Capítulo 31

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Os corpos foram enterrados na alta madrugada. Com poderes Elementais, enterrar pessoas não era um trabalho longo. Todos pareciam estar cansados demais para qualquer tipo de cerimônia, então eles sentaram ao redor dos túmulos e cantaram entre lágrimas e soluços. Eu não conhecia nenhuma das cantigas, nenhuma das melodias, mas o meu silêncio e o de Oliver não parecia incomodar ninguém. O fogo já tinha sido apagado e, ao escutar o leve barulho das portas fechando, eu olhei para Oliver. Seus olhos, entretanto, viam algo atrás de mim.

— Agradecer pela ajuda de vocês seria pouco — uma voz ressoou. Um homem com a pele escura destacando as longas tranças brancas estava parado às minhas costas. — Estaremos para sempre em dívida com vocês. Por favor, entrem. Fique o quanto quiserem, nós temos espaço.

Eu podia sentir a verdade nas palavras, mas ainda assim seus olhos estavam distantes. A tristeza o cegava como névoa e, mesmo sem conhecer o homem, meu coração apertava por suas perdas.

— Sou Silas, posso saber quem são vocês? — ele perguntou enquanto nos direcionava para uma das casinhas.

— Meu nome é Oliver e esta é minha esposa Ana.

Olhei para Oliver com as sobrancelhas franzidas, mas Silas estava de costas para notar. É claro, ele não queria que soubessem quem eu era. Queria pensar que era apenas porque não podiam espalhar que eu estava viva e com Oliver, mas eu sabia, no fundo, que nenhum Elemental me aceitaria em sua casa.

— Sabíamos que esse dia estava chegando — Silas falou com um suspiro. — Vilarejos estão sendo atacados um por um, eu tentei treinar as pessoas o máximo que pude, mas no final somos poucos demais para resistir tanto. Eles vão voltar e nós teremos que partir.

— Para onde vocês vão? — Eu não pude conter a pergunta.

— Para a cidade, é claro. Se a rainha não nos protege aqui, temos que ir até ela.

O homem abriu a porta e a casa tinha dois andares. A decoração era bem simples, mas cheia de personalidade.

— Vai deixar isso tudo para trás? — perguntei, mesmo já sabendo a resposta.

— Prometi a mim mesmo que jamais deixaria eles ganharem. Eu queria ficar, deixar todos irem e morrer onde meu coração pertence. Mas não é assim que as coisas funcionam por aqui, o vilarejo se recusa a deixar qualquer um para trás. Somos família, no final, é isso que importa.

Silas deu uma troca de roupas para nos livrarmos dos tecidos cheios de sangue. Parte de mim só queria queimar aquelas roupas, outra não acreditava que eu tinha as perdido tão rápido. Depois de trocar vários "sinto muito" e "boa noite", a porta do quarto se fechou em um clique. Lá estávamos eu e Oliver, com roupas carmesim em um silêncio ensurdecedor. Ainda em um quarto com uma cama de casal e uma banheira. Ótimo.

— Deveria ter falado que éramos irmãos — falei, olhando para a banheira e as roupas em minha mão. Um casal estaria acostumado com essa... intimidade.

— Não se preocupe, não vou olhar. Pode ir primeiro. — Oliver caminhou até o outro lado do quarto e se sentou no chão, olhos mirados na luz fria e azulada que entrava da janela.

A banheira se encheu com pura magia e a água estava incrivelmente quente. Olhei mil vezes na direção de Oliver, mas ele nem se mexeu, e eu consegui entrar tranquilamente na banheira. Senti meus músculos se relaxarem no momento que encostei minhas costas no material gelado. Mas mesmo com meu corpo amolecendo, eu não demoraria. Não só pelo meu desconforto em ter Oliver no quarto, mas por saber que ele também queria se livrar do sangue já seco na pele. Esfreguei os meus braços até minha pele reclamar, mas parei ao ver a cabeça de Oliver se mexendo, e nossos olhares se encontrarem. Eu sabia que ele não conseguia ver nada, ainda assim me reajustei para que minhas costas ficassem completamente fora de vista.

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