Capítulo 55

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Os pássaros cantavam. Eles cantavam uma música que eu não sabia a falta que fazia. E a grama... Era verde e viva. O céu era azul! Não vermelho, não morto. Eu podia sentir o cheiro da floresta e de tudo que ela escondia. Estávamos de volta. Sobrevivemos, todos nós, e ainda trouxemos o Olho. Por mais que meu rosto estivesse afundado nas agulhinhas verdes, eu ouvi a grande porta de madeira abrir e a voz da menina bem parecida com Oliver.

— Eu tenho que admitir: não achei que iam voltar. Não todos vocês pelo menos. — Só pela voz, eu sabia que Geórgia dava de ombros. — Bom trabalho, irmãozinho.

Geórgia desceu os três degraus de pedra, e eu não vi a reação de Oliver. Estava ocupada me virando de barriga para cima. Apreciando o céu que agora era família para mim. Do meu lado, o grupo murmurava coisas quase em outra língua, e gemiam por quarenta mil roxos que começavam a formar na pele deles, como formavam na minha.

— Então, conseguiram o Olho? Ou foi tudo à toa?

— Não. — Eu sorri ao sentir a pedra vermelha queimar em um dos meus bolsos. — Está bem aqui.

Geórgia se aproximou com seus passos calmos de sempre, os pés descalços como se estivessem pisando em nuvens.

— Posso ver? — A mão dela surgiu no meu campo de visão.

Sinceramente, se eu pudesse colocaria o Olho Escarlate em uma exposição para mostrar a todos que conseguimos. Era o mínimo depois de quase morrer vezes demais por uma esfera. Tirei a pedra do bolso e a ergui com os meus braços já pedindo arrego. O Olho não era nem quente, nem frio. Mas dentro dele, magma parecia dançar. Uma dança lenta e perigosa. Geórgia o segurou sem nem hesitar e o contemplou em um silêncio valioso. Os passos dela se afastaram, mas eu só conseguia pensar nas nuvens que corriam pelo céu. Ou na cama quentinha que Oliver tinha lá em cima. Ou deitar enrolada nos braços de Oliver. Eu precisava de férias. E férias com o meu destinado.

O vento cantou em meu ouvido. Um vento forte demais. Mas naquele momento eu só desejava que o vento me levasse para longe. Estava cansada demais para levantar meu pescoço, imagine me levantar para entrar na casa.

— Esse era o acordo. Agora devolva-a — a voz de Geórgia saiu calma. Calma até demais.

Que raios de acordo ela está... A confusão substituiu o cansaço e reviveu meu corpo. E eu levantei bem na hora que a rainha Aurora deu um largo sorriso para a irmã de Oliver. Meu coração parou. Não só por ver a pessoa que eu mais odiei por tanto tempo, mas por ver Geórgia carregando o Olho Escarlate como o melhor presente que uma mãe poderia dar aos seus filhos. Como se ela fosse entregar a pedra para a pessoa que, até pouco tempo atrás, ela mais odiava também. Meus olhos voaram para as figuras atrás das duas. Cinco soldados da guarda Lunar. Eu enfrentei dois na minha vida inteira e aquelas foram as batalhas que me deixaram com mais cicatrizes. Soldados Lunares eram elite. Os Elementais mais fortes que ganhavam uma fortuna para defender a rainha, e tudo que para ela era precioso. Incluindo sua filha, Mahina, que mordia o lábio enquanto via sua destinada fazendo um acordo com sua mãe. Um acordo pela sua vida.

— Não! O que você está faz... — Rastejei pela terra, juntando forças para estabilizar meus joelhos.

Cambaleando, abri uma caixinha e puxei a esfera para mim com o ar. O Olho correu das palmas de Geórgia em minha direção, até parar como se tivesse batido em uma parede. Por mais que eu tentasse puxar a esfera para mim, Aurora puxou a pedra para longe. A arrancando de mim como um urso tirando o doce da criança.

— Deixe Mahina ir — Aurora falou entediada aos guardas, então ela se virou para a filha. — Parabéns, essa foi a primeira vez que algo útil aconteceu por sua causa.

Coroa de CinzasWhere stories live. Discover now