Capítulo 50

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Talheres tinindo era o único som que ecoava na mesa. Todos pareciam enfiar a cabeça nos pratos para terminar aquela refeição o mais rápido possível. Geórgia não estava presente. Desde o momento que ela bateu a porta, ela não entrou mais. O vitral tinha sido recolhido e guardado em um armário, e Oliver fez uma parede de gelo para o substituir. Octavia terminou o almoço e todos comiam em absoluto silêncio. Ou comiam até Liam pousar o espelho na madeira polida.

— Então... Como raios vamos localizar esse Olho Escarlate usando esse espelhinho? — Ele perguntou, balançando o espelho na minha frente.

Você precisa fazer as perguntas certas, foi o que Oliver disse. Eu realmente esperava que ele soubesse a pergunta certa.

Ubi est somnium meum? Oliver falou em alto e bom-tom da ponta da mesa.

E como se o espelho acordasse, uma luz branca iluminou o rosto de Liam como se fosse a lua. Este pousou delicadamente o pedaço de metal sobre a mesa e de repente a luz começou a tomar forma.

Linhas começaram a ser traçadas no ar como o sangue que corria em nossas veias. Meus talheres pousaram no prato ao mesmo tempo que eu me inclinei sobre a mesa. Tudo ficou estável quando um mapa se completou em nossa frente. Não era só um mapa de Keamanan, mas também dos oceanos ao redor e as ilhas e... Uma bolinha de luz se acendia e apagava sobre o mapa, sobre um lugar específico.

Sobre o Mar Vermelho.

Meu corpo voltou a se afundar na cadeira. Claro que era o Mar Vermelho. Que outro lugar seria mais propício para guardar o próprio Olho Escarlate. Ninguém disse nada, e dessa vez nem os talheres tiniam, fazendo o silêncio nos engolir. Mais que isso, fazendo o medo nos engolir. Até Auryn sabia sobre o Mar Vermelho. Todos conheciam, era quase uma lenda. Ninguém voltava de lá. Ninguém nem mesmo entrava lá. Eu apertei a ponto do meu nariz antes de dizer:

— Nós não vamos.

Olhei de relance para Oliver que passava a mão pelos cabelos castanhos e seu olhar encontrou o meu. Confuso, distante.

— Eu sei que é ruim... — Liam começou.

— Não é ruim, é impossível — Eu cortei.

— Mas se a rainha pegar, já era. Estamos todos perdidos. — Auryn me encarou com uma determinação de ferro.

— Ela não vai pegar, — expliquei. — Pois não dá para pegar. É impossível.

— Precisamos tentar — Aisha falou pousando o copo na mesa como se colocando um ponto final naquela conversa.

Eu olhei para Octavia, esperando alguém com senso se comunicar, mas ela apenas deu de ombros.

— É o único jeito de acabar com isso, Calynn — ela murmurou.

Com a minha última gota de esperança, olhei para Oliver. Dessa vez ele não estava perdido, estava sério e parecia até pronto.

— Precisamos de um barco — foi o que ele disse, me fazendo afundar meu rosto em minhas mãos.

Eles perderam completamente a cabeça. Eu nunca vi um grupo tão louco que topasse ir ao Mar Vermelho. Nem no castelo, nem fora. Mas aqui estávamos. E era óbvio que eu não os deixaria sozinhos.

— Eu tenho um barco — disse Octavia. — Meu pai transportava mercadorias. Não é grande e é bem velho, mas nos levaria até lá.

— Quando podemos pegá-lo? — Oliver perguntou, enrolando sua pulseira em seu indicador.

— Hoje mesmo, se quiserem. Está na cidade.

— Então o que estamos esperando? — Auryn perguntou com um sorriso lateral se abrindo.

Coroa de CinzasWhere stories live. Discover now