Capítulo 38

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Eu bati a porta atrás de mim e joguei meu capuz para um canto.

— Oliver? Oliver por favor me responda.

— Achou alguma coisa? — ele sussurrou. Não abriu os olhos e estava praticamente imóvel.

— Sim, acho que sim. — Me sentei ao lado dele. Levantei um pouco seu corpo para o encostar e abri o frasco. Até naquele momento eu tremia. — Tome isso, vai melhorar.

Oliver entreabriu os olhos, mas ele nem sequer viu o vidro. Só derramei o líquido dentro de sua boca.

— Não cuspa de jeito nenhum — avisei.

Depois de engolir com as sobrancelhas franzidas, ele me olhou.

— Tenho saudades de quando era eu que dizia isso para você — ele sussurrou.

Revirei meus olhos.

— Considerando a situação, eu também.

Levei minha mão à sua testa e, por Kiara, ele estava quente. Molhei uma das minhas toalhas e voltei até ele. Ao limpar o suor, fiquei pressionando a toalha pelo corpo dele.

— Devia ter chamado alguém para ter cuidado de você enquanto eu procurava a cura — pensei alto.

— Não, não quero outra pessoa cuidando de mim. Só você.

— Acho que nem eu, já que demorou tanto para pedir ajuda.

— Achei que conseguiria achar sozinho.

— Porque é teimoso. — Deixei a toalha de lado, levantando a camisa de Oliver.

— Sim, porque sou teimoso — ele admitiu.

Naquele pouco tempo que eu tinha o deixado, o veneno avançou muito. Não sabia se estava melhorando, e aquele pequeno pensamento fez meu corpo estremecer.

— Está se sentindo pelo menos um pouco melhor? — perguntei, tentando não soar desesperada.

— Um pouco.

— Não minta para mim! — implorei.

— Eu juro! — Ele deu um sorriso fraco. — Estou um pouco melhor.

Comecei a limpar o corte do melhor jeito que eu conseguia, tentando não causar tanta dor. Ele já deveria ter limpado o corte antes, mas o veneno o mantinha na pior aparência possível.

— Você precisa confiar em mim se vamos mesmo atrás daquele Olho — murmurei frustrada.

Aliás, eu estava muito frustrada! Frustrada porque Oliver não me pediu ajuda. Frustrada porque aquele antídoto não funcionava em poucos segundos. E frustrada porque eu não podia explodir com ele ou sabia se ele viveria ou não.

Não acreditava que aquelas lágrimas estavam voltando. Eu não gostava dele tanto assim para chorar, mas tinha algo dentro de mim, uma parte da minha alma que não conseguia se controlar. Então as lágrimas começaram a descer como rios. E claro que não fui discreta o suficiente para ele não reparar.

— Está chorando? — Oliver falou parecendo surpreso e, ao mesmo tempo, achando engraçado. — Calynn...

Ele tentou tocar minha mão e eu logo o afastei, me segurando para não dar um tapa.

— Não venha me consolar! — falei indignada. — Você é quem parece estar morrendo e eu... eu não sei o que fazer. Odeio quando os feridos tentam consolar quem está mais saudável do que nunca.

— Por quê? No final são os vivos que sofrem, não os mortos.

— Não vou sofrer se você morrer, só estou estressada e a culpa é sua. — O encarei com lágrimas escorrendo. — Você me estressa.

Coroa de CinzasWhere stories live. Discover now