CAPÍTULO TRINTA E NOVE

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Todas as coisas que Caleb me dissera a respeito daquela que eu achava ser minha amiga vieram a tona na minha mente quando a chamada caiu. Se nem mesmo Caleb sabia sobre o que acontecera naquela manhã, como simplesmente Mierra dizia estar com mamãe?

Claro, não provava nada, porém era algo muito esquisito. Ao menos que Mierra tivesse poderes mágicos, eu estava prestes a crer que ela sabia muito mais coisas da minha vida que eu imaginava.

Olhei para Caleb ao meu lado e após contar o ocorrido ele não me disse uma palavra sequer. Imaginei que fosse se gabar, dizendo que tinha razão, que Mierra era sim ex-mulher de bandido e nada confiável. Mas manteve silêncio, talvez porque também entendia que se suas suposições estivessem corretas eu ficaria extremamente chateada por perder uma amiga que confiava.

- Mamãe, o que houve? - A abracei com força ao chegar em casa.

- Não me lembro, Sam. Sei que estava aqui na sala lendo uma revista e depois disso não me recordo de absolutamente nada. Despertei próximo aquela cafeteria que você costuma ir... A CoffeBreath.

Caleb esperava mantendo distância, próximo a porta, talvez não querendo atrapalhar o momento. Papai apareceu logo em seguida.

- Joana! Que susto nós levamos! Machucaram você?

- Não, estou em perfeito estado. A amiga da Sam me encontrou e me deixou aqui. Eu não a conhecia, filha - mamae se dirigia a mim - Uma moça muito gentil!

Respirei fundo.

- E por que ela não me esperou? - indaguei.

Nesse instante olhei para Caleb. Eu estava realmente desconfiada da minha melhor amiga.

- Não sei, Samantha. Ela apenas partiu. Talvez tivesse algum compromisso!

Fui a cozinha e Caleb me seguiu. Ia preparar um chá quente para mamãe.

- Acho que você estava certo! - Murmurei com exaustão.

- Não pense que estou feliz por isso, Sam. De verdade...

Caleb afagou meu braço, em condolência.

- Ela não atende as minhas chamadas. Me bloqueou no whats app... Que dr**oga!

A água na chaleira já fervia e percebendo meu abalo, Caleb preparou o chá em meu lugar. Não tinha nem ânimo de impedi-lo.

- Quem é esse bonitão que não me apresentou, filha? - Disse mamãe pegando a xícara da minha mão.

- Não seja inconveniente, Joana! - Advertia papai.

- Você não manda em mim, seu velho chato! Diga, filha. Apresente o rapaz... - mamãe sorria.

- Meu nome é Caleb. Sou o vizinho que mora logo a frente. Prazer em conhecê-los...

- Prazer, rapaz - Papai apertou a mão de Caleb - Desculpe não ter te cumprimentado lá na delegacia. Foi pela situação.

- E você faz o que da vida? Tem cara de empresário... - Mamãe de fato estava sendo inconveniente.

- Faço investimentos, senhora. - Respondeu Caleb educadamente.

Como essa palavra deve ter soado bem aos ouvidos de mamãe, ela se deu por satisfeita.

- Bom, Samantha, vou deixá-la a sós com seus pais. Se precisar de mim sabe onde me encontrar. Mais uma vez foi um prazer conhecê-los, senhores! - Disse ele se despedindo.

O acompanhei até a porta e quando Caleb tentou me beijar desviei rapidamente para que papai e mamãe não me enchessem de mais perguntas. Caleb compreendeu quando apontei com olhos para os meus pais na sala. Ele riu e me mandou um beijo depois de morder o lábio inferior.

- Filha, ele é um garanhão - Disse ela bebericando seu chá- Mas escuta, lembrei agora. Ao meu lado quando acordei achei esse cartão.

Mamãe foi a mesinha e me entregou o cartão de que falava.

Estava escrito X-rent na parte da frente e atrás havia um QRcode.

E tudo se embaralhou outra vez na minha cabeça, pois era exatamente o contato que eu vira no celular de Caleb . X- Rent.

E do outro lado estava minha melhor amiga que encontrara o paradeiro da minha mãe sem eu nunca ter mencionado a ela sobre o tal sumiço. Eu não sabia mais em quem confiar.

********

A confusão de ideias permaneceu por toda aquela semana. O vizinho havia viajado outra vez sem me informar absolutamente nada, o que só aumentava minhas dúvidas sobre ele também.

 Caleb era o cara por quem eu estava apaixonada. A última noite de amor com ele havia sido simplesmente fantástica. Não me lembrava de ter me sentido bem assim há muito tempo! Na parte oposta do tabuleiro estava Mierra, uma amiga recente mas que me trouxe coisas boas, motivadora e agradável. Me via entre uma amizade e uma paixão, prestes a levar um xeque-mate. Mas de que lado?

Olhei para o endereço anotado no bloco de notas do meu celular, aquele mesmo do cnpj de quando procurei por "x-rent" no google. Ao descer do uber dei de cara com um prédio de altura mediana, aparentemente nada suspeito.

A faixada era toda de tijolinhos marrons graciosos - estilo britânico- com um ar acolhedor.

Me encolhi no casaco naquele fim de tarde fria de outono e tomei o rumo para a entrada do prédio. Havia muitas pessoas entrando e saindo daquele local, talvez pacientes ou clientes de advogados. O que era ótimo, afinal, eu seria apenas mais uma. Contudo o que eu faria ao entrar? Não havia consulta marcada para mim com médico e muito menos advogado.

A moça da recepção me encarou com curiosidade, talvez percebendo que eu estava um tanto deslocada sem saber para onde ir.

- Posso ajudar? - Disse ela com um sorriso gentil.

Eu olhava para a moça tentando inventar algo convincente.

- Acho que errei o endereço! - Foi o máximo que consegui pensar segurando o cartão que mamãe me entregara no domingo.

- E está procurando pelo quê? Talvez eu possa ajudar.

- A casa de uma amiga. Não deve ser longe daqui. Provavelmente errei o endereço ao chamar o uber - Fiquei parada por um tempo olhando para a atendente- Que mal lhe pergunte, esse prédio é de quê?

Ela olhou a volta como eu fazia.

- Uma prédio comercial. Há consultórios médicos e escritórios de advocacia. Fazem parte do conglomerado dos Monroe.

Quê?

- O mesmo dos hotéis? - Indaguei chocada.

- Sim, aquele enorme que tem na cidade ao lado. Conhece?

Eu estava mais e mais confusa, nada fazia sentido. Quanto mais coisas eu descobria , mais distante da verdade parecia estar.

- Sim, sim, conheço. É enorme mesmo.

- Sam? - Disse uma voz grave vinda do elevador que se abria após um tinido.

Era Roger, me olhando de maneira confusa. Aparentava estar a trabalho.

Minha vontade era de gritar, os neurônios torravam. Ao tomar a decisão de ir até aquele endereço, objetivava respostas. E tudo que consegui foi unir Mierra, Caleb e Roger em uma única suspeita graças ao cartão que mamãe me entregou há uma semana.

Estava prestes a enlouquecer. Havia um complô? Os três estavam mentindo? E os bandidos daquele beco, quem eram?

APAIXONADA PELO MEU ASSASSINO?Where stories live. Discover now