Capítulo 35

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Foi só quando todos se deitaram para dormir que percebi o quão incomum aquele lugar era. Parecia que quanto mais exploramos o lugar, mais inquieta eu ficava. Minha pele parecia formigar e meu ouvido zumbia incessantemente. A paz dançava com o vento e havia uma harmonia até no canto dos grilos.

Oliver dormia ao meu lado. Era a primeira vez que ele se permitia dormir antes de mim. Eu observava a floresta pelo topo já fazia um tempo, meu interesse não parecia desaparecer com a lua que se afastava cada vez mais. Liam e Octavia dormiam, acho que confiavam em mim o suficiente para se permitirem dormir, mas Auryn estava acordada e trabalhava em algum tipo de máquina sob a luz cansada de uma vela. Com todo aquele poder que ela exibiu mais cedo, eu não entendia a necessidade de velas, mas Auryn devia estar exausta demais para isso. Era trabalhava em uma pequena esfera, mas até agora eu não fazia ideia de seu propósito. Ela parecia tão simples, mas a simplicidade era impossível com aquela quantidade de ferramentas ao seu redor. Talvez fosse só mais uma de suas artimanhas.

Minha atenção saiu de Auryn quando algo brilhou ao meu lado. Era tão pequeno e, ao mesmo tempo, tão extraordinário. Um vaga-lume, mas não do tipo que eu conhecia no castelo. Sua luz era roxa. Ergui a minha mão na tentativa de alcançá-lo e ao invés de fugir, o pequeno inseto dançou entre meus dedos até sutilmente pousar na palma de minha mão.

Era lindo.

Foi então que roxo começou a iluminar a noite como se milhares de lanternas se acendessem.

— O que é isso? — sussurrei.

— Eles têm um lugar para ir — Auryn falou sem dar muita atenção, me lembrando que ela tinha alguma comunicação com animais.

Antes que eu pudesse perguntar onde, o vaga-lume me rodeou. Em uma pequena dança, ele parecia me chamar. Me convidar.

Aonde quer que ele fosse, eu precisava ir. Era como se uma força empurrasse meu corpo e meus pés criassem vida própria.

Eu precisava ir.

Já descia as escadas espiraladas correndo quando vi o pequeno vaga-lume novamente. Meus pés descalços sentiram a terra vibrar com o toque.

Comecei a correr a ponto de nem sentir minhas pernas, apenas a terra fofa, depois a grama áspera, a vibração contente do solo. Eu segui aquela nuvem roxa que rodopiava pelo ar. As árvores eram meros borrões ao meu redor até que as vibrações nos meus pés mudaram, pareciam que ondas vinham de todos os lugares. Então eu parei. O mundo estabilizou, mas foi quando eu vi animais de todos os tipos correndo na mesma direção que eu. De todos os tamanhos, de todas as cores, os animais corriam à minha volta. Eu deveria estar apavorada, mas uma risada sincera borbulhou para fora. Era maravilhoso. Respirando fundo, eu me juntei a eles. Minha risada ecoava junto com a cantoria de cada espécie. Tantos bichos que eu nunca vi, que eu não poderia imaginar que existiam.

Depois de alguns minutos correndo, eu avistei o lugar onde todos aqueles vaga-lumes pararam. Era uma árvore tão grande, tão espaçada, que chegava a parecer indestrutível. Era o ponto para onde eles estavam me levando, o ponto que todos esses animais pareciam ser atraídos.

Não demorou muito para chegar lá. Os animais se deitavam ao redor do imenso tronco como se aquele lugar fosse um tipo de casa. E aquele tronco... Havia algo sobre ele. Eu só precisava chegar até lá. Tocá-lo para ver o que era tão diferente. Por que os animais vieram para cá? Por que vim para cá? Com passos cautelosos, eu evitei o rabo de panteras e as orelhas dos coelhos, abrindo caminho até a árvore. Os animais não pareciam nem ligar, não tinha perigo lá. Nem para mim, nem para eles. Os bichos só me observavam passar como se eu fosse uma deles.

Até que cheguei até onde os animais já não se aproximavam. Aquela árvore tinha uma energia tão forte que a sensação de formigamento voltou com tudo. Meu poderes pareciam despertar lá, como fizeram com aquele raio no aniversário do meu pai.

Coroa de CinzasTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon