Capítulo 53

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Era a vez de Aisha ser vigia e meu coração apertou com aquilo. Depois de um tempo observando os arredores ontem, eu fui liberada para dormir e Oliver veio comigo, querendo ficar de olho. Acho que ninguém lá tinha visto um Elemental gastar tanta energia, e Oliver me olhava como se eu pudesse cair dura a qualquer momento. Uma pontada de medo percorreu meu corpo, mas deixei de lado. Enquanto eu não me sentisse perto da morte, não me preocuparia com ela.

Hoje de manhã foi a nossa vez de ficar de vigia. Era horrível, cada detalhe daquele lugar. Tudo parecia morto ou passava um sentimento de morte. Talvez fosse boa essa falta de vida, não consigo nem imaginar a criatura que viveria aqui. Mas tudo era sufocante, mesmo que as coisas estivessem razoavelmente bem, o ar parecia ralo. Meu corpo parecia desesperado para sair de lá, e como não conseguia, uma irritação chegava a fechar minha garganta. Eu não parecia ser a única a me sentir assim, o clima na mesa estava tenso, faíscas flutuando ao nosso redor. Ninguém dizia nada, e era bom. Esse incêndio ninguém iria conseguir controlar. Não ousei olhar para Oliver, tinha medo do que eu acharia ali, mesmo que eu não tenha feito nada.

— O que foi? — Liam se virou para Auryn, seu tom afiado.

— Eu não disse nada, — ela respondeu sem paciência.

— Nem eu, então pare de revirar os olhos. Não é só você que está irritada — Liam bufou, afundando na cadeira.

Os olhos de Auryn escureceram e pela primeira vez eu vi o monstro que ela tanto deixava trancado.

— Auryn, só respire — Octavia avisou com dentes cerrados.

A única coisa que tinha certeza naquele lugar é que tudo estava indo para um caminho muito errado. Senti minhas mãos formigarem, e disfarcei a minha pressa ao pegar o copo de água a minha frente, tomando cada gota lentamente. Precisava esvaziar minha mente, se não tinha nada para pensar, não tinha nada para se irritar. Sobre o copo, vi os olhos de Auryn voltar toda aquela raiva para Octavia.

— Chega, todos vocês — disse Oliver ao meu lado, sua voz com aquela frieza que eu já conhecia.

Quando a tensão entre os três pareceu diminuir, um suspiro escapou de todos. Menos eu, que prendia minha respiração ao escutar aquela criança novamente. Minha cabeça foi diretamente para a porta da sala.

— O que foi? — Oliver disse se levantando.

— Pessoal? — gritou Aisha do lado de fora — Acho que vocês precisam ver isso.

Todos saíram às pressas da mesa, mas quando cheguei a porta, aquela risada sinistra começou.

Aqui é onde o amor salva, ela ria e ria. Acho que nenhum de vocês têm o suficiente.

A voz desapareceu aos poucos. Deixei de lado o arrepio e a vontade de chorar que subiu aos meu olhos. Da última vez que ela veio, nós quase morremos, então eu precisava ir. Segui eles até o convés e não demorou muito para entender o problema. Nós nos aproximávamos de uma névoa, ela cobria até onde nossos olhos conseguiam ver. Não tinha como dar a volta, como as ondas, deveria ser mais uma proteção. Agora eu não sabia se tudo isso seria para o Olho, ou a ilha apenas não gostava de invasores, mas com certeza essa névoa era o próximo desafio.

— Ela disse que aqui é onde o amor salva, o que quer que seja isso — eu disse, fixada naquela névoa que se aproximava cada vez mais.

— Ela quem? — perguntou Octavia.

— A voz, parece uma criança. Ela que me fez olhar para a onda.

— Você está escutando uma voz e nem me avisa? — Oliver perguntou irritado.

Coroa de CinzasWhere stories live. Discover now