Capítulo 54

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Os braços foram se separando e o frio me abraçou. A neblina se foi, restando uma montanha negra que parecia tocar o céu vermelho. Eu não sabia o porquê, mas sabia que o Olho estava lá dentro. Não entendia como eu podia sentir ou porque eu estava escutando a voz daquela criança. Mas de algum jeito, havíamos sobrevivido ao Mar Vermelho, e isso era suficiente. Nos entreolhamos antes de descermos um por um do barco com nossos poderes, nossos pés trocando a madeira pela areia. Uma entrada alta para a montanha estava aberta para nós, era um poço de escuridão. Minhas mãos se apertaram ao meu lado e Auryn acendeu uma pequena bolinha de luz, tinha uma tensão em seu rosto diferente da tensão de todos os outros. Antes que eu pudesse analisá-la, um beijo delicado esquentou meu rosto e quando olhei para o responsável, com um leve sorriso, os olhos de Oliver brilharam e nossas bocas se encontraram. Um beijo suave e com tanto... amor. Mas então Oliver foi arrancado de mim com uma risada de Liam logo em seguida.

— Vamos, depois vocês podem fazer isso. — Oliver revirava os olhos sobre os braços fortes de Liam, que agarrou Auryn com o outro braço. — Não é, amor?

Soltando os dois e indo encher Aisha com um dos seus abraços, eu pude jurar que os cabelos de Auryn pareciam brilhar um pouco mais.

— Você parece criança — resmungou Octavia, escondendo um sorriso de Liam enquanto se aproximava da escuridão.

Oliver já estava ao meu lado novamente e por mais que minhas mãos coçavam para se enroscar nos dedos dele, sabia que tinha que mantê-las livres. Seguimos Octavia pela entrada da montanha, a luz de Auryn ficou mais forte, pois como naquela neblina, eu não conseguia ver nada. Era magia, sem dúvida, pois com alguns passos para dentro não enxergávamos nem a parte de fora iluminada, como se uma parede tivesse crescido atrás de nós. Mas algo mudou no momento em que entramos. A conexão com o Olho se intensificou, eletrificando minhas veias, seu poder me chamava como se estivéssemos amarrados juntos. Uma corda que me dizia para onde ir.

— Posso senti-lo, o Olho — disse enquanto acendia uma bola de luz também.

Meus olhos tentavam se adaptar à escuridão, mesmo com as luzes, ainda era difícil ver qualquer coisa.

— Odeio esse lugar — Auryn sussurrou.

Eu não tive nem tempo de absorver as palavras antes que um grito ensurdecedor tomasse meus ouvidos. Ao meu lado, Liam ergueu a espada e cortou uma criatura escura no meio. Sangue espirrou para todos os lados. Já estávamos todos em posição de ataque quando Auryn iluminou a caverna inteira com seu poder, e a visão foi horrível. Nas paredes, no teto. Centenas de criaturas com rostos pálidos e corpos escuros se mexiam uns sobre os outros, chiavam para a luz como se fosse uma ameaça.

— Calynn, — Liam disse com voz falhando — Pode guiar o caminho.

E eu não esperei para aquelas criaturas declararem o início da luta quando meus pés se aceleraram pelas pedras, seguindo aquela linha. Todos corríamos e éramos todos rápidos, mas eles também eram e eram bem mais numerosos. Na nossa frente, mais centenas de corpos se acumulavam até que eu e Oliver os empurramos para os lados com o ar. Uma onda de calor, criada por Octavia, veio atrás de nós e, em alguns segundos, duas paredes de chamas se ergueram, arrancando gritos daqueles monstros. Um cheiro insuportável tomou conta do lugar e, ainda assim, muitos ainda se aproximavam, o corpo em chamas parecia não ser suficiente para detê-los.

Minhas pernas queimavam, mas eu não parava, não podia parar. Milhares de criaturas surgiam de todos os cantos e se parássemos para lutar, jamais sairíamos daquele lugar. Eu virava em corredores que nem sabia que existiam, sem nem saber se tinha alguma armadilha, por mais que esses monstros pareciam defesa o suficiente. Oliver mandava o ar materializado como uma lâmina grande e mortal, cortando qualquer vida à nossa frente, enquanto eu os tirava do caminho, focada em não perder aquele laço. Virei um último corredor à nossa frente e era uma beco sem saída. Meu coração parou, mas eu podia sentir, o Olho estava lá, atrás da parede. Não podia ter errado, seu poder era forte demais, ele estava lá.

Coroa de CinzasWhere stories live. Discover now