Capítulo 24

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Aquela foi uma semana boa para todos. Eu finalmente consegui tomar banho e, graças a Kiara, sem a ajuda de Oliver. Ele preparava tudo obviamente, mas não estava presente na hora. Foi uma semana escutando seus comentários secos e respostas vagas. Além disso, quanto mais tempo passava, mais inquieta eu ficava na cama. Queria andar, sair do quarto, mas eu não conseguia ou era barrada na porta. Talvez eu tenha caído e esperado Oliver chegar em casa para me ajudar, e ele não gostou nada. Mas isso não interessava. O ponto era que eu tinha que andar, nem que fosse para fugir de Oliver e apodrecer em outro lugar.

Acabei o caldo, que já não era tão simples quanto foi antes. Aos poucos, Oliver ia preparando comidas mais complexas e eram todas deliciosas. Também, estando com a higiene em dia, eu me sentia bem mais confortável ao seu redor, mesmo o guerreiro se provando mais mal-humorado e frio a cada dia.

Ele se levantou com o pote vazio, e eu joguei minhas pernas para fora da cama. Oliver se virou lentamente com as sobrancelhas franzidas.

— Onde pensa que vai? — o espião perguntou.

— Andar.

— De novo? Achei que tinha aprendido sua lição.

— Não posso ficar nessa cama para sempre — disse, colocando meus pés no chão.

— Mas quase ficou, não ficou?

Revirei meus olhos com o novo silêncio constrangedor. Oliver sabia pesar o clima como ninguém.

Sim, eu quase morri na cama, também não me interessava. Apenas ignorei seu comentário e tentei firmar os pés.

— Tudo bem, mas vá com calma. — Ele se aproximou, e hesitou.

Oliver não queria encostar em mim, eu percebi. Como se minha proximidade fosse queimá-lo até só sobrar os ossos. Sua hesitação até seria ofensiva, mas eu também não queria encostar nele.

Consegui ficar em pé, até meus joelhos tremerem, e meu corpo cair na cama novamente.

— Merda, — murmurei, afastando os cobertores em um empurrão como se eles fossem o problema.

De canto de olho, eu vi que a boca de Oliver se curvou de leve, o que me irritou até o fundo de minha alma.

— Não vejo graça — resmunguei, tentando novamente.

— Não? A tão temida Guerreira de Keamanan mal conseguindo se levantar. Meio irônico, não acha?

Não, não acho. Idiota. Meus olhos encararam os dele e por alguns segundos eu realmente acreditei que poderia queimá-lo apenas com a visão. Eu queria poder queimá-lo de qualquer jeito possível.

Como se fosse apresentar a informação mais interessante do mundo, perguntei:

— Sabe o que eu acho, Oliver?

— Não faço a mínima ideia — ele disse sincero enquanto se recostava na porta.

— Acho que seus comentários são tão desnecessários que eu me pego considerando as vantagens de ser surda.

— Já te falaram o quão dramática você é?

— Você definitivamente não se escuta se acha que é drama — conclui.

— Sua língua está cada vez mais afiada — Oliver observou, como se analisando minha melhora. — Mas ainda parece um bebê aprendendo a andar.

— Você parece um desgraçado com um emprego péssimo.

— Por alguns dias achei que você me daria paz, já que era tão quieta no castelo.

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