Capítulo 33

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Andar e descansar. Essa era a nossa rotina. Meu único alívio era que todos estavam mais falantes, mas agora, estávamos cercados de bambus, o ambiente era quieto o suficiente para escutarmos o zumbido dos mosquitos. Eu não me importava. Tinha algo sobre aquele lugar, eu não conseguia dizer exatamente o quê, mas me incomodava, e preferia ficar quieta. Oliver ia à frente rastreando cada caminho, e nós seguíamos. Nunca fui uma boa rastreadora, mesmo sendo atenta aos detalhes. E nesse momento eu prestava atenção em tudo. Até Liam estava quieto. Era ele que andava puxando o assunto, sugerindo jogos. O meu preferido era o que cada um falava algo que nunca fez, e o resto tinha que dizer se já fez ou não. Não conseguia acreditar que Oliver tinha tido um coelho de estimação, e já dormiu enquanto voava e bateu de cara com uma árvore. Essa última precisei encher muito para arrancar dele. Mas agora, não trocávamos uma palavra.

    Quanto mais andávamos, mais incomodada eu ficava. Como se duas mãos apertassem meu pescoço, e antes parecia um pesadelo, mas agora eu estava acordada e aquelas mãos ainda estavam lá. Os bambus eram verdes demais, a luz dourada demais, a terra saudável a ponto de brilhar. O grupo ficava cada vez mais tenso, eu via a inquietação de Octavia toda vez que ela traçava o contorno de sua adaga.

    Me aproximei de Oliver, não gostava de deixar ele na frente, sendo o primeiro a entrar nesse lugar estranhamente perfeito.

    — Oliver, tem certeza que é por aqui — perguntei, tentando não hesitar em cada passo que eu dava.

    — Tem que ser.

    — Tudo bem, já chega. — Octavia grunhiu.

    Olhei para trás, esperando ouvir uma ideia dela, mas em vez disso ela sacou a adaga e foi na direção de Oliver. Meus movimentos foram puro reflexo, pois sem nem piscar minha espada já repousava centímetros do pescoço dela.

    — Calynn, Calynn, Calynn. — Senti o toque frio da lâmina em meu pescoço. A voz de Liam não tinha mais brincadeiras. — Não faça nada estúpido.

    Oliver, mesmo com uma adaga em seu pescoço, foi rápido demais, e logo sacou a sua. De repente éramos um círculo perfeito, um ciclo de ameaças sem fim.

    — Vocês sabem quem eu sou — falei, já sentindo o balde de água fervente se despejando em minha pele.

    — Não foi difícil descobrir sabendo quantos poderes você dominava. Alguém com essas habilidades ou é parte da família real, ou é a inimiga dela. Pela sua aparência, só resta a segunda opção — Octavia falou, sem tirar os olhos de Oliver.

— Eu disse para não trazer estranhos — Oliver falou, mas não tinha medo em seu tom, apenas impaciência. 

— Sério mesmo? Estamos com facas em nossos pescoços e tudo que você tem para dizer é "eu te avisei". — Encarei ele.

— Mas eu avisei. — Oliver deu de ombros, e por um segundo pensei em apontar a espada para ele.

— Se seu namoradinho não estivesse nos traindo, eu não estaria com uma adaga no pescoço dele.

Eu e Oliver a encaramos.

— Do que você está falando? — indaguei.

— Ele está nos levando para uma besta e cobrindo os sinais. Mas estou vendo, as pegadas, as garras. Quem você acha que engana?

    — Que besta? Todos os sinais que estou seguindo são humanos. — Oliver vociferou.

    Eu olhei para Oliver, e o que ele falava parecia ser verdadeiro, mas...

    Acho que minha dúvida foi aparente, pois quando olhei para Oliver, nunca vi aqueles olhos tão quebrados.

    — Você não acredita em mim — ele sussurrou.

Coroa de CinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora