100 - Eles estão bem.

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A van balançou de novo e as mãos de Lawrence agarraram o volante com firmeza. Thomas se virou e examinou as janelas traseiras, mas lá não havia nada. Quem quer que tivesse subido na van, estava aguardando.

Scarllet o cutucou com firmeza, obrigando a voltar a atenção para frente. Um rosto apareceu no para-brisa, encarando-os de cabeça para baixo. Era uma mulher, o cabelo esvoaçante ao vento.

Lawrence enfiou o pé no acelerador e saiu a toda velocidade. Os olhos da mulher encontraram os de Thomas e ela sorriu – um conjunto de dentes perfeitos, para sua surpresa.

— Por que elas sempre sorriem pra você? Nunca viram um cara bonito?

— Obrigado. Em que ela está se segurando? – perguntou Thomas.

Lawrence respondeu, a tensão evidente no tom de voz.

— Quem é que sabe? Mas não vai durar muito.

De repente, Lawrence pisou no freio. A mulher voou no ar, projetada adiante como um disparo de granada, os braços girando e as pernas estendidas, até se esborrachar no chão. Thomas se encolheu e cerrou bem os olhos, depois se esticou para observá-la. Era inacreditável, mas ela já se movia, sacudindo o corpo e ficando de pé. Retomou o equilíbrio e se virou devagar na direção deles, os faróis da van fazendo reluzir cada pedacinho do corpo dela.

Agora não sorria mais, absolutamente. Em vez disso, os lábios tinham se curvado em uma careta feroz e um grande ferimento avermelhado marcava a lateral do rosto. Os olhos se fixaram em Thomas mais uma vez e ele estremeceu.

— Você a deixou irritada! – reclamou Scarllet. – Desvie dela e nos leve embora logo.

Lawrence deu a partida no carro. A Crank parecia prestes a se lançar na frente do veículo, como se de algum modo pudesse detê-lo, mas no último segundo deu um salto para trás e só ficou vendo-o desaparecer pelo caminho. Scarllet e Thomas não conseguiam desgrudar os olhos dela, e na última olhada que deram, o rosto da mulher se contraiu e os olhos clarearam, um brilho de lucidez, como se acabasse de compreender o que havia feito, como se ainda houvesse ali algo da pessoa que fora um dia.

Testemunhar aquilo tornou tudo ainda pior para eles. Scarllet não pode evitar as lágrimas que surgiram em seus olhos.

— Aquela mulher era um misto de lucidez e loucura. – comentou Thomas.

— Devemos agradecer por ter sido apenas uma. – murmurou Lawrence.

Thomas virou-se para a amiga, que continuava em silêncio, os olhos perdidos na escuridão das ruas vazias.

— Scar?

— Hum? – ela murmurou, ainda focada no lado de fora da van. A cena da Crank retornando a lucidez a deixou completamente perdida

— O que foi? Você está bem?

— Como... como você acha que eles estão?

— Minho e os outros? Estão bem. – Scarllet balançou a cabeça, negando.

— Newt e Nick. Acha que eles... estão assim?

Ela o olhou, queria que Thomas dissesse a verdade. Queria que ele assumisse para ela o que seu coração não queria acreditar, mas que o seu cérebro não parava de repetir.

Em que fase do Fulgor seus melhores amigos devem estar agora?

— Não. É claro que não. – Thomas estava um pouco nervoso ao dizer isso. Nem mesmo ele acreditava no que estava dizendo e aquilo fez com que Scarllet sentisse ainda mais vontade de chorar. – Eles estão bem.

Ela bufou, irritada por ele estar tentando engana-la.

— Ficou claro que você não acredita no que acabou de me dizer.

Thomas não respondeu, mas colocou a mão sobre a dela.

Chegaram ao fim da viela e Lawrence virou à direita, saindo em uma rua maior. Pequenos grupos de pessoas preenchiam a área á frente. Algumas lutavam, mas a maioria vasculhava o lixo ou comia coisas que encontraram pelo caminho. Rostos assustadores e fantasmagóricos se voltaram e os encararam com olhos inexpressivos ao passarem por eles. Ninguém na van comentou nada, como se temessem que, ao falar, pudessem chamar a atenção dos Cranks lá fora.

— Precisamos ser mais cuidadosos agora. – disse Lawrence, desligando os faróis e aumentando a velocidade.

À medida que seguiam pela rua, a escuridão foi tomando conta do local, até que Scarllet não conseguisse enxergar nada além de sombras enormes e disformes, imaginando se não esconderiam alguém que de repente saltaria a frente deles.

— Talvez não devesse dirigir tão depressa. – disse Thomas.

— Vai dar tudo certo. Já fiz esse caminho milhares de vezes. Conheço tudo aqui com a palma da nu...

Thomas voou para frente e foi projetado de novo para trás devido ao cinto de segurança.

Haviam passado por cima de alguma coisa, e aquilo se arrastava sob a van. Algo de metal, pelo ruído que havia produzido. O veículo deu alguns solavancos e depois parou.

— O que foi isso? – sussurrou Scarllet.

— Não sei. – respondeu Lawrence, a voz ainda mais baixa. – Provavelmente uma lata de lixo ou algo assim. Fiquei apavorado.

A van voltou a se movimentar e um grito alto e rouco invadiu o ar. Em seguida, ouviram um baque surdo, outro estrondo, e tudo caiu em silencio.

— Dessa nos livramos.

Lawrence voltou a andar com a van, aliviado. Agora, ele reduziu a velocidade.

— Não é melhor ligar os faróis? – sugeriu Thomas. – Não consigo enxergar nada lá fora.

— Luzes apagadas não vão mais adiantar. – afirmou Scar. – É impossível que eles não tenham escutado o que acabou de acontecer.

— Imagino que sim. – disse Lawrence, ligando os faróis.

A iluminação do veículo tomou conta da rua e, comparada a escuridão anterior, parecia mais ofuscante que o Sol. Scarllet estreitou os olhos diante da claridade, depois os abriu, e uma onda de terror tomou conta dela.

A cerca de uns seis metros a frente havia umas trinta pessoas amontoadas, bloqueando a rua por completo.

Ela não demorou mais do que um segundo para erguer o lança granadas, pronta para se defender. Thomas seguiu seu movimento, destravando sua pistola.

Os rostos pálidos e cadavéricos exibiam arranhões e feridas purulentas. Roupas rasgadas e imundas pendiam de corpos esquálidos. O grupo ficou ali, observando as luzes brilhantes, como se não se sentissem nem um pouco intimidados. Pareciam cadáveres recém levantados dos túmulos. Thomas sentiu um calafrio pelo corpo. Scarllet se remexeu, nervosa. O que eles estavam esperando para ataca-los?

A multidão a se dividir. Moviam-se de modo sincronizado, e um grande espaço se abriu no meio da rua enquanto recuavam para as laterais. Um deles acenou, mostrando que a van poderia seguir em frente.

— Que Cranks mais educados. – sussurou Lawrence.

— Faça um desvio. – avisou Scarllet, a voz mais séria do que nunca. Mas agora, Lawrence já estava dirigindo em direção aos Cranks. – Faça um desvio. É uma armadilha.

— Não dá.

Disse Thomas, olhando para a traseira do carro.

— Estamos cercados.
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A Primeira - Maze RunnerWhere stories live. Discover now