Capítulo 21

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— Acorde — uma voz fria e baixa me arrancou de um sono profundo. — Vamos, acorde.

Meus ombros foram balançados em meio à ordem que ressoava. Meus olhos pesavam, e eu nem ao menos tinha força para mover.

— Sei que não está morta... ainda. Vamos Laskaris, acorde.

— Me deixe em paz, — minha voz saiu como vento em uma tarde ensolarada.

— Você não merece paz, — a voz resmungou.

Era tão familiar. Se meu cérebro ao menos juntasse as peças. Mas não queria juntar nada, não quando estava tão perto.

— Preciso dormir.

— Patética.

Esse pequeno comentário fez a porta se abrir, atrás delas todas as memórias que envolviam aquela pequena palavrinha. Patética. Só uma pessoa havia me chamado disso na vida: Oliver. Meus olhos se entreabriram um pouco mais, só para confirmar o que achava. E lá estava, o homem de olhos azuis cheios de ódio, seu cabelo estava mais comprido, e tampava um pouco sua visão.

— O que você quer? — Minhas palavras roucas carregavam minha exaustão.

— Acorde.

Meus olhos abriram mais um pouco, e minha mente ficou ligeiramente mais atenta. Minha cabeça tentava focar, na verdade, mas meus braços pareciam pequenos demais para alcançar qualquer tipo de concentração. Meus olhos se depararam com ombros e depois cabelo. O cheiro de chuva e madeira me preencheram por um segundo e eu percebi estar sentada. O travesseiro foi ajeitado atrás de mim e algo tocou minha boca.

— Beba.

Desviei a cabeça, sentindo minhas sobrancelhas franzir a ponto de quase se juntarem. Era tudo que eu conseguia fazer enquanto uma vasilha fria tocava meus lábios.

— Beba, Laskaris.

Estava em um ponto que não conseguia nem erguer os braços, imagine controlar as emoções. Então, quando as lágrimas começaram a cair, eu não as impedi.

— Me deixe ir, — sussurrei contra a vasilha.

— Acredite, eu queria te deixar ir, mas não posso. Então, por Kiara, beba o maldito caldo.

Minha cabeça balançou em negação. Estava tão, tão perto.

Não foi surpresa quando algo quente invadiu minha boca.

— Se você cuspir vou colocar um escudo para tapar sua boca. Vai no máximo se engasgar.

Eu queria lançar um olhar de fúria, mas nada ficava em foco por muito tempo. Engoli o caldo junto com algumas lágrimas. Eu só queria que tudo parasse. Que a dor fosse embora. Mas o caldo desceu junto com a angústia. Eu estava tão perto há poucos segundos, mas eu sabia que com Oliver aqui era o mesmo que voltar para o começo. Eu nunca escaparia, foi o que engoli. A dor nunca cessaria.

O caldo invadiu minha boca novamente e mais lágrimas caíram. Eu engoli. De novo. E de novo. E de novo. Até que ele disse:

— Chega.

Senti algodão em meu rosto, principalmente na área da boca, e fui deitada. Estava exausta, mas algo dentro de mim parecia me dizer que tudo ia ficar bem. Não uma sensação, apenas meu próprio corpo. Como se ele regenerasse, renascesse das cinzas. O que quer que estivesse nesse caldo, trabalhava no meu corpo parte por parte. 

Coroa de CinzasOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz