Capítulo 17

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Três meses sem ninguém. Eu havia me arrastado para a vila com as encomendas e a última era na casa de Bianca. Bati algumas vezes na porta, secando o suor de minha testa enquanto escutava os passos rápidos se aproximando.

— Por Kiara, menina! Que magreza.

Já não teria como confirmar, não me olhava mais em espelhos ou qualquer reflexo.

— Mas é claro que está magra, nunca vem pegar minhas cestas. Você vai levar uma hoje, não vai? Se não, qual é o ponto de me trazer toda essa madeira?

— Vou levar, sim, Bianca.

— E vai comer toda a cesta?

— Vou tentar — menti, com um sorriso que não chegava aos olhos.

Não era como se eu passasse fome, simplesmente não tinha vontade.

— Ótimo.

Ela se retirou rápido como chegara, nem verificou as toras que fiz para ela. Alguns minutos se passaram até que ela voltou com uma cesta que parecia guardar uma montanha de pães, doces, e tudo que ela fazia. Um desperdício, mas um que eu não neguei. O pão logo ficaria duro como pedra, e eu teria que jogar tudo fora. Mas, ainda assim, era uma gentileza. Era preocupação. Aceitei com o melhor sorriso que consegui dar e fui embora. No caminho para casa belisquei um ou dois bolinhos, e era um prazer inesperado. Uma surpresa de sabores adocicados que explodiam em minha boca.

Cheguei ao muro de plantas que fiz, e me concentrei para abrir caminho para mim. As plantas se moveram lentamente e se abriram suficientemente para eu passar. Algumas ficaram no meu caminho, então apenas empurrei elas para o canto e voltei para casa, as plantas se fechando atrás de mim eram igualmente lentas. Quando a porta de madeira rangeu e se fechou, eu me permiti desabar na cadeira, me perguntando como um dia eu havia sido uma guerreira. Encarei a cesta por um tempo ao colocá-la na mesa ao meu lado. Tentadora. Mas não o suficiente, então com os joelhos travados, eu voltei para o meu quarto.

Coroa de CinzasWhere stories live. Discover now