Capítulo 16

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Dois meses sozinha. Lembro de como fiquei confusa no começo, não entendi porque a solidão doía tanto para alguém que passou a vida inteira se isolando. Sempre doeu, na verdade, mas nunca assim. Eu lembro do dia que comecei a repensar, e não me lembro de parar. Não cheguei a nenhuma conclusão, talvez fosse a rejeição. Talvez fosse porque antes a solidão era uma opção, por mais que por anos eu a coloquei como necessária. A pior coisa de estar só é ter tempo de olhar para dentro. Antes eu era resolvida, meu tempo usado para calcular o próximo passo. Agora, não tinha passos a serem calculados, não tinha nada. Era como se tivessem tirado o chão de meus pés, me partido no meio, e largado em uma floresta escura.

Na verdade, foi exatamente o que fizeram.

Eu tentava viver. Em flashes de coragem, eu saia do quarto. Às vezes passeava pela mata que eu mesma havia criado, às vezes apenas sentava no campo para observar o pôr-do-sol. Tentava fazer qualquer coisa que já fez sentido para mim algum dia, algo que me deixava feliz. Mas, no final, era o mesmo. Estar no quarto, estar fora. A única diferença era que um gastava menos energia que outro. E energia, pois mais que eu não fizesse muito, era algo que eu não tinha.

Deitada na cama mais uma vez, vi a luz que brilhava na madeira se tornar alaranjada. Meu corpo doía de ficar na mesma posição e minha cabeça pesava. Se eu levantasse não pensaria em nada, apenas no esforço de levantar, caminhar. Desligaria tudo em minha mente por alguns segundos. Poucos segundos. Levante, uma vozinha ressoou. Veja a luz. Parte de mim gostava que eu me importasse, parte me achava ingênua. Minhas decisões eram uma luta constante entre essas partes e, apesar de tudo, hoje me levantei.

Caminhei até a pequena cozinha e peguei uma maçã. Meu reflexo apareceu na janela de vidro arranhado, e eu vi uma mulher que já teve dias melhores. Eu estava inchada, e pálida, com olheiras em cima do novo corte que marcava boa parte do meu lado direito do rosto, longe de cicatrizar, mas ainda vi um pouco da Princesa Calynn que estava lá. Eu só não sabia se sentia orgulho ou nojo. Desviei o olhar me voltando para a porta. O sol caia e coloria as nuvens de rosa e laranja. Ignorei como minha respiração falhava depois de caminhar pelo mato alto ao me sentar e observar. Tudo o que consegui.

Meus dedos tateavam o chão em busca de algo meramente interessante, até que encontrou uma florzinha. Tinha pequenas pétalas vermelhas e estava tão... viva. Era inegavelmente linda. Tudo ali era belo e puro. E mesmo não sendo muito, era demais para mim. Aquela flor não podia ser apreciada por mim, qualquer outra pessoa seria melhor. Logo não tinha mais flor nenhuma, só cinzas. Foi quando reparei que tudo que eu tentava usar para me levantar, era apenas um lembrete de quem eu realmente era. Essa pessoa não pertencia ali, pertencia a um lugar onde tudo desaparecia até virar cinzas, talvez um dia até se juntar com o que era belo.

Voltei para casa. Voltei para o quarto. 

Coroa de CinzasOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz