Capítulo 26

50 4 0
                                    

Oliver havia partido já fazia um tempo para o lugar que eu nunca perguntei onde era, só sabia que ele voltaria para o jantar. É o que ele sempre fazia. Não podia dizer que nossas conversas melhoraram, porque realmente não tinham. Conseguia arrancar uma ou duas coisas dele, mas o homem fazia de tudo para manter sua distância. E agora, como em todos os outros dias, eu morria de tédio deitada em minha cama.

Eu poderia ir para a sala ou talvez até sair da cabana. As coisas não eram como antes. Em um passado não muito distante, sair do quarto não tinha sentido, era apenas uma necessidade. E agora, eu sabia que desaparecer já não era mais uma opção de caminho. Isso também perdeu o sentido. Oliver podia ser um saco, mas com ele ali eu queria ficar acordada. Com ele ali eu não queria nem piscar. Saindo da cama, eu consegui chegar no sofá com passos firmes. E pronto. Agora eu tinha nada para fazer, apenas no sofá em vez da minha cama. Sucesso.

Me deitei sobre o sofá e percebi que ele tinha o cheiro do espião. Chuva e carvalho. Minha cabeça começou a divagar, mas logo cortei cada um daqueles pensamentos. Pelos Deuses, não seria eu a mulher a ficar pensando em Oliver. Sobre seu cheiro.

Uh!

Definitivamente não.

Estava falando sério quando disse que ficaria louca, ele não me deu ouvidos. Mas eu precisava realmente de uma distração. Talvez ele pudesse me arranjar livros. Ou me ensinar a cozinhar, isso seria útil. Ou... ou eu podia treinar meus poderes. Parte de mim se negava a fazer isso, outra parte estava decepcionada. Acho que eu me senti realmente livre soltando meus poderes, e prender eles novamente era simplesmente angustiante.

Eu podia começar com algo pequeno. Em vez de uma flor, talvez um buquê de flores. Eu tinha medo de treinar os outros, principalmente em casa. Não queria nada em chamas, colorido, ou encharcado. Que fosse flores, então.

Fiz lavandas, e tulipas brancas, e violetas. Trabalhei a tarde inteira nos detalhes de cada uma das pétalas e cada uma das folhas. No final, realmente parecia um buquê mágico. Estava lindo. Fui para meu armário de vestidos e peguei uma das fitas, prendendo todas as flores juntas.

Eu trabalhava nos toques finais quando Oliver chegou. Não sabia se eu queimava meu trabalho, se escondia, jogava pela janela, guardava, ou simplesmente dava para Oliver. Ele disse que guardaria minhas flores, não disse?

O espião entrou na casa e eu vi sua sobrancelha franzir de leve ao me ver sentada no sofá. Oliver olhou para o quarto e depois para mim de novo.

— Cansou de ficar lá?

— Sim, muito.

— Ótimo — ele disse simplesmente, indo em direção ao balcão. — E péssimo.

Escutei Oliver lavando as mãos, mas não me virei no sofá. Eu não precisava olhar para saber que quando a água cessasse ele encararia seus ingredientes como se fossem seu maior adversário.

— Por que isso seria péssimo?

— Porque vou ter que ficar mais de olho em você agora que consegue se movimentar.

Ridículo.

— Que Kiara tenha piedade do pobre Oliver Kouris! — disse, sendo o mais melodramática que consegui. — O destino cruel o fechou em uma cabana com a famosa criatura monstruosa, Calynn Laskaris. Juntem-se! Oh, Glorioso povo de Keamanan, e rezem por nosso herói, que terá muito sofrimento por vir.

Minha mão caiu sobre minha testa teatralmente. Eu adorava o ódio que Oliver tinha por mim. Mantinha uma chama em mim acesa, mantinha o meu ódio por ele aceso. Eu conseguia aguentá-lo por meia-hora ou até uma hora, mas ele... Acho que ele não me aguentava nem por cinco minutos. O que era injusto porque eu era claramente a mais simpática da relação. Eu fiz flores. O que ele fez? Muitas coisas. O que ele fez com simpatia? Nada.

Coroa de CinzasWhere stories live. Discover now