Capítulo 44

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Nosso adeus foi rápido e agora tínhamos novas malas e recursos para a viagem. Perguntei a Aisha se ela gostaria de ficar, até porque antes ela disse não ter uma família. E agora sua avó estava aqui, sem o pai para interferir ou... fazer o que ele fazia antes. Aisha, entretanto, nem pareceu considerar. Ela simplesmente deu de ombros, dizendo:

— Essa não é mais minha casa. — E foi se despedir da avó.

Onde então é sua casa? Foi o que eu quase me amarrei a uma árvore para não perguntar. A questão é: eu já sabia a resposta até porque era a mesma que a minha. Ela não tinha casa. E eu também não. Mas ela se reencontrou com um familiar e ainda foi bem aceita. Eu não sei se eu teria continuado essa missão se encontrasse um dos meus irmãos e fosse aceita por eles. Eu tinha um propósito aqui, só não sabia o quão grande ele era e o quanto eu o priorizaria.

Perguntas e perguntas disparavam de um lado para o outro como flechas em uma batalha, acertando pontos que evitei por boa parte da minha vida e pontos que eu nem sabia que existiam dentro da minha mente. Eu via Aisha andando ao nosso lado enquanto as paisagens mudavam, os dias acendiam e apagavam, e eu apenas observava. Eu criava diversos caminhos pela minha mente, tentando descobrir qual eu seguiria se eu fosse Aisha. Pela primeira vez, o grupo falava, mas eu não. Eu percebia como eles me jogavam assuntos, me colocavam dentro da roda como olhares incertos. Eu via a distância que Oliver tentava preencher. Nossa relação era complicada. É como se ambos estivessem lá um para o outro, mas apenas quando não sabíamos o amanhã. Sempre quando não sabíamos que haveria um amanhã. E estava tudo bem. Dúvidas me assombram desde que eu era uma garota que mal alcançava minha própria cama, e eu sempre lidei com elas sozinha. Eu sabia lutar minhas próprias batalhas como eu sabia que cada um lá tinha uma faca afiada na cintura, pronta para derramar sangue quando preciso.

Minha mente me dizia para falar alto, participar da conversa, das atividades, mas, ao mesmo tempo, tudo o que eu conseguia pensar era: se eu fosse Aisha, eu estaria aqui ou não?

Era só isso que eu precisava saber.

Eu jogava minha faca para cima e para baixo na escuridão da floresta que nos cobria como um cobertor. A faca subia e descia cada vez mais rápido, meus olhos indo dela para Aisha, o que era algo bem perigoso até para mim. Meu corpo parecia estar cheio de formigas indo para todos os lados, e eu mordia minha língua para ficar imóvel, mas não dava. Não mais.

A faca girou até fincar no chão ao meu lado em um som abafado.

— Por que você não ficou? — As palavras rolaram na minha língua quase sangrando, meus olhos fixos em Aisha, pega de surpresa, como todo mundo sentado ao meu redor. Clarifiquei: — Por que você não ficou com a sua vó? Por que você continuou com a gente sem nem saber nossos objetivos? Por quê...

Eu suspirei, querendo pegar cada uma das minhas palavras que pairavam no ar e guardar em um lugar que ninguém mais as encontraria.

— É por isso que você tem estado tão quieta? — Aisha pergunta calmamente, sem nenhum mínimo julgamento em seu tom, o que sinceramente era até pior. Meus olhos focaram na faca ao meu lado.

— É sua família. Não é com a família que devemos ficar? Não é eles que devemos amar, e proteger, e... simplesmente ficar ao lado? Não sei. Eu... só não sei se eu não teria ficado.

— Com a família que te exilou? — Auryn perguntou franzindo a testa.

— Não com meu pai, com meus irmãos. Eles são pessoas boas.

— Eles não tentaram te ajudar — Oliver comentou. Seu maxilar apertado.

— Não é culpa deles — eu respondi. Como eu poderia culpá-los? Meus irmãos todos tentaram se aproximar nos últimos dias e eu não permiti.

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