direita colocou A arma engatilhada bem na minha têmpora.

- Teria coragem de atirar em mim? Tem medo de que eu descubra algo, caleb? - E eu sentia mais e mais vontade de desafiá-lo. Queria vencer aquela disputa.

Ele não disse nada e apenas o ouvi soltar o gatilho. Fechei os olhos, Caleb ia realmente atirar?

Então me dei conta daquela loucura toda, como se tivesse despertado de um transe. Gritava já imaginando que haveria uma bala bem na minha cabeça.

- Calma... Eu jamais atiraria em você - Ele me soltou no mesmo instante. Caleb abriu a arma e estava completamente descarregada - Achou mesmo que eu ia te dar uma arma cheia de balas? Havia apenas duas. Se você não confia em mim, eu também não ia confiar totalmente em você, Sam. Via de mão dupla. - disse com a arma pendurada no dedo indicador.

De algum modo ele estava certo.

- Na próxima não deixe a sensação de poder te distrair, pois alguém pode colocar o cano de um revólver bem na sua cabeça, como fiz agora há pouco. Te garanto que na maioria das vezes a arma estará totalmente carregada.

Ele foi até a maleta prateada e carregou o revolver com mais algumas balas. 

- Venha, mocinha. Vamos continuar!

*******

Praticamos um pouco mais, e  eu não parecia ter avançado muito. Caleb me disse que levaria um tempo até adquirir prática, mas só de perder o medo de tocar em um revólver já ajudaria.

A chuva caia pelo lado de fora sem trégua. Raios acendiam o céu e o som dos trovões que se seguiam dispersava pelo ar.

- Acredito que não vá passar tão cedo essa chuva - Ele olhou em seu relógio de pulso - Tenho um guarda chuva em algum lugar aqui.

Caleb encontrou o guarda-chuva e fomos para fora do galpão. Estava escurecendo mais cedo por conta do tempo chuvoso e nublado. Embaixo do guarda-chuva cabia muito bem duas pessoas, porém Caleb correu para a tempestade.

- Não acredito que você irá se molhar de propósito, Caleb.

- Que foi? Só por que estou de camiseta branca não devo?

- Vai ficar transparente, você sabe, não é?

- Ué, e qual problema? Enxergue isso como uma reparação histórica. Um gesto feministo.

- O quê? Que droga você tá usando? - Debochei caminhando para o carro, vendo as peripécias de Caleb, como se fosse um adolescente brincando na chuva.

- Bom, o que eu quis dizer é: Se isso aqui fosse um filme certamente o diretor te colocaria de blusinha branca sem sutiã. Colocaria pensadamente um chuva em cena para te deixar encharcada, com a roupa transparente. Ia ficar sexy, tenho certeza. Mas essa aqui é a minha vez... Eu que vou ficar sexy para você. Ou ver meus mamilos te incomoda?

Eu ria. Caleb estava com um excelente humor naquele fim de tarde.

- Não, seu besta. Faça o que quiser então.

E com bom humor, ele foi caminhando pela tempestade, enquanto eu permanecia embaixo do guara-chuva. Caleb chutou uma poça e já estava todo encharcado. De fato, eu não me incomodava nem um pouco de ver os mamilos dele pela camiseta transparente. Nem isso e muito menos o tecido ensopado grudando em sua pele, o abdome desenhado aparecendo.

Se Caleb queria parecer sexy, ok, ele havia conseguido com sucesso. Diabos!

- Como estou me saindo? Estou muito sensual, não estou, Sam?

Propositalmente ele contraiu o bíceps, fazendo uma careta.

- Bom, talvez um pouco me os agora, senhor Caleb - respondi rindo.

- Dr**oga. Essa parte era o ápice do meu show. Creio que eu deva parar aqui então. Você é muito exigente!

Nós ficamos um tempo dentro do carro parado. Caleb ligou o som em uma música qualquer e nos mantivemos em silêncio. Ah, como era agradável estar ali com aquele homem que até algumas semanas era um completo desconhecido. Eu não sabia como ao certo o havia deixado entrar em minha vida, e nem entendia por que ele se preocupava comigo, mas eu estava adorando.

Naquele dia pude ver um lado dele, um lado mais descontraído, menos duro e totalmente engraçado. Caleb mais parecia um garoto de colegial fazendo brincadeiras no intervalo das aulas.

- Curte Scorpions? - Ele levou a mão ao som e aumentou o volume.

- Acho meio antigo. Mas nada contra! - Disse.

- Essa aqui é minha preferida. Still lovin you. Essa guitarra me deixa louco.

Caleb estava com os olhos fechados, parecendo sentir a música. Eu sorri ao vê-lo se divertir. Era tudo tão especial: o barulho da chuva, o ar gelado, as brincadeiras dele e nós dois juntos ali naquele carro.

- Caleb. - O chamei.

- Diga! - Ele abriu os olhos e me encarou.

- Obrigada.

- Pelo quê, mocinha? - Ele puxou minha mão e deu um beijo, me fitando com aquele olhar tentador.

- Pelo cuidado, preocupação. Eu vou ser sincera. Não sei se posso confiar totalmente em você, ou se vou meter os pés pelas mãos, só que eu me sinto bem quando estamos juntos. Óbvio, também fui casada por anos com um cara que simplesmente me traiu, que hoje eu nem sei se conheço de verdade. Então, teoricamente nem seria um erro te deixar entrar na minha vida, né? Enfim, só queria dizer isso. Obrigada por tornar esses dias mais leves... Oh, Deus... Isso foi meloso, não foi?

Caleb ria da minha cara.

- Um pouco. - Disse não conseguindo mais segurar a gargalhada.

- Você é um tonto, Caleb. Equece!

- Calma, Sam. Sério. Eu gosto muito de ter você por perto. Você está certa, realmente é pouco tempo desde que nos conhecemos, porém sinto necessidade de manter você segura. Eu já te disse isso. É um sentimento que não sou capaz de explicar. E sem contar que você é uma companhia muito agradável! As vezes cabecinha dura, mas agradável!

Eu me sentia muito feliz naquele exato momento. As palavras dele entravam como música em meus ouvidos e era como se houvesse borboletas no estômago. E  agora era o barulho da música misturada ao som dos Scorpions. Com certeza Still lovin you marcaria todo aquele tempo.

E segredo: o beijo dele embalado naquela canção foi uma das coisas mais mágicas que me ocorrera em anos. Eu estava boba, piegas e emotiva. Eu estava definitivamente apaixonada por um cara que eu não conhecia. Era o auge!

APAIXONADA PELO MEU ASSASSINO?Onde as histórias ganham vida. Descobre agora