Capítulo 16. Lembranças de Kaphi

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No passado...

Amélia corria às margens do pequeno riacho próximo de sua casa, um homem estava correndo atrás dela dominado por seus desejos lascivos, ele não andava em linha reta estava alterado pela bebida.

A jovem já não tinha mais fôlego para correr quando avistou a cerca de madeira feita por seus irmãos correu com o resto de energia que lhe sobrava. Ao longe ela avistou seu irmão Pedro que cuidava do rebanho, seus olhos encheram de lágrimas.

— Pedro — Amélia gritava, seu rosto estava molhado de suor e lágrimas.

Pedro estava distraído mas ouviu os gritos desesperados de Amélia, ele correu em direção a ela, a menina estava com o rosto molhado — é ele, está atrás de mim.

Amélia passou para o outro lado da cerca que dividia a propriedade de seu pai, Pedro passou por ela e foi atrás daquele homem asqueroso, ele procurou mas já não o encontrou.

Quando Amélia fez doze anos, o inferno começou em sua vida, um homem nobre de seu vilarejo começou a persegui-la. Alguns tinham pena da menina mas não tomavam nenhuma atitude. Outros sempre diziam que ele apenas não estava em seu juízo perfeito, mas todos faziam vista grossa ao fato daquele homem seguir a jovem e por muitas vezes tentar agarrá-la à força.

Felipe correu ao encontro de Amélia, ele tinha ouvido os gritos de sua irmã, provavelmente todos ao raio de dez quilômetros ouviram os gritos dela. — Venha minha irmã — Felipe colocou o braço em volta de Amélia, a moça nem sequer conseguia chorar tamanho ódio que sentia, se sentia impotente.

Eles chegaram na humilde casa, Arthur estava cortando lenha para o lado de fora, ele observou Amélia, seus cabelos estavam bagunçados e seus olhos encheram de lágrimas assim que avistou seu irmão.

— O que houve? — Arthur largou o machado e as toras de madeira, ele via que sua irmã parecia cansada, estava com a respiração ofegante, seu corpo se encheu de ódio, Amélia apenas o abraçou.

Arthur estava com ódio daquele homem, ver Amélia chorando daquela forma partiu seu coração. Ele acompanhou sua irmã para dentro, Felipe foi atrás de Pedro. Ela se sentou na cadeira da cozinha. Arthur segurou sua mão, ele colocou os cabelos de Amélia atrás da orelha

— Amélia, você não deve sair desacompanhada — A voz de Arthur demonstra genuína preocupação.

— Ele me atacou e a culpa é minha? — Amélia pergunta indignada.

— Não, jamais minha irmã. Só que você sabe que a vida não é justa.

Amélia sabia deste fato, o nobre Eurípedes dono das terras mais rentáveis do vilarejo de Atar. No passado ele foi perdidamente apaixonado por Lúcia. Quando Amélia fez 12 anos, o homem começou a persegui-la em razão da semelhança que tinha com sua mãe.

Ele fez diversas propostas de casamento a Amélia, enviava a família ouro, prata e cobre, tudo era devolvido por Laerte. O homem nunca superou o fato de Lúcia ter escolhido um simples camponês em vez de um nobre.

Após todas as recusas da família de Amélia, Eurípedes se tornou violento, passou a perseguir e tentou agarrá-la à força por diversas vezes, em uma das vezes Amélia foi salva por Arthur.

Os comentários maldosos se instauraram no vilarejo, muitas beatas diziam que Amélia tinha enfeitiçado Eurípedes e desejava arrancar todo o dinheiro dele. Diziam que ela seduziu o homem e depois fingiu inocente.

Durante o jantar, após o ataque que Amélia sofreu, Laerte resolveu que eles deveriam partir, por um mercador que estava no cais ele ouviu falar de um reino ao norte uma terra infertil, esse reino era conhecido como Navie e diziam que era um lugar amaldiçoado onde o que se plantava não se colhia.

Marcelo e Arthur começaram os preparativos para a viagem, pelos cálculos eles ficariam pouco mais de trinta e cinco dias em alto mar, Felipe arrumou um barco, uma grande caravela que foi vendida pois não dava mais para ser utilizada, eles arrumaram os buracos que tinha na carcaça, Amélia consertou as velas.

Laerte junto com Pedro e Leopoldo começaram a estocar grande quantidade de alimentos, sacas de grãos e barris com água.

Amélia cuidou de desidratar alimentos para eles levarem também, além de muitas ervas para chá, eles teriam uma longa viagem e o frio era grande em alto mar.

Havia passado um bom tempo que a família de Amélia tinha começado seu plano de fugir, a jovem ficava trancada dentro de casa todo tempo e nos dias que Eurípides bebia acabava na porta da residência de sua família gritando.

— Papai, eu não concordo com essa ideia.

Amélia cruzou seus braços, ela não gostava nenhum pouco da ideia de seu pai e seus irmãos.

Segundo as regras de Kaphi a moça deve receber um dote visto que perderá a dama da família, e mulheres eram responsáveis por todas as atividades domésticas.

— Eu lamento por isso, minha filha — Laerte suspirou frustrado com ele mesmo.

Felipe havia negociado um dote para Amélia, sem o pai e seus irmãos. O rapaz costumava ser mais rápido que deveria em certas ocasiões. Eurípedes aceitou prontamente a proposta de Felipe, vinte mil moedas de ouro, prata e cobre, além de doze armas de fogo que o nobre havia importado de uma região distante.

No final, Felipe convenceu a todos já que precisam de dinheiro nas novas terras. Durante a noite, uma semana antes do casamento de Amélia eles colocaram fogo em toda a residência, nos pastos e plantações. 

Eles entraram na grande embarcação e foram embora, a viagem era difícil por ser poucas pessoas para cuidar do grande Navio e mexer nas velas.

Amélia olhava Kaphi ficar ao longe, seus olhos cheios de lágrimas por deixar sua terra Natal

— Papai, fizemos algo ruim?

— Só estamos tentando ter paz, meu anjo. Deus irá nos perdoar por isso.

O pai de Amélia colocou o braço em volta do ombro da filha e eles foram em busca da paz até o momento desconhecida.


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Reino de NavieWhere stories live. Discover now